As mudanças de comportamento geracionais e estilos de vida alternativos vem ganhando espaço em diversos setores. Tais transformações, que já despontavam como tendências latentes antes da pandemia, ganharam ainda mais força. Conceitos como slow travel e nomadismo digital são debates recorrentes no turismo, que tem tudo para sofrer grandes metamorfoses. Em painel promovido pelo Tendências 360, especialistas apontam como essa nova geração vai consumir os produtos e serviços do setor.

Para abrir o debate, Bryan Steward, CEO da Hacker Paradise, apresentou o case da empresa que reúne nômades digitais para experiências ao redor do mundo. De acordo com o empresário, antes da pandemia, o mercado-alvo da companhia era de cerca de 15 milhões de profissionais que atuam em trabalho remoto. Com o fim do Covid-19, ele estima que esse número cresça para 150 milhões.

“O nomadismo digital para nós é muito interessante. Estamos nesse espaço há seis anos e temos feito viagens para trabalhadores remotos com programas que geralmente duram um mês. Nosso nicho de mercado tende a crescer entre 1% e 2% ao ano. Apesar da paralisação das viagens, a pandemia acelerou essa mudança’, explica o CEO.

Com clientes nos EUA e Europa, a Hacker Paradise facilita hospedagens, espaços de trabalho e ainda promove eventos. “O que realmente importa para nós é a comunidade. Entendemos as necessidades e interesses das pessoas. No Brasil, realizamos algumas viagens nos últimos anos para destinos como Florianópolis e Rio de Janeiro”, conta. Stewart.

Com moderação de Tricia Neves (Mapie), Luísa Ferreira (Janelas Abertas) e Rafael Peccin (Casa Hotéis) falaram sobre como o slow travel e o nomadismo estão transformando a indústria de viagens, a exemplo de empresas como a Hacker. “O slow travel surgiu do slow food. São pessoas que buscam viajar de forma mais orgânica, valorizando a qualidade e não a quantidade. Já os nômades trabalham sem base fixa, podendo passar temporadas de semanas e até meses”, diz Luísa.

Para a convidada, as pessoas que adotam o estilo de vida estão em busca de maior qualidade de vida, lidando com o tempo de forma não convencional. “São pessoas que querem escapar dessa obsessão por produtividade de fazer o máximo no menor tempo possível. Os nômades saíram do padrão de ter uma casa fixa e rotinas que para muitos são rígidas. É a liberdade por meio da revolução digital”, destaca Luísa.

tendências 360 - case

Bryan Stewart apresentou o case Hacker Paradise

Tendências 360: slow travel na hotelaria

Dentre os elos que compõem a cadeia turística, a hotelaria também deve sentir os impactos das mudanças. A Casa Hotéis, com empreendimentos voltados ao público de lazer, vem buscando oferecer experiências disruptivas de hospedagem que estejam alinhadas às novas demandas.

“Nosso trabalho há mais de 20 anos é lidar com esse tempo tão preciso das pessoas em momentos de lazer e que deve ser aproveitado ao máximo. Entendemos que cada etapa da jornada do hóspede dentro do hotel é preciosa e o segredo da hotelaria é criar experiências em detalhes. No Parador, optamos por quebrar a ideia de hospedagem comum. Começamos proibindo TVs nos quartos, mas os clientes estão exigentes, então é difícil proibir qualquer coisa”, comenta Rafael Peccin, diretor Comercial da rede.

Ele salienta que, principalmente em hotéis de alto padrão, como é o caso da Casa Hotéis, os hóspedes precisam sentir que têm o poder de decisão. “Adaptamos e colocamos uma TV na videoteca, mas os quartos ficaram sem para as pessoas se desconectarem”, acrescenta.

Mas será que os adeptos do slow travel estão prontos para slow services? Até que ponto o conceito entra 100% na experiência? Para Luísa, varia de pessoa para pessoa. “Depende muito da intenção da pessoa, se ela realmente está disposta a viver em um ritmo diferente. Acredito que quando existe essa consciência, existe mercado pra isso. Mas no geral, a maioria ainda quer ser atendido a qualquer custo. É preciso um ajuste na mentalidade”.

E o questionamento que fica é do Tendências 360: será que a mudança de perfil do consumidor criará uma nova modalidade de hospedagem? Os mochileiros foram os grandes catalisadores para a ascensão dos hostels no passado. Agora, teremos mais transformações à frente?

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito das fotos: reprodução da internet