São 37 empreendimentos em Portugal e no Brasil, país onde o Vila Galé desembarcou oficialmente há exatos 20 anos. Atualmente, o grupo português tem outras iniciativas em curso por aqui e é sobre isso que conversamos com o convidado de hoje (12) na sessão. Fundador da rede lusitana, Jorge Rebelo de Almeida recebeu a reportagem do Hotelier News no Vila Galé Paulista, aberto ano passado, para um longo e descontraído papo.

“Apesar da complexidade tributária do Brasil, acreditamos no mercado e temos muitas coisas em curso, como criar um hotel escola por aqui. Já tivemos conversas com o governo da Bahia neste sentido”, revela Almeida. “Hoje, no Brasil, temos 10 empreendimentos em operação e outro já em construção, na Praia do Carro Quebrado, em Alagoas”, acrescenta o executivo, destacando o projeto anunciado ano passado e orçado em R$ 150 milhões.

Almeida fundou o grupo hoteleiro português em 1986. A parte curiosa da história é que ele é advogado de formação. Agora, como um profissional do Direito foi parar na hotelaria? “Tirei meu curso de Direito ao mesmo tempo em que trabalhava no Ministério das Obras Públicas. Estudava, mas ganhei gosto pelas obras e projetos e isso me levou para a hotelaria, pois curtia também o conceito dos hotéis”, relembra.

“A certa altura, no entanto, só trabalhar com papéis como a advocacia prevê já me cansava. E, veja, é muito agradável chegar a lugar qualquer, gerar riqueza e desenvolvimento. Veja Cumbuco, ali não havia nada”, comenta Almeida, referindo-se ao resort do Vila Galé no Ceará, próximo a Fortaleza. “Então, chegamos, fizemos um hotel, geramos empregos e desenvolvimento. Hoje, o resort é uma referência em todo estado. Isso me dá muito prazer e orgulho.” Confira abaixo o restante da entrevista!

Três perguntas para: Jorge Rebelo de Almeida

Hotelier News: Já há alguns anos, grandes redes internacionais têm implementado uma estratégia de desinvestimento, desfazendo-se de ativos para reforçar o caixa. Redes portuguesas, como o Vila Galé, ainda mantêm um modelo tradicional, construindo e operando os empreendimentos. Por que?

Jorge Rebelo de Almeida: A hotelaria tem dois negócios em um: o primeiro é o imobiliário, que prevê a construção do projeto, a posterior propriedade do ativo e, supostamente, a rentabilidade que esse investimento rende. Há ainda, depois, a gestão dos hotéis. Há 20 anos, quando chegamos ao Brasil, os governadores daqui viviam atrás das redes internacionais e eu dizia para eles: vocês estão perdendo tempo, porque essas empresas não vão colocar um tostão aqui. Se arrumarem um fundo de investimento para eles virem juntos, aí sim. Esses fundos podem, de fato, comprar ativos no Brasil e entregar para essas cadeias hoteleiras internacionais. Em Portugal, por exemplo, há poucas redes que oferecem apenas contratos de gestão. Lá, o desenvolvimento do turismo não foi feito pelas grandes redes internacionais, mas pelas empresas portuguesas, como nós e o Pestana. Portanto, tivemos que investir para que o setor crescesse, pois, do contrário, sem empresários locais colocando dinheiro, Portugal ficaria para trás. Então, no nosso caso, todos nossos hotéis portugueses são nossos, embora trabalhemos com gestão aqui no Brasil.

HN: Então, neste modelo, a conta fecha para o Vila Galé, mesmo tendo que construir e operar?

JRA: A conta fecha, claro, embora atualmente, para continuarmos a crescer, estejamos abertos à possibilidade de expandir por meio de contratos de gestão, tanto no Brasil, quanto em Portugal. Hoje, por aqui, temos dois empreendimentos operados neste modelo, ambos da Funcef (Fundação dos Economiários Federais), que são o Vila Galé Eco Resort Angra (RJ) e o Vila Galé Eco Resort do Cabo (PE), que administramos há 12 anos. São duas propriedades que investimos muito e hoje são belíssimos produtos. Agora, ao mesmo tempo, o Vila Galé Touros é investimento totalmente nosso. Temos ainda um projeto imobiliário muito grande no Ceará, chamado VG Sun by Vila Galé, que era para ser um hotel, mas resolvemos vender os apartamentos. Tínhamos 169 unidades para comercializar e, em plena pandemia, vendemos tudo em quatro meses. Ao mesmo tempo, dentro desse condomínio de lotes de casa, vamos construir um hotel da nossa marca Vila Galé Collection, mais sofisticado e voltado para clientes mais exclusivos, com 80 apartamentos. Agora, somos hoteleiros puros e, de fato, é difícil misturar as duas coisas. Quando você vai fazer administração hoteleira em um condomínio com investidores pulverizados… realmente é muito difícil. Já tivemos oportunidades aqui no Brasil nesse modelo, mas avisei que não tínhamos interesse. Gostamos mesmo de construir, fazer projeto, imaginar o hotel… Desde o princípio, da escolha do terreno à concepção e arquitetura da propriedade. Isso tudo mesmo sendo advogado.

HN: Agora, nessa estratégia de expansão, o que será prioridade?

JRA: Temos a possibilidade de expandir por meio de contratos de administração – e isso faz parte dos planos. No momento, no entanto, estamos mais focados em projetos próprios. Na parte de gestão hoteleira, só vamos se forem produtos que se enquadram em nosso perfil. Não somos como a Accor, por exemplo, que tem muitos segmentos de produtos. Hoje, no Brasil, temos 10 empreendimentos em operação e outro já em construção, na Praia do Carro Quebrado, em Alagoas. Embora considere importante o país ter resorts com um grande parque aquático, isso não é nosso foco. Ainda assim, não descartamos resorts fora da praia. Apesar da complexidade tributária do Brasil, acreditamos no mercado e temos muitas coisas em curso, como criar um hotel escola por aqui. Já tivemos conversas com o governo da Bahia neste sentido. Acredito que se trata de um tema muito importante, porque não tenho dúvidas de que o Brasil não pode deixar de apostar no turismo como um dos pilares do desenvolvimento econômico.

(*) Crédito da foto: Vinicius Medeiros/Hotelier News