Hotelaria - Alexandre GehlenGehlen: estabilidade de oferta deve favorecer ambiente na hotelaria

Ao crescer 1,1% em 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) nacional teve o pior desempenho em três anos. Com a esperada retomada econômica ainda em compasso de espera, e com a ameaça do coronavírus no horizonte, como o Brasil vai se comportar em 2020? Conversamos com três executivos ligados à hotelaria para fazer projeções e entender como tudo isso pode impactar o setor. 

Na visão dos hoteleiros ouvidos, apesar do resultado abaixo do esperado, as perspectivas positivas se mantêm. Mais ainda, há outros indicadores econômicos que precisam ser ressaltados – e que dão otimismo. Alexandre Gehlen, presidente da Intercity Hotéis, destaca que o PIB do setor privado avançou 2,75% em 2019. 

“Embora o PIB esteja intimamente ligado ao nosso negócio, exercendo ainda maior influência na hotelaria urbana do que na de lazer, vivemos um momento de estabilidade de oferta”, comenta Gehlen, que também preside o Conselho de Administração do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). “Isso pode amenizar este efeito da economia ainda não deslanchar em nosso setor”, completa.

Proprietário do Iloa Resort e ex-presidente da Adit Brasil, Felipe Cavalcante tem visão parecida. Para ele, há um descompasso entre a importância dada a esses números e a vida real. “Embora o PIB não tenha crescido na forma que se esperava, há um sentimento de otimismo em relação ao futuro e, para a economia, isso é muito importante”, acredita.

Hotelaria - Felipe CavalcanteCavalcante: apesar do resultado do PIB, tendência na economia é de alta

Para reiterar seu raciocínio, Cavalcante faz uma analogia. “A diferença entre o ponto onde estamos e onde queremos chegar nunca é uma linha reta. O importante é a curva de tendência. As causas estruturais estão sendo encaradas e, entre pontos negativos e positivos, entendo que a curva é para cima”, acrescenta.

Pedro Cypriano, sócio-diretor da HotelInvest, é um pouco mais cauteloso. Para ele, o resultado abaixo do esperado do PIB mexe em um ponto importante na percepção do mercado: expectativas. “Isso também move a hotelaria”, destaca. “No entanto, não acho necessariamente que as coisas serão ruins em 2020”, completa.

“Agora, ficaremos à mercê de outras notícias positivas para compensar o que de ruim ocorreu, como foi o resultado do PIB. Ao mesmo tempo, o governo federal já vem discutindo medidas importantes, que precisam ser implementadas, seja do ponto de vista das reformas e das privatizações, como de ações que estimulem o consumo e investimento no país”, acrescenta Cypriano.

Coronavírus e seu impacto

Com casos confirmados no Brasil, o coronavírus tende a gerar retração na atividade econômica nacional. Ontem (5), por exemplo, o ministro da Economia Paulo Guedes admitiu que o PIB pode ter uma perda de até 0,5 ponto percentual. Mesma visão tem a CNC (Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo), que revisou para baixo sua estimativa para o indicador.

Hotelaria - Pedro CyprianoCypriano: coronavírus é uma fonte de insegurança a mais para o mercado

No setor de turismo, o impacto já é visto nas viagens internacionais, com cancelamento de grupos e eventos. Ontem, por exemplo, a BTL 2020 foi adiada e, na semana anterior, a organização da ITB Berlin confirmou a não realização do encontro. “Minha visão particular é que a tendência será de começar a normalizar a vida, uma vez que o percentual de mortes por conta da doença é muito baixo e segmentado”, observa Gehlen.

Embora reconheça que seja difícil prever o que pode acontecer, Cavalcante diz que o mercado doméstico pode se beneficiar, destacando ainda que o câmbio reforça essa visão. “A hotelaria de lazer tende a se favorecer, tanto pela questão do dólar alto, quanto pelo coronavírus. Ambos devem a impulsionar as viagens domésticas e limitar as internacionais”, aposta.

Novamente mais cauteloso, Cypriano entende que o assunto é complicado e difícil de avaliar. “Ninguém sabe como isso vai impactar o mundo. Já existem alguns sinais no mercado de turismo, como cancelamentos de eventos e de grupos. É algo expressivo? Ainda não, mas geram um pouco de temor e insegurança pelo que vem pela frente”, acredita. 

“Na hotelaria, empreendimentos mais sofisticados têm percepção de risco maior, porque dependem mais do mercado internacional. Isso já não ocorre tanto com hotéis econômicos, por exemplo. No entanto, é difícil cravar qualquer tipo de coisa”, finaliza Cypriano.

(*) Crédito da capa: geralt/Pixabay

(**) Crédito da foto: Arquivo HN

(***) Crédito da foto: Nayara Matteis/Hotelier News

(****) Crédito da foto: Divulgação/HotelInvest