Até pelo grande volume de pessoas atuando nos hotéis, a hotelaria normalmente paga salários pouco atrativos. No geral, trabalha-se muito – incluindo finais de semana – e ganha-se uma remuneração baixa, o que gera um turnover elevado no setor. Com isso, uma diferença pequena no soldo ao fim do mês acaba sendo um fator preponderante para as constantes trocas no segmento. Agora, deveria realmente ser assim?

Não queremos influenciar a decisão de ninguém, afinal cada um sabe o calo que te aperta, mas, sim, poderia ser diferente. Para ir a fundo nessa discussão, a reportagem do Hotelier News conversou com Valeria Leal, professora de MBA e sócia fundadora da VLeal Gestão em Negócios. Para começar, ela deu um contexto de como funciona o mercado de trabalho no setor, o que ajuda a compreender melhor toda questão salarial.

Ela explica que, independentemente das competências, costuma haver bastante oferta de trabalhadores no setor, apesar dos desafios atuais. “Se o empregador acredita que há maior volume de candidatos, ele sente mais liberdade para empregar profissionais com valores de salários menores. Todavia, ele também pode se deparar com profissionais que não priorizam salário, mas qualidade de vida”, comenta.

Ainda assim, segundo Valéria, essa priorização pelo tamanho do salário difere entre cargos operacionais e executivos. “Embora o salário ainda seja importante, em especial para cargos operacionais, recentemente as prioridades transitaram para tamanho carga da horário, banco de horas e horas extras, bem como para qual tipo de trabalho e como o profissional pode realizar tal ocupação.”

Ela também aponta outro fator que contribui bastante para o intenso turnover no setor – e ele tem relação com o outro lado dessa relação. “Sim, tem muito hotel que barganha no salário para roubar profissionais do concorrente”, afirma Valéria. “Não só de salário, dado que outros benefícios também são muito valorizados, como planos odontológicos e seguros de saúde para toda a família, que costumam ter preços bastante elevados quando comprados individualmente”, exemplifica.

Plano de carreira

Após esse breve contexto sobre o elevado turnover na hotelaria, voltemos ao outro caminho possível. E, segundo a fundadora da VLeal Gestão, isso passa por buscar hotéis e redes hoteleiras que oferecem um plano de carreira e de salários. “São, portanto, organizações que garantem maior possibilidade de se movimentar e crescer dentro da empresa”, explica Valéria, que acrescenta:

Salário - fator para turnover _ Valéria Leal

Para Valéria, hotelaria pode oferecer caminho além do salário

“É, de fato, pensar mais no longo prazo, apostando em um plano de desenvolvimento e promessa de maior remuneração no futuro. Para o profissional mais estabelecido, por exemplo, um salário um pouco maior não é um fator tão relevante perto de um reconhecimento superior e maior possibilidade de benefícios indiretos”, continua.

Para quem deseja seguir esse rumo profissional, e indo além do ponto de vista técnico, Valéria acredita que é necessário avaliar questões mais interpessoais. “É importante olhar para dentro de si, avaliar as competências que precisa, e não só técnicas. Avalie as questões mais emocionais e capacidade de adaptação, entre outras”, destaca.

“Todos nós estamos bastante abalados pelos últimos anos. Ansiedade e depressão estão guardadinhos, e o gatilho pode vir a qualquer momento”, salienta Valéria. “Por este motivo, é ainda mais importante que o profissional avalie a cultura da empresa e as pessoas que trabalham nela. Mesmo que o trabalho seja presencial, a identificação com a empresa pode ser um enorme diferencial na vida e carreira do profissional”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Towfiqu barbhuiya/Unsplash

(**) Crédito da foto: Divulgação/VLeal Gestão