A hotelaria ainda ensaia sua reação, mas na Faria Lima já se vive outro momento. Sim, as principais instituições financeiras do Brasil e do exterior mudaram a expectativa inicial para o PIB (Produto Interno Brasileiro) – e sempre com revisão para cima. Agora, qual o impacto disso na hotelaria? É para ficarmos realmente animados ou só o avanço na vacinação é que efetivamente vai acelerar a retomada da indústria de viagens. Na sessão Opinião de hoje (17), o arguto articulista do Hotelier News Julio Gavinho, diretor executivo da Furlan Automobile, opinou sobre o tema título. Confira!


Sempre que ouço falar de pibão ou pibinho, lembro das digressões divertidas da ex-presidente Dilma Rousseff. Ainda existem muitos herdeiros intelectuais dela por aí, que criam e cuidam de muitos novos indicadores no nosso setor: “a cada 1% do PIB a ocupação dos hotéis cresce X%”; “para cada real investido há um retorno de X% de ocupação” e, mais legal de todas, “para cada real recebido de room tax, recebemos mais alguns zilhões de visitantes!”.

Sabemos que nem tudo é tão firme estatisticamente quanto o Datafolha, ainda mais em face de tamanha pulverização dos hotéis no Patropi. Logo, precisamos recorrer ao mercado amplo para termos uma imagem mais fidedigna do comportamento econômico do setor, concordam? Cuidado apenas com que leem e ouvem, pois estamos na era da máxima do Zé Goebbels: “repita uma mentira tantas vezes quanto forem necessárias até que ela se torne verdade!”

Vejamos, então, o nosso foguetório alegórico, celebrando o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro que cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021 na comparação com o trimestre anterior e 1% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 2,048 trilhões, segundo a InfoMoney. Eu já comecei a comprar bombinhas aqui!

Esse dado, melhor que o esperado, levou a uma onda de revisões das projeções de bancos, corretoras e casas de tolerância para o desempenho da atividade econômica no ano de 2021. Quando não fomentou uma revisão per se, ao menos colocou um viés de alta nos modelos preditivos dos especialistas, como é o caso da XP.

Agora vejam vocês: para a equipe econômica do Goldman Sachs, apesar das medidas de restrição à mobilidade tomadas por diversos estados nos primeiros três meses deste ano, a performance da economia do país foi melhor que a esperada graças a ganhos de eficiência e um ambiente interno e externo cada vez mais favorável. Como consequência, o Goldman Sachs elevou sua projeção para o crescimento do PIB em 2021 de 4,6% para 5,5%. Vá… faz a conta aí de 0,9% de crescimento do PIB e já reserve seus busca-pés.

Quem também alterou projeções para o PIB neste ano foram Dona Solange Srour e Seu Lucas Vilela, economistas do Credit Suisse. Eles agora esperam que a economia brasileira cresça 4,9% em 2021, ante 4,0% previstos anteriormente. Uff! É ou não é para soltar uns morteiros?

Julio Gavinho - Opinião_revisão do PIB_1

 

“O equilíbrio perfeito de uma sociedade se dá quando há ampla separação entre o Estado e a nação. Aí vamos bem. Quando, por outro lado, politizamos discussões apolíticas somos responsáveis pelo monstro que criamos.”

Julio Gavinho, diretor executivo da Furlan Automobile

 

Eu poderia também tergiversar sobre o viés de alta do BB, da CEF e outras empresas chapa branca, mas isso não vou fazer. Acho que já estamos mais do que substanciados de que, sim, o PIB aumentou entre 0,5% e 1% no primeiro trimestre, arremessando algumas previsões para os números farmacológicos, tão precisados na nossa doença econômica.

Por fim, falando de economia e de seus viézes de crescimento, convido você a estudar a composição do monumental PIB brasileiro de 6,6% em 1962; do Pibão de 1968 até 1976, cavalgando de 9,8% até 10,26%, respectivamente. Claro que o cenário internacional nos ajudou muito, mas afinal:

(1) PIB é PIB, política é política.
(2) fala aí você: era para celebrar esta medida de crescimento econômico ou não?

O equilíbrio perfeito de uma sociedade se dá quando há ampla separação entre o Estado e a nação. Aí vamos bem. Quando, por outro lado, politizamos discussões apolíticas somos responsáveis pelo monstro que criamos. É uma certa cópia tropicaliente da República de Weimar, quando um grupo de políticos cerrou fileiras de tamanha altura contra os seus opositores internos que, em tempo recorde, derreteram a monarquia alemã entreguerras e inventaram o Adolfo e seus asseclas.

A porrada foi tamanha na sociedade alemã que, apenas em 1953, os chucrute se recuperaram por meio do acordo de Londres. Mas isso era coisa para o Eric Hobsbawm. Crescimento do PIB brasileiro? Solte seu morteiro aí que eu solto o meu daqui.

(*) Crédito da capa: fotografierende/Pixabay

(**) Crédito da foto: Arquivo pessoal