Natural de São Paulo, mas mineiro de coração, Fernando Fonseca nasceu na capital paulista, mas cresceu em Belo Horizonte. Jogador de pôquer e viajante nas horas vagas, o diretor executivo da Falcon Hotéis também é adepto de bons livros e filmes.

Formado em Engenharia de Produção pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), com pós-graduação em Business and Finance pela London School Of Business and Finance, antes de atuar no setor hoteleiro, o profissional foi trainee da Ambev e colaborador da Direcional Engenharia — onde teve seu primeiro contato com o segmento.

“Saí da empresa para me dedicar ao setor, primeiro como consultor, mas logo em seguida fundei a Falcon Hotéis”, conta Fonseca.

Convidado desta sexta-feira (25) para a série Três perguntas para, o executivo fala sobre o papel das franquias na retomada, desafios para 2022 e mais. Confira a entrevsta na íntegra a seguir.

Três perguntas para: Fernando Fonseca

Hotelier News: A Falcon Hotéis atua no mercado no modelo de franquias de bandeiras Accor. Com as mudanças trazidas pela pandemia, qual será a relevância desse tipo de contrato nos próximos anos?

Fernando Fonseca: A pandemia acelerou uma tendência que já existia, que é a especialização na cadeia produtiva hoteleira. Há 30 anos, em um empreendimento você tinha o mesmo player – o dono do hotel ou sua equipe – realizando todas as atividades, desde a criação de uma marca própria, passando pela marcação das reservas (feitas por telefone, anotando em caderninho), todo o atendimento, até a pesquisa de satisfação no balcão de check-out. Atualmente, cada etapa ficou muito especializada, e você tem um player forte – muitas vezes internacional – para cada uma delas. Uma empresa é detentora das marcas (como a Accor), outra é especializada na distribuição (como as OTAs, Booking, Expedia, etc), outra cuida do marketing digital (como agências de produção de conteúdo), outras fornecem os sistemas operacionais (como a SAP, Oracle, TOTVS), outras prestam serviços acessórios (como Contabilidade e Jurídico), e algumas são especializadas na administração hoteleira, como a Falcon Hotéis. Como a cadeia da hotelaria se tornou muito complexa, ninguém consegue fazer todas as atividades bem, então as marcas estão se especializando cada vez mais. É por isso que o formato de franquia tem se destacado muito positivamente.

A pandemia trouxe muitos desafios e só os hotéis mais bem administrados conseguiram atravessá-la bem. Costumo dizer que o formato de franquia une o melhor de dois mundos: combina as marcas fortes e canais de distribuição abrangentes das franqueadoras, com a administração enxuta e eficiente dos franqueados especializados em operação hoteleira. Esse formato permitiu grande agilidade na tomada de decisão quando o mercado de hotelaria virou de cabeça para baixo em março de 2020, no qual as administradoras franqueadas tiveram autonomia e proximidade da operação para agir. Enquanto as donas das marcas trabalhavam os aspectos institucionais e ações macro para a rede (como o selo de Qualidade e Higiene All Safe, da Accor). Durante a retomada dos mercados, os consumidores acabaram dando preferência por se hospedarem em hotéis de marcas conhecidas, pois traziam uma maior sensação de segurança e higiene. Complementarmente, os hotéis com administrações mais eficientes estão se recuperando mais rápido dos efeitos da crise.

HN: Uma das estratégias da operadora durante a crise foi antecipar possíveis problemas. Em fase de retomada, quais empecilhos a Falcon pode prever no momento para 2022? E como a rede está se preparando para enfrentá-los?

FF: A habilidade de se antecipar problemas e tomar ações preventivas para mitigar riscos é muito útil em cenários de incertezas, como o que estamos vivendo atualmente. Mesmo com a aparente contração da pandemia, há sempre o risco de uma nova variante disparar uma nova onda de contágios. Mais imprevisível do que o comportamento do vírus são as decisões dos políticos e autoridades responsáveis por definir as ações práticas de combate a esse flagelo. Cada cidade e estado toma uma decisão diferente, e os especialistas não conseguem chegar a um consenso sobre diversos assuntos. Isso pode afetar muito a demanda hoteleira de um destino, então precisamos acompanhar de perto as resoluções de cada praça e tentar antecipar movimentos de restrição ou liberação das autoridades. Outro fator de incerteza é a guerra na Ucrânia, pois a mesma já está tendo efeito em diversas cadeias produtivas mundiais. Commodities, energia, produtos alimentícios, são alguns dos segmentos sendo impactados pelos efeitos do conflito. Isso pode causar uma repercussão positiva ou negativa para a cidade na qual o hotel está localizado. Então, é importante conhecer o perfil econômico das praças onde atuamos para antecipar esses efeitos nos nossos clientes e hóspedes da região. Por fim, temos outro grande fator de incerteza que são as eleições. O país está polarizado, então fica difícil antecipar para qual lado o pêndulo vai pesar. E os candidatos mais fortes apresentam plataformas econômicas muito diferentes entre si, logo, a economia do país pode ir para qualquer direção. Em um cenário como este, o que precisa ser feito é o “feijão com arroz”, que funciona em qualquer situação – cuidar do desenvolvimento do time, manter os custos operacionais baixos e aumentar as diárias! Se cumprir essas três frentes, a incerteza se torna um fator irrelevante na equação.

HN: Em 2021, a Falcon passou a operar o Thermas de Olímpia Resort by Mercure. O destino paulista possui uma oferta elevada de hospedagem e multipropriedade, então como o empreendimento busca se destacar frente à concorrência?

FF: Certamente, Olímpia é simultaneamente um dos destinos mais promissores e mais desafiadores do país. Promissor, pois se tornou uma grande estância turística, com pluralidade de atrações aos visitantes – parques aquáticos, parques temáticos, museu de cera, e em breve um bar gelado, outlet, e até aeroporto local. A cidade já possui um alto volume de visitantes diariamente, e ainda é um destino muito desconhecido no Brasil. Então, ainda possui um enorme potencial de crescimento! Contudo, é um destino desafiador para o segmento de hotelaria justamente pela atração de diversos novos empreendimentos hoteleiros e, principalmente, de multipropriedade — o que aumenta muito a oferta de leitos disponíveis e torna a concorrência mais acirrada. Além disso, os projetos de multipropriedade então competindo de forma agressiva (principalmente no quesito de valor das diárias médias), pois eles precisam atrair o máximo de hóspedes possível para vendê-los uma fração. E ainda existem novos projetos e empreendimentos em construção. Para nos destacarmos frente à concorrência, traçamos diversas ações para o Thermas de Olímpia Resorts By Mercure. Primeiramente, o hotel é adjacente ao Parque Thermas dos Laranjais (o maior parque aquático da América Latina), e temos uma portaria interna própria e exclusiva para nossos hóspedes. Depois, a marca e as plataformas de reservas Accor são em si um diferencial competitivo, pois atraem um volume maior de hóspedes e possibilitam um aumento no valor da diária média. Outro diferencial é o Programa ALL de fidelidade da rede, no qual os clientes fidelizados podem utilizar os pontos que acumularam para pagar suas diárias no hotel. Por fim, estamos investindo em melhorar o atendimento e a experiência do hóspede para tornar a estada conosco a mais agradável da cidade!

(*) Crédito da foto: Divulgação/Falcon Hotéis