Já são 14 meses com o principal investimento da história da empresa com atividades paralisadas. Com a demanda de business travel reduzida, é o segmento de lazer que “segura as pontas” atualmente, algo impensável na trajetória da Royal Palm Hotels & Resorts nos últimos tempos. Mesmo em meio ao cenário desafiador, Antonio Dias mantém o otimismo. Para ele, mesmo que demore, o segmento Mice vai voltar aos patamares pré-pandemia e lotar novamente os salões do complexo Royal Palm Hall, inaugurado em 2018. A pergunta óbvia que fica é: como fica tudo até lá?

“Fizemos uma ampla reestruturação nos negócios do grupo. E, neste contexto, acho que somos até privilegiados. Difícil imaginar como outras empresas conseguiram atravessar essa crise”, afirma o diretor executivo da Royal Palm Hotels & Resorts, destacando que a família Dias negociou outros ativos para atravessar a crise com mais fôlego. “No ano passado, reduzimos em 40% a equipe e aderimos à MP 936, além de renegociar com fornecedores, mas não foi suficiente. Para manter as operações, foram necessários aportes, sejam nossos ou dos investidores dos condo-hotéis que administramos”, completa.

Atualmente, a rede de Campinas tem boa parte da receita concentrada no Royal Palm Plaza – e no segmento de lazer, que representava 25% do faturamento no período pré-pandêmico. “Sediamos poucos eventos regionais por lá, coisa de 200 pessoas e sem gerar muita hospedagem”, explica o executivo, citando como exemplo o lançamento de um condomínio residencial na região. Ele acrescenta que, apesar da boa demanda de lazer, 2021 tem sido bastante desafiador também. “Com a segunda onda e a Fase Vermelha, perdemos datas relevantes no lazer, como Réveillon e Páscoa. Ou seja, o movimento não chegou nem a metade dos anos anteriores”, complementa.

Já nas unidades de perfil corporativo, o movimento segue baixo e instável. “Recebemos tripulações de companhias aéreas, por exemplo, mas a malha está uma sanfona. Em abril, por exemplo, enxugou bem, voltando um pouco mais agora em maio. Esperamos que se recupere”, explica. “A reedição da MP 936 foi um alento, mas chegou um pouco tarde. Nós, por exemplo, não a esperamos e já tínhamos celebrado acordos com sindicatos. De qualquer forma, pelo menos veio, o que dá mais quatro meses de fôlego”, completa.

Para Dias, o governo federal, que priorizou ações transversais (beneficiando mais de um setor) para estimular a economia durante a pandemia, teve no Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) a única iniciativa que favoreceu diretamente o turismo. “Agora, na nossa avaliação, foi feito mais barulho do que realmente merece. Traz bastante benefício para quem tem dívidas com a Receita Federal, com condições boas para renegociar. Agora, nós não temos, por exemplo”, comenta.

Antonio Dias - futuro e presente do Royal Palm

 

“O online não consegue reter a atenção das pessoas. Mais ainda, acredito que o fortalecimento de home office nos ajuda. Em um cenário de menor interação pessoal nas empresas, será necessário reunir os colaboradores em eventos presenciais”

Antonio Dias, diretor executivo do Royal Palm Hotels & Resorts

 

Diante do foco maior governo federal em ações transversais, os esforços da hotelaria – e Dias é um membro ativo de entidades do trade – estão agora na esfera municipal. “O IPTU, por exemplo, gera um impacto grande em nossa base de custos, ainda mais agora em um cenário de receita reduzida. Estamos na expectativa pela sanção de Refis (Programa de Recuperação Fiscal) municipais”, comenta. “Ajudaria bastante também a extensão da validade da MP 936 até o final do ano. Já que a adesão está menor, o governo poderia ampliar o tempo de duração”, completa.

Agora é aguardar um retorno da prefeitura de Campinas. Em São Paulo, um entendimento parece estar em curso sobre um novo Refis.

Digital como “aliado”

Depois de uma verdadeira radiografia dos últimos meses da Royal Palm Hotels & Resorts, voltemos ao otimismo de Dias citado no início do texto. Para ele, a receita mais importante para a empresa vai voltar. Pode demorar, mas vai voltar. Por isso, cautela nas ações, muito trabalho e planejamento, mas confiança de que a recuperação está por vir.

“O grosso do nosso negócio gira em torno do setor de eventos, que foi o mais afetado de toda indústria de viagens. Hoje, grandes empresas simplesmente zeraram o budget da área por conta de regras de compliance. O mesmo vale para o corporativo. Estamos sem previsibilidade, essa é a palavra”, diz o executivo, destacando que não vê a tecnologia competindo com os encontros presenciais. Aliás, boa parte do seu otimismo vem justamente daí.

Antonio Dias - futuro e presente do Royal Palm Paza_contemporâneo

Última adição ao portfólio da rede, Hotel Contemporâneo integra complexo Royal Palm Hall

 

“O online não consegue reter a atenção das pessoas. Mais ainda, acredito que o fortalecimento de home office nos ajuda. Em um cenário de menor interação pessoal nas empresas, será necessário reunir os colaboradores em eventos presenciais”, avalia Dias. “Hoje, a questão principal é a vacina. À medida que acelera a imunização da população, mais rápido será a retomada do segmento. Hoje, contudo, esse ritmo ainda está lento”, observa.

Para Dias, apesar das dificuldades atuais, o ano ainda não está perdido. “Não joguei a toalha. Ainda acredito em uma retomada no segundo semestre – e isso passa pelo setor de eventos. Acho que a demanda será puxada, no começo, pelos encontros sociais, como shows, baladas, festas de 15 anos e formaturas. As pessoas não veem a hora de se reunir novamente para celebrar.” Bem, que seja no Royal Palm Hall. Estamos na torcida!

(*) Crédito da capa: Divulgação/Royal Palm Plaza Hotels & Resorts

(*) Crédito das fotos: Arquivo HN