Onda atrás de onda, a pandemia foi impactando o setor de viagens ao longo dos dois últimos anos, até que, finalmente, veio um alívio. No entanto, o período de retomada logo tornou-se turbulento, com o acelerado crescimento da inflação tomando conta de todo o globo. Com isso, surgem dúvidas: a Covid-19 deixou de ser o principal inimigo do turismo? Até onde a alta dos preços impactam as decisões dos consumidores? De acordo com o STR, o desejo de viajar aumentou, mas os valores podem frear essa demanda.

O Monitor de Recuperação de Mercado do STR revelou que cerca de dois terços dos mercados globais (e mais de 95% nos EUA) se encontram agora em posição de recuperação ou pico, atingindo RevPar indexado a 2019 em 80% ou acima. Não só isso, mas 40% dos mercados globais (e 70% dos EUA) já ultrapassaram os níveis do indicador no período pré-pandemia.

Embora as pressões inflacionárias tornem as comparações com 2019 menos impressionantes, a forte demanda por viagens e a redução de restrições pavimentam a continuidade desse crescimento.

Por este motivo, o STR recentemente realizou uma pesquisa do consumidor, buscando entender melhor quanto o sentimento sobre viagens melhorou nos últimos meses, bem como avaliar o desejo por viagens em um conceito de crescente incerteza econômica e conflitos geopolíticos.

O olhar do consumidor

O levantamento, realizado em maio de 2022, mostrou que, em geral, as viagens continuam menos atraentes em comparação com os tempos pré-pandemia por conta da crise sanitária. Restrições duradouras, preocupações persistentes com o número de casos estão entre os principais fatores que influenciam as decisões de viagem em todo mundo.

A boa notícia é que essa influência está em constante decréscimo, visto que, em comparação com ondas recentes, houve aumento significativo nas opiniões dos consumidores sobre viagens. A propensão líquida por viagens, fruto da diferença entre aqueles que afirmaram ter maior probabilidade de viajar ou menor probabilidade no ambiente atual, foi de -4% para viagens domésticas e -31% para viagens internacionais em comparação com -20% e -56% , respectivamente, em fevereiro de 2022.

Mais de um terço dos consumidores revelaram estar mais entusiasmados em viajar atualmente do que jamais estiveram antes da pandemia. A propensão líquida geral para viajar foi de +29% para viagens domésticas e +27% para internacionais. Esses resultados foram amplamente comparáveis ​​com as ondas anteriores da pesquisa, embora tenham permanecido abaixo de fevereiro de 2021, época de melhoria na confiança do consumidor antes dos impactos da variante Delta.

STR - gráfico

Alta nos preços: mais gastos e menos consumidores

Considerando a alta inflacionária, viajantes esperam gastar mais em 2022 frente a períodos pré-pandêmicos. Entre os gastos, há maior expectativa de gastos principalmente em transporte, seguido por hospedagem e alimentação. Entretanto, os consumidores parecem menos propensos a aumentar compras de fim de ano e gastos com souvenirs.

Somando o impacto dos fatores globais no aumento dos custos de turismo com a demanda reprimida e crescente por viagens, muitos consumidores apresentam aceitação de preços mais altos e, portanto, aumento nos gastos. No entanto, até onde essa alta de preços é positiva para a indústria hoteleira enquanto a inflação continua crescendo rapidamente em todo o mundo, continua sendo uma questão para o setor.

Fatores como a pandemia, custo de vida crescente e cancelamento de viagens tiveram destaque como as principais barreiras para futuras viagens, sendo mencionadas por mais de 40% dos entrevistados. Ainda assim, os custos de viagem lideram a pesquisa, com 59% dos entrevistados reconhecendo que esta questão afetaria negativamente a decisão de viajar pelos próximos 12 meses.

Na avaliação do STR, o setor de viagens se encontra numa balança entre o aumento do desejo de viajar e os fatores globais que afetam o custo de vida dos consumidores. Embora os dados revelem maior disposição em pagar mais para viajar, à medida que os preços aumentam, os custos de viagem vão se tornando cada vez maiores, o que pode impedir a recuperação vista nos primeiros meses do ano.

(*) Crédito da foto: katyveldhorst/Pixabay

(**) Crédito do gráfico: Divulgação/STR