Convidado do Hotelier News na sessão de hoje (26), Daniel Matoso mostrou na entrevista uma visão do cenário atual do mercado bastante realista e precisa. E, convenhamos, nem todo mundo gosta de ser o portador de notícias ruins para o público. Fato é que a situação na hotelaria paulistana segue bastante delicada, o que impede lideranças como ele de fazer projeções fiéis do que está por vir.

“Somente com a vacinação em massa teremos uma solução mais definitiva e, assim, trazer mais hóspedes para nossos hotéis. Até o período que isso volte a ocorrer de forma rápida, positiva e consistente, continuaremos reprojetando nosso mês e ano comercial”, diz o executivo. Natural de Natal, ele está à frente Radisson Vila Olímpia desde fevereiro de 2020, empreendimento operado pela Atlantica Hotels International, rede em que atua há seis anos.

Leituras com foco em biografias e negócios são as prediletas de Matoso, que indica livros como Ponto de Inflexão, de Flávio Augusto, e Nada Easy, de Thales Gomes. “Estou lendo atualmente Manual do CEO, de Josh Kaufman”, acrescenta o executivo, que aproveitou a pandemia para começar um curso de Negócios e Bolsa de Valores.

Casado com uma hoteleira, Matoso atualmente mora em Campinas (SP) e, nas horas vagas, gosta de reunir amigos para um bom churrasco, além de viajar e frequentar lugares bem recomendados para jantares. “Meu gosto musical é eclético, indo do forró ao pagode”, afirma o executivo, que aproveita o trajeto entre sua casa e o trabalho para escutar podcasts. “Papo de Gestão, PrimoCast e Desobediência Produtiva são alguns do que costumo ouvir”, finaliza.

Três perguntas para: Daniel Matoso

Hotelier News: Na sua avaliação, o ano já acabou (comercialmente falando)? O que te faz pensar isso?

Daniel Matoso: Comercialmente, acho que o ano nem começou. Tivemos uma leve indicação de melhora no mês de fevereiro desse ano, com aumento de hospedagens do setor corporativo, o que gerou novamente uma mudança na projeção para os próximos meses. Daí veio a surpresa da segunda onda de contágio e, com ela, vieram as medidas restritivas das cidades e estados, que fez com que revisássemos novamente nosso planejamento. Somente com a vacinação em massa teremos uma solução mais definitiva e, assim, trazer mais hóspedes para nossos hotéis. Até o período que isso volte a ocorrer de forma rápida, positiva e consistente, continuaremos reprojetando nosso mês e ano comercial.

HN: Quais serão os principais desafios para o pós-pandemia em São Paulo?

DM: Sabemos que as pessoas precisam voltar a viajar. Para isso, a malha aérea precisa retomar, pessoas querem conhecer novos lugares, tirar férias, realizar eventos sociais, corporativos e voltar a fazer negócios. O desafio que enfrentaremos é a mudança na forma de se fazer negócios. Acredito que eles não serão realizados no mesmo formato que antes da pandemia. Boa parte dessa mudança no comportamento do consumidor veio para ficar, como reuniões à distância com uso da tecnologia, eventos híbridos, aplicativos para pedir alimentação delivery, plataformas de assinaturas digitais para contratos e documentos, operações paperless, web check in, chatbots para atendimentos, modelos de contratos de trabalhos intermitentes e terceirização de mão de obra, entre outros. O fato é que o mundo todo precisou se adaptar a essa nova realidade e, por isso, toda essa mudança com recursos tecnológicos veio para ficar, mas não irão substituir 100% as atividades presenciais. Será necessário ter as duas formas disponíveis. Nosso setor, em especial, foi muito afetado, mas fez com que nosso negócio aprendesse a trabalhar num modelo operacional mais leve e com seus custos mais distribuídos. A crise foi um consultor externo impiedoso. Aqueles negócios que conseguirem passar por essa crise terão absorvido um grande aprendizado para seu modelo de gestão. E, na medida que as atividades começarem a normalizar e voltarmos a números próximos do primeiro trimestre de 2019, conseguiremos entregar maiores margens de Ebitda.

HN: Staycation e room offices são soluções efetivas para se adaptar à realidade do mercado corporativo atual? Por que?

DM: Durante essa travessia da crise sanitária e econômica que todos nós estamos vivenciando, várias opções de captar outras receitas estão sendo exploradas. Staycation para o mercado corporativo, eu não acho que traga números relevantes, pois o cliente corporativo é um executivo que precisa de um espaço adequado à sua rotina como se ele estivesse trabalhando na empresa. O room office, contudo, foi uma alternativa que trouxe mais uma opção para aqueles que precisam trabalhar em ambientes com características de um escritório, facilitando a rotina para as famílias com ou sem filhos a se revezarem entre o home office e o room office.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Atlantica Hotels International