Os sinais de melhora se elevam, mas a situação ainda é grave para a indústria de viagens. Neste sentido, é normal se perguntar qual papel o Estado deveria ocupar nessa trajetória de recuperação. É vero que várias medidas já foram anunciadas desde o ano passado, mas seriam suficientes? Mais ainda, até quando elas deveriam perdurar para apoiar a retomada do setor? Na sessão Opinião de hoje (3), Roberto Bertino, fundador e presidente da Nobile Hotels & Resorts, reflete sobre o assunto.


O Estado tem o papel de estabelecer acordos entre os indivíduos que vivem em comunidade, com o objetivo de dirimir os conflitos que porventura se apresentem. Desde a Antiguidade grupos sociais se estabelecem e se organizam com o objetivo de atender às demandas e interesses de seus membros. Logo, o Estado surgiu como opção de organização social.

Isto posto, no que tange especificamente à indústria do turismo e considerando a grave crise pela qual passa o setor, a qual em grande parte causada pela pandemia da Covid-19, o Estado tem papel de grande relevância na retomada. Mais ainda, deve assumir o protagonismo na criação de mecanismos que viabilizem a sobrevivência e recuperação da cadeia produtiva do segmento.

Oportuno destacar que, antes da pandemia, a cadeia produtiva do turismo já enfrentava uma crise que se reproduz desde o governo Dilma Rousseff, a despeito de alguns sinais de melhora no ano de 2019. Agora, com a adição da pandemia da Covid-19, os impactos geraram consequências em todos os setores sociais, especialmente no que tange à economia e saúde da população, dado o elevado nível de contágio da doença e fatalidade em determinados grupos.

No meu entendimento, a iniciativa de resgate protagonizada pelo Estado deve concentrar-se em quatro pilares. O primeiro é o de vacinar os cidadãos de forma ágil, resgatando o clima de segurança e confiança das pessoas, de tal forma a gerar a retomada do consumo. Segundo, garantir a empregabilidade através de programas criados e financiados pelo governo.

 

Roberto Bertino - Opinião_papel do Estado_interna

“Em relação ao mercado turístico, é cada vez mais evidente que o Estado deve exercer um papel central na fixação de critérios de desenvolvimento e na coordenação das atuações dos agentes privados que nele interagem.”

Roberto Bertino, fundador e presidente da Nobile Palm Hotels & Resorts

 

Terceiro, dar crédito à iniciativa privada do setor em condições extraordinárias, sendo o Estado o garantidor das operações, oferecendo longo período de carência com prazo extenso para pagamento e a juros módicos. Por fim, o quarto pilar, e não menos importante, acelerar reformas estruturais que fomentem o ambiente de negócios, estimulando a economia e gerando uma ação anticíclica. Ou seja, evitando que a recessão entre num ciclo de depressão.

Ainda inseridas no contexto do quarto pilar, são importantes as reformas econômicas e regulação do setor, a exemplo da aprovação da LGT (Lei Geral do Turismo), a implementação de medidas emergenciais e mudanças culturais na relação política entre Estado e o setor produtivo.

Além disso, é conveniente realizar um esforço de educação e conscientização de todos os agentes que intervêm na experiência turística: empresários, funcionários, visitantes e moradores. Sem dúvidas, este trabalho deve estar em mãos de um organismo público que saiba canalizar os interesses comuns. Pode-se afirmar que a intervenção pública na economia continuará sendo importante, ainda que a maneira de intervir seja aplicada de forma regulamentadora, reduzindo-se o controle direto.

Em relação ao mercado turístico, é cada vez mais evidente que o Estado deve exercer um papel central na fixação de critérios de desenvolvimento e na coordenação das atuações dos agentes privados que nele interagem. Assim conseguirá garantir a sobrevivência dessa indústria, que gera um em cada 10 empregos no mundo e promove a alegria e felicidade das pessoas.

(*) Crédito da capa: Tony Winston/Agência Brasilia

(**) Crédito da foto: Divulgação/Nobile Hotels & Resorts