Gustavo Pires é apaixonado por futebol e corintiano roxo. Além disso, também é fã de esportes como basquete e Fórmula 1. Por isso, o presidente da SPTuris (São Paulo Turismo), esteve em Mônaco recentemente, onde assinou contrato para realização, em 2023, de uma etapa do Mundial de Fórmula E – corrida de carros elétricos – em São Paulo.

Pires é formado em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e possui mestrado em Gestão e Políticas Públicas pela Fundação Getulio Vargas. Atuou no Governo do Estado de São Paulo nas secretarias de Cultura, Energia e Governo entre 2012 e 2016. No ano seguinte, passou a assessorar Bruno Covas, então vice-prefeito de São Paulo e, de abril de 2018 a agosto de 2021, foi o secretário mais jovem da Prefeitura de São Paulo.

Assumiu, há um ano, a chefia do gabinete da SPTuris e, em fevereiro deste ano, chegou à presidência da entidade. Convidado de hoje (16) do Hotelier News em mais uma sessão do Três perguntas para, Pires fala sobre os rumos do turismo de São Paulo. Confira.

Três perguntas para: Gustavo Pires

Hotelier News: São Paulo é uma cidade de negócios e, para muitos profissionais da indústria de viagens, que explora mal seu potencial de lazer, dado sua diversidade gastronômica e de atrativos culturais. O que você pensa dessa análise?

Gustavo Pires: Felizmente, São Paulo é reconhecida como a capital dos negócios. Trata-se de um segmento importante e lucrativo, que não depende de temporada e sofre menos oscilação. Em paralelo, cria oportunidades que podem ser mais bem exploradas pelo setor privado. Ao vir para uma reunião de negócios ou uma feira comercial, aquele visitante já pagou a maior parte dos custos da viagem – como passagem e hospedagem – e já está na cidade.

Nos últimos anos, São Paulo tem sido cada vez mais associada também ao lazer e entretenimento, tanto que grandes eventos como shows, festivais de música, campeonatos esportivos estão de olho na capital paulista. E os que já acontecem atraem muita gente de fora.

Apenas para citar dois exemplos, temos o Festival Lollapalooza e o Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1, que atraem milhares de turistas do interior paulista e de outros estados, além de estrangeiros.

Números recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda revelaram que, pelo perfil das viagens, 14,6% foram profissionais e 85,4% foram pessoais, o que reforça o lazer como importante para o setor e a retomada.

A oferta gastronômica paulistana é incomparável, já que é possível encontrar centenas de restaurantes de mais de 50 tipos de cozinha mundial. Recentemente, a Casa do Porco foi eleita o 7º melhor restaurante do mundo segundo o ranking “The World’s 50 Best Restaurants”, que é quase o Oscar da gastronomia. E isso, claro, traz muita visibilidade para o Brasil e para São Paulo.

Sem contar nos inúmeros atrativos culturais e opções para visitar museus, assistir peças de teatro, acompanhar circuitos de festivais de cinema, shows de música, e uma vida noturna bastante agitada, com muitas baladas e bares.

Por isso, a percepção desses profissionais não está totalmente errada, mas a Prefeitura de São Paulo e a São Paulo Turismo têm trabalhado para divulgar o lado “divertido” da cidade que não é apenas de negócios, mas também para lazer.

HN: Ainda na mesma pergunta, como mudar essa chave? Enquanto uma empresa pública, o que a SPTuris pode (e vai) fazer em relação a isso?

GP: Justamente pensando desse panorama que a Prefeitura, por meio da SPTuris, divulgou no início do ano o Calendário de Eventos Estratégicos de 2022, com uma relação de grandes acontecimentos culturais, artísticos e esportivos da cidade, as principais datas comemorativas que terão apoio do município, além de eventos que já são realizados tradicionalmente todos os anos, nos quais faremos ações especiais.

Durante a retomada dos eventos, o primeiro deles foi o já citado Festival Lollapalooza Brasil, realizado no final de março no Autódromo de Interlagos, e atuamos em parceria com a organização promovendo materiais da cidade, ações nas redes sociais e uma unidade da Central de Informação Turística móvel (uma van) para divulgar atrações culturais e informações da cidade.

Continuamos com esse trabalho junto com a organização da Maratona Internacional de São Paulo, realizada em abril, e depois o Carnaval no Sambódromo, a Virada Cultural, a Parada do Orgulho LGBT+ e Bienal Internacional do Livro, para citar apenas os mais famosos. E até o fim do ano ainda teremos a Jornada do Patrimônio, SP Oktoberfest, Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1 e outros.

Mostra o esforço da cidade para promover e oferecer temas para diversos públicos, sejam os próprios moradores, ou quem vem a negócios e quer aproveitar mais atrações da cidade.

Indo aos exemplos, estamos colaborando para a realização do Primavera Sound, festival de música que acontecerá em novembro com vários artistas nacionais e internacionais. E formalizamos Fórmula E na cidade, categoria de automobilismo com veículos elétricos que tem ganhado grande quantidade de fãs pelo mundo todo.

HN: A pandemia parece caminhar para seu final. Ou pelo menos é o que a demanda de turismo (em franca recuperação) vem mostrando. Agora, na sua avaliação, essa maior procura por viagens é sustentável? Sim, não e por que?

GP: Sim, porque durante a pandemia as pessoas perceberam o quanto é importante valorizar os destinos mais próximos, prestigiar lugares que muitas vezes só conhecemos pela TV e que acabavam ficando em segundo plano. Não se trata de expectativa ou tendência: o consumo de proximidade é uma das realidades consolidadas do setor.

Isso vale tanto para viagens de brasileiros de outros estados, de cidades próximas ou os próprios moradores conhecerem a capital. E São Paulo isso é muito visível, pois muita gente nunca visitou alguns parques ou museus da cidade, que sempre têm novidades.

O contato com a natureza também ganhou relevância. Em São Paulo temos dois Polos de Ecoturismo, de Parelheiros, no extremo sul, e na Cantareira, região norte. Duas áreas enormes e convidativas ao lazer ao ar livre. Em plena metrópole temos tudo isso, territórios com Mata Atlântica preservada, rios limpos, cachoeiras, animais silvestres e atrativos culturais tradicionais, como aldeias indígenas.

Ambas têm potencial de atração de turistas de fora da cidade e visitantes estrangeiros. São trilhas, esportes de aventura e náuticos, por exemplo.

São Paulo é um destino que tem capacidade da rede hoteleira suficiente para atender o aumento na demanda. Nosso Observatório de Turismo e Eventos faz o monitoramento do setor e realmente temos observado melhora na taxa de ocupação nos hotéis, que teve aumento de 75% no mês de junho desse ano, se comparado ao mesmo mês de 2021.

Ainda temos muitos desafios. A SPTuris seguirá com foco na retomada de eventos e viagens, no incentivo às atrações inéditas que renovem a atratividade da cidade. A empresa tem papel importante na realização de projetos em parceria com a Secretaria Municipal de Turismo, e na produção e organização da infraestrutura de eventos públicos.

(*) Crédito da foto: Daniel Deák/SPTuris