Os dias andam difíceis, o noticiário só piora e a tristeza nos consome, mas surge uma luz no fim do túnel – não em breve, mas em um futuro relativamente próximo. Apesar do cenário indicar semanas bem difíceis à frente, com elevação recorde do número de mortes e colapso do sistema de saúde, em junho já poderemos experimentar certa “normalidade” em nossas vidas. É o que aponta estudo elaborado pela Eurasia Group, consultoria norte-americana especializada em pesquisa de mercado. A análise leva em conta o ritmo da vacinação no país e, em um cenário possível traçado na pesquisa, em junho a vacina já teria sido distribuída (pelo menos uma dose) para toda parcela da população acima de 65 anos. A vida no “novo normal” viria daí, já que o maior risco de colapso do sistema de saúde ficaria distante, possibilitando uma reabertura mais clara da economia.

O estudo da Eurasia Group pondera que o fornecimento de vacinas no país deve crescer significativamente nos próximos meses, graças ao incremento da produção local conduzida pelo Instituto Butantã e Fiocruz e aos contratos fechados com Pfizer e Janssen. O acordo com a primeira prevê a entrega de 100 milhões de doses até o terceiro trimestre, sendo 13,51 milhões ainda no segundo trimestre. Já com a farmacêutica belga, estão previstas 38 milhões de unidades do imunizante (dose única) no último trimestre. Além disso, a empresa parte do princípio de que o Brasil tem uma infraestrutura eficiente de vacinação, montada há décadas e com competência testada e aprovada.

A partir desse contexto, a Eurasia Group traça três cenários:


  • Otimista: Butantan e Fiocruz continuam produzindo as vacinas conforme o planejado, com a oferta sendo complementada pelos acordos firmados com Pfizer e Janssen. Com isso, o Ministério da Saúde conseguiria cumprir o cronograma estipulado e, até o final do ano, 160 milhões de adultos poderiam estar vacinados, ou 75% da população até 65 anos. Esse percentual, aliás, é o que a consultoria norte-americana considera como divisor de águas. Para a empresa, esse panorama possibilitaria cidades e estados baixarem a guarda sobre medidas de isolamento social mais restritivas, pois certamente o sistema de saúde estaria menos impactado.


  • Pior cenário: a produção do Butantan cai para 80% do projetado, Fiocruz fabrica apenas 50% do imaginado e Pfizer não entrega nenhuma dose neste primeiro semestre. Além disso, a Sputnik não é aprovada pela Anvisa.

Vacinação - infográfico Eurasia Group_1

Vacinação e o cenário conservador

Procurada pelo Hotelier News, a Eurasia disse que não poderia comentar o estudo. Segundo a consultoria, a pesquisa é privada, encomendada por um cliente e o conteúdo foi acidentalmente vazado. Embora um resumo tenha saído no Estadão, a reportagem teve acesso ao levantamento no final de semana.

Mesmo sem poder dar entrevista para detalhar o documento, a Eurasia ponderou que, desde a produção do estudo até hoje, as previsões epidemiológicas do IHME (Institute for Health Metrics and Evaluation), uma das bases de dados da pesquisa, foram atualizadas. Diante da piora nos indicadores, o cenário otimista já pode ser considerado improvável.

A empresa ainda explica que, em outros relatórios, “continuamos argumentando que as próximas quatro semanas serão dramáticas do ponto de vista epidemiológico. Elas também moldarão o restante do governo Bolsonaro e a trajetória de recuperação após o pico.”

A análise do Hotelier News dos números da pesquisa indicam que o cenário conservador tende a ser o mais provável e neste momento. No entanto, como ressalta a Eurasia, as quatro próximas semanas serão decisivas, visto que uma piora excessiva dos indicadores epidemiológicos podem gerar impactos nas decisões políticas dos três entes governamentais.

Certo é que, para todo turismo e hotelaria (e principalmente a de negócios e eventos), o ritmo de vacinação é essencial para a volta da normalidade. E, claro, isso significa a retomada das viagens em patamar crescente e estável. Essa visão, aliás, é compartilhada pelo FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). Já Pedro Cypriano, manager partner da HotelInvest, avalia que o ritmo de vacinação é até mais importante que dados macroeconômicos no momento.

“Hoje, o gatilho de intensificação de recuperação do turismo não é a economia, mas o controle da pandemia. Enquanto o número de novos casos e mortes pela Covid-19 for alto e os leitos dos hospitais estiverem cheios, não haverá recuperação, especialmente das viagens a negócios e eventos. Logo, qualquer oscilação em maior ou menor grau do PIB pouca diferença trará para o turismo nos próximos meses”, afirma Cypriano em entrevista recente ao Hotelier News.

A ver o que acontecerá nas próximas semanas no país. Repetição, em nível nacional, do que foi visto em Manaus trará consequências no ritmo de vacinação – e na hotelaria, pois mais medidas restritivas seriam tomadas. Abaixo números atualizados da vacinação no Brasil.


Vacinação - quadro de números_capa_Reuters

Vacinação no Brasil e no mundo

Total de vacinados: 13.562.176 pessoas (Mundo: 448.084.461)
Por 100 pessoas: 6,5
Percentual de vacinados (1 dose): 4,9%
Percentual de vacinados (2 doses): 1,6%

Líder entre total de vacinados: EUA (124.481.412)
Líder por 100 pessoas: Israel (110)
Líder percentual de vacinados (1 dose): 65% (Seychelles)
Líder percentual de vacinados (2 doses): Israel (51%)

Fonte: New York Times


(*) Crédito das fotos: Dado Ruvic/Reuters

(**) Crédito do infográfico: Eurasia Group