Uma das grandes questões do nosso tempo é: como será o mundo pós-pandemia? Diante de tantas transformações causadas pela chegada do coronavírus, ainda restam muitas dúvidas sobre como o mundo se comportará quando tudo acabar. Dando continuidade nas palestras do Tendências 360, a keynote “Uma visão do mundo pós pandemia: a ciência presente no cotidiano para salvar vidas e combater as fake news” traz insights sobre o tema.

À frente do debate, Mellanie Fontes Dutra, biomédica, doutora em neurociência pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e atuante na Rede Análise Covid-19, equipe Halo da ONU, grupo InfoVid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina deu a visão científica do futuro.

Mesmo a vacinação ganhando corpo em diversos países do globo, ainda existem pessoas que querem escolher qual imunizante aplicar. Os chamados “sommeliers de vacina” já são figurinhas conhecidas no Brasil. Para a speaker, esse tipo de atitude não faz o menor sentido, visto que todas as vacinas aprovadas têm eficácia comprovada e são o segredo para retomarmos a normalidade.

“Reunimos muitos conhecimentos sobre as vacinas, mas existem muitas coisas que ainda não sabemos. É fato que a imunização reduz muito as transmissões, mas não totalmente. Por isso, é importante que os vacinados sigam utilizando máscara, ainda mais quando temos variantes como a Delta circulando. A escolha da vacina não faz sentido, principalmente neste momento. Só desta forma vamos atingir o mais rápido possível a imunidade coletiva que estamos buscando”, explica.

Dito isso, Mellina alerta que o coronavírus não vai desaparecer com a vacinação em massa, mas que ele pode ser controlado futuramente. “O vírus infecta outros animais também, mas não sabemos exatamente quais. E isso já nos mostra que teremos que conviver com ele. Mas não necessariamente sempre será uma pandemia. Temos que fazer da mesma forma que foi com a Influenza: monitorar, entender e prever quando os aumentos de casos podem acontecer”.

No caso de surtos futuros, a biomédica destaca a importância de testagem adequada, além de uma possível nova rodada de vacinação de populações mais vulneráveis. “São muitas as estratégias para lidar com o vírus, mas antes precisamos vencer a pandemia. Logo, é importante que as pessoas tomem a segunda dose e mantenham as medidas de enfrentamento”.

Tendências 360 -mellanie

Mellanie: escolher vacina não faz sentido

Tendências 360: fake news e políticas ambientais

Ela ainda ressalta que a ciência sai fortalecida da crise e que precisamos rever a forma de conviver com outras espécies como forma de prevenir surtos de novas doenças. “Quando invadimos espaços de vida selvagem, acabamos nos aproximando de espécies e destruindo outros habitats, o que além de danoso ao meio ambiente aumenta o risco de pessoas se exporem a agentes infecciosos”.

Além do Covid-19, cientistas vêm travando uma dura batalha contra as fake news. Um exército de desinformação marcou também os últimos meses, o que dificultou o trabalho de especialistas para conter as ondas de contágios.

“São muitas e diversas. É algo que será importante para que as pessoas estudem e fiquem atentas, pois vimos como as fake news podem impactar até mesmo políticas públicas. Existem estratégias e armadilhas mentais que podemos aderir nessa narrativa, deixando de lado evidências científicas”.

Mellanie explica que muitas pessoas adotam uma postura emocional e pouco racional em momentos de instabilidade, preferindo acreditar em soluções rápidas e mágicas para os problemas. “É tudo o que elas querem, especialmente em situações difíceis. É melhor abraçar algo que é sedutor e que nos dá exatamente aquilo que queremos ver”.

Para finalizar a palestra no Tendências 360, a convidada salienta que a sociedade precisa olhar para outros problemas urgentes, como as mudanças climáticas. “Temos outras questões batendo à nossa porta e com certeza uma hora vamos ter que olhar para isso de maneira mais direta. Precisamos criar estratégias, preparar a ciência e a tecnologia para encarar os problemas de amanhã. E isso só vai ser possível investindo em ciência”.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito da foto: reprodução da internet