Grandes crises econômicas podem simbolizar a ruína para alguns e um leque de oportunidades para outros. Da mesma forma como a Crise de 2008 abriu espaço para empreendedores abocanharem novos negócios a preço de banana, esperava-se o mesmo agora na pandemia. Entretanto, as pechinchas que muitos investidores aguardavam acabaram não se confirmando. Ainda assim, para Sébastien Bazin, uma onda de consolidação, aquisições e fusões ainda está por vir. As informações são do Skift.

“No final do dia, sabemos que muitos dos pequenos provavelmente estão sofrendo”, disse o CEO da Accor, durante mesa-redonda virtual da International Hospitality Investment Conference, evento promovido pela New York University (NYU) esta semana. “Eles não estão fora de perigo ainda. Você vai ver como eles são frágeis”, complementou Bazin, em fala reproduzida pelo Skift em reportagem publicada hoje (9).

Bazin, assim como a maioria dos executivos de grandes empresas hoteleiras mundiais e analistas do setor, aponta as diferentes medidas de estímulo econômico implementadas por governos ao redor do planeta como a razão que impediu que muitas propriedades passassem de mãos. Além, é claro, de renegociações de dívidas com credores em função do aperto gerado pela pandemia.

Sébastien Bazin: consolidação

Com a proximidade do verão no Hemisfério Norte, a ajuda governamental que ajudou a manter muitos hotéis abertos deve minguar. Torna-se mais difícil, portanto, justificar o empurrãozinho do Estado a um setor que deve, pelo menos nessa alta temporada de verão, superar as taxas de ocupação de 2019.

Na China, Marriott International e Huazhu Hotels Group já registraram demanda mais alta de viagens de negócios em alguns meses deste ano do que em 2019. Ainda assim, obviamente, nem todo hotel vai voltar tão rápido. Os principais centros de negócios do mundo continuam atrasados em relação aos destinos de lazer. Durante a mesa-redonda, Bazin estimou que poderia levar de seis a nove meses para que essas oportunidades de crescimento potenciais surgissem.

A indústria hoteleira e especialistas do setor esperam que a maior parte do crescimento da demanda seja captada por grandes cadeias hoteleiras globais como Accor, Marriott, IHG (InterContinental Hotel Group), Hilton Worldwide e Hyatt Hotels, que têm amplo portfólio de marcas. “Acho que você continuará a ver algum nível de consolidação das empresas menores ao longo do tempo, porque a indústria está se consolidando para os maiores participantes”, acrescentou Keith Barr, CEO do IHG, durante o evento.

Grandes redes globais como Marriott, Hilton e IHG respondem por quase 70% do pipeline dos EUA, informou a Lodging Econometrics no mês passado. É provável que essa tendência continue em outras partes do mundo, à medida que essas marcas e outras buscam entrar em mercados com menos ênfase em branding.

A força das conversões

Muito crescimento decorre de conversões, um negócio em que o proprietário de um hotel existente muda de bandeira ou assume um contrato de marca pela primeira vez. Todos os CEOs de grandes empresas hoteleiras durante a pandemia citaram esse modelo como uma fonte importante de crescimento, enquanto o financiamento para a construção de hotéis é significativamente mais restrito do que o normal.

Pode-se pensar que há um limite para o sucesso que pode ser obtido com as conversões, dado o interesse de todas as grandes redes em focar nessa estratégia. Alguns podem pensar que esse modelo inevitavelmente se torna um jogo de soma zero, mas Hyatt vê muito caminho pela frente.

“Preste atenção ao fato de que muitas das conversões são de hotéis de pequenas redes, e não de grandes empresas, bem como de hotéis independentes que tiveram um momento muito difícil no ano passado para fazer face às despesas”, comentou Mark Hoplamazian, CEO da Hyatt, durante evento do Goldman Sachs Travel and Leisure, ontem (8). “Em parte, essa é a razão de tanta atividade em torno das conversões”, completou.

Um quarto do crescimento líquido de quartos do Hyatt no ano passado ocorreu por meio de conversões e esse ritmo continuou em 2021, acrescentou Hoplamazian. Um quarto das assinaturas de 360 ​​hotéis do IHG no ano passado também, enquanto 40% das inaugurações da Accor em 2020 vieram também da troca de bandeira.

Entretanto, essa lógica não é à prova de balas. A Accor perdeu US$ 2,4 bilhões no ano passado devido à exposição significativa de seu portfólio na Europa. Hyatt e IHG, por sua vez, registraram prejuízos de US$ 703 milhões e US$ 153 milhões, respectivamente.

Cada uma dessas empresas – e muitas outras – esperam que as taxas de conversão aumentem potencialmente ao longo de 2021o, à medida que operadoras em dificuldade procuram aproveitar alguns dos benefícios de uma marca maior, como plataformas de distribuição global, conscientização do cliente e programas de fidelidade. “Todos nós vimos o aumento nas conversões à medida que hotéis menores e independentes estão enfrentando dificuldades”, disse Barr. “A escala importa.”

(*) Crédito da foto: Divulgação/Accor