Apesar de não ter nascido no Brasil, o português João Francisco Rodrigues possui ampla experiência no mercado hoteleiro tupiniquim. Em terras brasileiras desde 1982, nos últimos 30 anos o executivo atuou em grandes redes e participou da consolidação de importantes empreendimentos do setor. Hoje, como consultor, ele fala ao Hotelier News sobre suas expectativas para a retomada.

Profissional multidisciplinar, apaixonado por pescaria, literatura e futebol, chegou atraído pelas oportunidades e eventos largamente difundidos na Europa, como Carnaval e Réveillon. Graduado em Hotelaria pela Estácio de Sá, pós-graduado em Gestão Empresarial pela FGV (Fundação Getulio Vargas), Rodrigues ainda ostenta MBA Executivo em Marketing pela IBMEC e mestrado em Economia. Isso sem contar uma extensa lista de cursos nas áreas de Gastronomia, Marketing, Vendas, Gestão de Pessoas, Revenue Management entre outras.

João Francisco Rodrigues iniciou sua trajetória na hotelaria em propriedades de pequeno porte, onde atuou em posições de caixa, garçom e na cozinha. “Já com alguma experiência, consegui uma vaga de assistente de A&B (Alimentos & Bebidas) no Hotel Glória e, posteriormente, trabalhei como sommelier e maitre executivo no Rio Palace, até retornar ao Glória como gerente de A&B”, relembra.

Mais tarde, ocupou o cargo de gerente geral no Rio Othon Palace, Naoum Brasília e Bourbon Hotéis & Resorts. Em seu currículo, destaque para sua passagem pelo Mavsa Resort, como diretor de Expansão Hoteleira e implementação do Malai Manso Resort, como diretor executivo.

Três perguntas para: João Francisco Rodrigues

Hotelier News: Com sua experiência de mercado, como você acha que ficarão os projetos de expansão? Quais categorias têm maior potencial de se recuperação?

João Francisco: Com a pandemia, grande parte dos empreendimentos usaram suas reservas para capital de giro, que raramente suporta três meses de inatividade. O que se verificou foram mais de cinco meses fechados, mesmo com as medidas governamentais, que não foram suficiente para evitar o caos financeiro da maioria da indústria hoteleira, pois os financiamentos ofertados exigiam garantias que na maioria dos casos eram inviáveis, assim como as próprias taxas de juros, por isso os empreendimentos ficaram descapitalizados.

Com este cenário, mesmo com os hotéis reabrindo com as restrições de distanciamento, 50% de disponibilidade máxima e protocolos sanitários rígidos, os empreendimentos ainda terão mais alguns meses de deficiência de caixa. Por isso, creio que os projetos de expansão deverão ficar estagnados por, no mínimo, mais um ano. Principalmente os que dependem exclusivamente das receitas. Também creio que haverá uma desacelaração acentuada de novos empreendimentos previstos para os próximos dois anos. As propriedades que têm maior potencial de recuperação serão os resorts que atuam com pelo menos 50% do seu mix em lazer e que estejam localizados nas regiões primárias das grandes capitais. Entretanto, aqueles com forte apelo em eventos ainda sofrerão bastante, mesmo com a tendência de ações híbridas enquanto não houver vacina.

HN: Como consultor, quais os principais desafios que você enxerga para o mercado a médio e longo prazo?

JF: Os principais desafios para o mercado a médio e longo prazo são imensos. Os empreendimentos business, que na maioria são condor hotéis dentro das cidades com mais de 100 mil habitantes, terão um grande desafio para o novo normal, pois os investidores habituados a uma rentabilidade de pelo menos 0,5%, agora terão que na maioria dos meses fazer aportes para a manutenção dos padrões de qualidade dos empreendimentos, além da retração econômica.

Os empreendimentos independentes terão grandes desafios, principalmente no equacionamento do fluxo de caixa e adaptação ao novo normal de redução de disponibilidade, custos de aplicação dos protocolos, etc. Aqueles com com mix de eventos acima de 50% e de grandes eventos levarão mais tempo para se adequarem,pois tem custos elevados e a demanda bastante retraída para os próximos meses.

De um modo geral todos os hotéis levarão algum tempo para se reerguerem economicamente e financeiramente à excepção dos resorts focados em lazer e preferencialmente dentro das regiões primárias das grandes capitais com pensão completa e all inclusive. Os gestores precisam conseguir equacionar as despesas, principalmente as de pessoal, aproveitando todas as vantagens da nova legislação trabalhista, pois as receitas estarão condicionadas a 50% da disponibilidade.

HN: Na sua visão, qual será o legado da pandemia? O que a hotelaria brasileira aprendeu de mais valioso?

JF: Precisamos ser mais humanos e menos materialistas e nada é para sempre, temos que nos reinventar constantemente. O hóspede não é um mero cliente, é um parceiro de todas as horas. Mesmo na sua ausência precisamos manter o relacionamento e envolvimento nas demandas do hotel, pois muitas vezes da vezes é ele que nos traz as mais variadas soluções para a melhor satisfação de sua hospedagem, como por exemplo, na pandemia muitos clientes estão fiscalizando os outros sobre o uso de máscaras e distanciamento.

O grande legado na hotelaria é a cooperação dos empreendimentos, mesmos os grandes concorrentes e as associações. Todos se uniram em prol das soluções conjuntas, pois os protocolos na maioria deles foram fruto dessa colaboração. Além da junção das iniciativas pública e privada (ministérios, conselhos, associações, etc) na busca de soluções mais viáveis e medidas para salvar o setor.

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal