A carioca Danielli Nobrega vem cumprindo um papel importante dentro da Intercity Hotels. Gerente Nacional de ESG (Environmental, social and corporate governance) e gerente geral do Intercity LED Águas Claras, a profissional encabeça as ações de cunho ambiental e social da rede. O tema, que tem se destacado não só nas agendas hoteleiras, mas da economia como um todo, ganhou ainda mais força com a chegada da pandemia.

Natural de Conservatória, conhecida como a cidade da seresta, Danielli tem 41 anos e é também mãe da Aimeé. Amante de bons livros, quebra-cabeças e de praticar nado e canoa havaiana, a profissional é formada em Turismo pela Universidade Veiga de Almeida e pós-graduada em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral.

“Nesta nova empreitada sustentável, estudei o assunto através de uma pós-graduação de Meio Ambiente e Sustentabilidade pela FGV, Economia Circular pela PUC-RS e um curso de Negócios Sustentáveis pela Harvard”, conta.

Consultora formada pelo Instituto Lixo Zero, sua trajetória na hotelaria começou na Accor, onde permaneceu por 10 anos na marca Sofitel no Rio de Janeiro e em São Paulo. Danielli atuou nas áreas de Governança, Eventos e Comercial, e tem passagens pelas redes Slaviero e Costão do Santinho, em Florianópolis.

Durante quatro anos, ela se manteve afastada do setor para colaborar com a Regus, empresa inglesa de administração de escritórios, mas retornou ao segmento para se juntar à equipe da Intercity Hotels. Recentemente, também foi multiplicadora da Escola para Resultados no curso 8 passos para tornar o seu hotel mais sustentável.

Três perguntas para: Danielli Nobrega

Hotelier News: A Intercity tem um case de sucesso quanto o assunto é ESG. Como foi o processo de construção das operações para tornar o Intercity LED Águas Claras um exemplo para o mercado?

Danielli Nobrega: O Intercity LED Águas Claras foi o projeto piloto da Intercity no que tange ESG e vem se destacando não só na hotelaria, mas no mercado como um todo, pela dimensão e amplitude das suas práticas.

O assunto ESG – em português ASG, Ambiental, Social e Governança – ainda é novo no mercado. Dentro dos três pilares, o hotel já desenvolveu mais de 18 projetos paralelos que visam uma melhor entrega financeira, ambiental e sustentável para nossos investidores, clientes e colaboradores.

Como toda a novidade, o hotel começou suas práticas pela necessidade de redução de seus custos operacionais, mas sempre com atenção de que os novos investimentos precisariam também conversar com as urgências ambientais que estamos passando.

Com isso, iniciamos os projetos na unidade pautados nos 17 ODS da ONU e na Agenda 2030. Dentro dos pilares Ambientais escolhemos a energia, a água e os resíduos. Entre os Sociais, a capacitação da comunidade e o empoderamento feminino, seguindo as diretrizes da ONU Mulheres. Já na área de Governança, mantemos a nossa política de transparência ativa, já conhecida pelos investidores da rede Intercity.

Começamos com gestão de recicláveis iniciando uma jornada Lixo Zero – fazendo separação de resíduos e 100% do nosso orgânico compostado. Estudamos todas as viabilidades e implementamos uma usina fotovoltaica – hoje temos a maior usina de condomínio no Brasil. Também focamos no reuso de águas negras, cinzas e pluviais – para redução do consumo de nossas águas externas.

HN: O ESG vem se destacando como tema central de muitas agendas dentro do setor hoteleiro. Quais os primeiros passos para um empreendimento ser mais benéfico em termos sociais e ambientais?

DN: Atualmente, o ESG já é o segundo tema mais discutido nos conselhos administrativos no mundo, ficando atrás apenas de gerenciamento de riscos. O mercado hoteleiro está apenas acompanhando a tendência mundial do assunto e é importante que ele tenha o seu protagonismo nesta história.

Acredito que o primeiro passo para um empreendimento iniciar o seu planejamento ESG é entender no âmbito ambiental quais são os seus grandes “problemas” operacionais que afetam o meio ambiente. Na grande maioria serão os mesmos apontados pela nossa unidade (energia, água e resíduos). Após essa identificação, estudar no mercado as novas tecnologias e opções que estão disponíveis para estruturar o plano. É importante ressaltar que os projetos são viáveis e podem ser de pequeno, médio e longo payback. O estudo deve ser feito individual e personalizado para cada operação.

Na questão social, o envolvimento com a comunidade deve ser medido por o que o empreendimento pode oferecer aos seus colaboradores e ao entorno, focando nos problemas da sociedade local e mundial. Afinal, fazemos parte de um mundo globalizado. O segredo da implantação de um negócio sustentável é certamente, acima de tudo, acreditar no processo e engajar todos no mesmo caminho.

HN: O mercado vem sofrendo mudanças como consequência da crise. Qual a relevância de uma agenda de ESG alinhada no momento de retomada?

DN: Uma relevância enorme no que se trata de redução de custo e perenidade do negócio – duas questões muito importantes depois de uma crise como esta que vivemos. Por isso, sabemos que os grandes incentivadores do conceito ESG, na prática, são os departamentos financeiros e de alta diretoria.

Ter uma operação mais enxuta e inteligente ficou cada vez mais latente depois da pandemia. A gestão de redução e equilíbrio de despesas na questão ambiental é bastante tangível e de fácil entendimento. A maioria dos projetos possuem metas de redução ambiental, e, na mesma proporção ou mais, diminuição do custo operacional.

Além disso, a pandemia fez com que a consciência de um mundo melhor viesse à tona com ênfase nos consumidores. A cobrança do mercado já está vindo forte em nossas negociações. As pesquisas mostram que os consumidores comprarão mais de empresas socialmente e ambientalmente responsáveis, ou seja, é o custo e a venda sendo colocados à prova. As unidades que estão se reerguendo e voltando ao mercado precisam voltar diferente, pois o mundo mudou. É necessário mudar e evoluir também nos assuntos de ESG.

(*) Crédito da foto: Divulgação