Com a retomada guiada por bandeiras de flexibilização de medidas restritivas, o Rio Grande do Sul vive momentos distintos de acordo com o perfil de cada destino. Enquanto Gramado, cidade que nunca sai da rota do turismo de lazer, emplacou bons resultados durante a pandemia, em Porto Alegre o cenário tem um gosto mais amargo. De acordo com dados da ABIH-RS (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Sul), em pouco mais de um ano de pandemia, a capital gaúcha já contabiliza 15 fechamentos definitivos de empreendimentos hoteleiros.

“A pandemia foi o maior motivo pelos fechamentos. Alguns hotéis não conseguiram se adequar e acabaram tendo muitos problemas, levando ao fim das operações. O perfil corporativo da cidade foi um empecilho, pois o volume de negócios caiu bastante. Só vieram aqueles que realmente tinham algum compromisso de caráter emergencial”, pontua José Reinaldo Ritter, presidente da ABIH-RS.

Uma das vítimas do Covid-19 em Porto Alegre foi o Hotel Everest, com 56 anos e 150 quartos. O empreendimento localizado na rua Duque de Caxias operava com menos da metade de sua capacidade e já havia fechado as portas temporariamente por causa da pandemia. Em julho, seu irmão carioca também encerrou definitivamente suas atividades.

Em entrevista ao Correio do Povo, representantes da SHPOA (Sindicato de Hotéis de Porto Alegre) alegam que o coronavírus agravou a situação financeira da unidade que já estava em processo de venda.

Já o Hotel Lar Residence, empreendimento familiar com 40 anos de história, fechou as portas em 30 de abril deste ano. Situado no centro da capital, o prédio era especializado em hospedagem residencial, com estrutura para longas estadias, sendo um dos primeiros apart-hotéis da cidade.

“A pandemia foi responsável por 90% do nosso fechamento. Com as restrições, a ocupação ficou bem abaixo do que precisávamos para pagar as despesas. Temos 36 UHs e para o equilíbrio ser mantido é um custo alto. Abaixamos o preço para tentar acertar as contas e acabamos com uma diária muito baixa e pouco saudável, até que a empresa passou a tirar dinheiro do próprio bolso”, conta Enio Golbspan, gestor do empreendimento composto por quatro sócios.

Também localizado no Centro Histórico, o City Hotel paralisou suas atividades em outubro do ano passado, ainda sem perspectivas de reabertura.

Porto Alegre - josé reinaldo ritter

              Ritter: perfil corporativo da cidade foi relevante para os fechamentos

Porto Alegre: o futuro dos ativos

Em 2020, itens do Hotel Everest foram leiloados. Na primeira fase das vendas, familiares e funcionários adquiriram as peças. No dia 29 de setembro, a comercialização foi voltada para pessoas jurídicas e no dia seguinte, para o público geral. A procura pelos artigos foi movimentada, causando aglomerações com direito a intervenção da Guarda Municipal.

A família responsável pelo Lar Residence optou por vender o empreendimento, mas ainda deve definir se vai comercializar o prédio inteiro ou os apartamentos separadamente. “Pensamos em pagar a rescisão dos funcionários ou pagar mais dois meses de despesas. Optamos por fechar a indenizar os colaboradores ao invés de empurrar com a barriga”, explica Golbspan.

O gestor do hotel ainda revela que não paralisou as operações em nenhum momento durante a pandemia pelo perfil long stay da hospedagem. “Mantivemos apenas os moradores e hóspedes diaristas. Utilizamos poucas MPs, como redução de jornada de trabalho para funcionários administrativos”.

Antes mesmo da pandemia explodir no Brasil, o Lar Residence foi prospectado pela OYO, mas os proprietários optaram por seguir com a operação independente.

porto alegre - Enio Golbspan - Arquivo

                        Golbspan: família ainda não decidiu como venderá o ativo

Investimentos no destino

Apesar dos impactos negativos da crise no mercado, existem aproximadamente 500 UHs em desenvolvimento na capital gaúcha. Os investimentos no destino seguem encaminhados, como é o caso da expansão de bandeira da Master Hotéis. A rede anunciou recentemente a abertura do Master Porto Alegre, com reformas na ordem dos R$ 4 milhões.

No ano passado, a Ritter Hotéis inaugurou o HAUS von Ritter. O empreendimento de 230 apartamentos adaptou 130 quartos de um dos dois edifícios em formato coliving com três tipos de acomodações.

(*) Crédito da capa: Pacto Alegre

(**) Crédito das fotos: Divulgação