O renascimento do turismo foi o tema central do Latam Talk, conferência online promovida hoje (9) pela Phocuswright. O evento, que contou com a participação de players de diferentes elos da cadeia turística, abordou os principais desafios para a América Latina no próximo ano.

Peter Comeau, diretor da Phocuswright, deu as boas-vindas ao público, ressaltando que, apesar do otimismo frente a retomada, a recuperação não será rápida e simples. “Os últimos 20 meses nos mudaram, de uma maneira ou de outra. E hoje, temos um sentimento de gratidão, ter sobrevivido já é uma vitória. Agora, vamos continuar aprendendo uns com os outros e ir adiante”.

Como pano de fundo para as próximas palestras, Charuta Fadnis, vice-presidente sênior de Estratégia de Pesquisa e Produto da Phocuswright, compartilhou um overview global a partir de uma pesquisa realizada pela empresa sobre o setor de viagens. “Estamos aprendendo com a crise e a boa notícia é que conseguimos conviver com o vírus, com países abrindo e turistas viajando”, inicia a executiva.

Em 2019, a indústria de viagens globais faturou US$ 1,4 trilhão e, em 2022, a expectativa é que o setor chegue a US$ 1 trilhão novamente, impulsionado por demandas domésticas. Outro destaque do panorama é a relevância das reservas online, que caíram no gosto do público que ainda era resistente em adotar os canais de venda digitais. “Mais da metade dos viajantes compraram online, o que foi um grande salto desde 2019”, pontua Charuta. “Na Europa, chegamos a 60% de penetração online”.

A incidência de viagens durante a pandemia foi relativamente alta em países da Europa, como Espanha (51%), Alemanha (50%) e França (47%), além dos EUA (49%). E com a mudança de comportamento dos viajantes, as prioridades também se transformaram, com preferências para destinos ao ar livre, praias, trilhas e cidades com menores índices de aglomeração. E a tendência é que em 2022 esse perfil de lugar siga no topo da lista dos turistas.

Na mira dos players de turismo, antes da pandemia, os nômades digitais se caraterizavam por pessoas da geração dos millennials, jovens e freelancer. Com o advento do home office, novas fatias de público passaram a responder por esse nicho. Turistas de meia idade, com filhos e empregos em tempo integral.


América Latina segue cenário realista de retomada

E muitas tendências se aplicam na retomada do turismo na América Latina. Carolina Haro, sócia da Mapie, compartilhou os dados do recorte levando em conta o Brasil, México, Argentina, Chile e Colômbia. Apesar das incertezas quanto à variante Ômicron, a região segue sua retomada dentro do cenário otimista traçado pela Phocuswright.

Em 2020, a empresa traçou três diferentes possibilidades de mercado: otimista, realista e pessimista. Como é de se imaginar, a melhor das hipóteses não aconteceu, com o turismo chegando a US$ 60 bilhões em 2021.

phocuswright - america latina

“Considerando as informações que temos até agora, estamos dentro do cenário realista, chegando a US$ 51 bilhões em 2022. No pior panorama, em que a América Latina não conseguiria controlar a pandemia, chegaríamos a US$ 46 bilhões no ano que vem”, explica Carolina.

Desta forma, a expectativa é que o setor chegue aos níveis de 2019 em 2023. “Mesmo com a Ômicron, estamos perto do cenário realista, apesar de um primeiro semestre impactado pela segunda onda”, acrescenta a executiva. “O crescimento de GPD agora é de 6,3%, o que representa uma recuperação quase total dos 6,7% perdidos em 2020”.

No primeiro ano de pandemia, a América Latina teve perdas da ordem dos 60% no total de reservas, número um pouco melhor do performado globalmente. “E já estamos vendo sinais positivos no último trimestre, com números recordes, especialmente em destinos de lazer

O mercado de viagens corporativo ainda segue aquém do registrado em 2019, mas deve encerrar o ano com 63% frente aos níveis pré-pandemia. Para 2022, México e Brasil disputam a liderança por reservas. Confira o gráfico abaixo:

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“No Brasil, teremos eleições presidenciais, o que significa que o país será transformado em um campo de batalha político onde nada é certo, o que deve impactar os indicadores econômicos”, complementa Carolina. “Muitos investidores devem esperar para ver como a situação se desenvolve”.


Traveltechs se reinventam diante da crise

Inovação foi uma das palavras de ordem da crise. A capacidade de se renovar foi um dos diferenciais entre os falecidos e sobreviventes. Como vimos anteriormente, as reservas online ganharam ainda mais espaço no mercado, dando margem para que empresas e startups nadassem de acordo com a maré.

No primeiro painel promovido pela Phocuswright, Tricia Neves (Mapie) foi a moderadora do debate entre Barbara Andrade (Flyflapper), Nico Barawid (Casai) e Juan Carlos Moniz (Nauty360).

Tricia inicia dando a informação de que recentes pesquisas apontam que os clientes dos hotéis e de short-term rental são os mesmos. Desta forma, os empreendimentos precisam se destacar para além da acomodação.

“Clientes de plataformas como o Airbnb estão pegando o share dos hotéis, o que reflete essa nova realidade. Pessoas que nunca haviam considerado outro tipo de acomodação senão os hotéis tradicionais mudaram. O viajante de modo geral, mudou”, pontua o CEO do Casai.

E essa tendência pode ser vista também nos clientes latino-americanos. Moniz explica que as empresas atuantes na região vêm tentando profissionalizar ainda mais seus serviços. “Queremos democratizar os serviços na América Latina com preços e experiências. Estamos interessados em crescer ainda mais após a pandemia”.

Um exemplo de democratização do turismo são os acessos a voos privativos, serviço ofertado pela Flyflapper, e que ganhou mais notoriedade devido às medidas restritivas. “No Brasil, as pessoas querem voar privado, mas não tem essa oportunidade. Damos a opção do cliente comprar apenas um assento, sem precisar contratar todo o avião”, salienta Barbara.

Outro ponto que fez os olhos dos consumidores crescerem foi a redução de malha aérea e a falta de assentos de última hora em voos comerciais. “Tivemos muitos voos para outros países que estavam sem malha comercial, sempre autorizados por consulados e embaixadas”, explica a CFO da Flyflapper.

Nos últimos meses, vimos muitos players do turismo anunciarem fusões e aquisições, como foi o caso da Casai, que informou a compra da Roomin, com o objetivo de expandir sua presença no Brasil. “Estamos focados em construir portfolios e produtos globais e a Roomin é um exemplo disso, uma aquisição com estratégia”, acrescenta Barawid.


Distribuição de viagens: como melhorar a experiência do cliente?

Qualquer elo da cadeia turística, em tempos de pandemia ou não, tem como prioridade um objetivo: melhorar a entrega de experiência do cliente. Quando falamos em distribuição, uma boa jornada afeta muitos outros elos desse ecossistema, como um efeito dominó, já que é na compra que toda a viagem começa.

Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, foi a moderadora do painel da Phocuswright que contou com a participação de Guido Becher (Rappi); Andres Malenky (Turismocity) e Manuel Martínez Zamora (Max Milhas).

“Temos que ser otimistas sobre o futuro das viagens, mas sabemos que grande parte dos países estão enfrentando impactos econômicos e crises políticas”, inicia Mariana. Perante a fala da moderadora, Becher afirma que a América Latina está habituada a crises econômicas e que o mais desafiador no momento é o esvaziamento de mão de obra.

“Perdemos muitos talentos e infraestrutura. Ainda não temos os voos que tínhamos antes e a distribuição dos assentos não é mais a mesma. Muitas pessoas deixaram a nossa indústria e não sei se elas voltarão quando o mercado começar a abrir”, pontua o executivo. “Estes são os maiores desafios que as crises nos trouxeram”, acrescenta.

Malenky reforça que a crise política sempre esteve presente na América Latina, mas que a pandemia gerou novas necessidades e problemas, como cancelamentos, adiamentos e muitas mudanças. “Estamos trabalhando nosso market place aéreo e custom service, considerando as reservas online para melhorar a experiência do cliente. Estamos confiantes e promovendo alternativas e preços”, diz o CEO da Turismocity.

Zamora afirma que o setor precisará trabalhar com diferentes cenários e possibilidades, visto que a variante Ômicron pode ter colocado em cheque a retomada ascendente em que o turismo se encontra. “Por causa do Covid-19, muitos players do turismo não existem mais. Temos uma concentração na distribuição que dá margem para preços maiores e reduz a competitividade. A distribuição é um ecossistema diferente”.


Best Day e Decolar: estratégia e tecnologia como bases da fusão

Alejandro Calligaris, CEO da Best Day e atual country Manager da Decolar no México, foi o convidado para a entrevista executiva de hoje da Phocuswright. O executivo falou sobre a fusão entre a agência de viagens e a empresa mexicana, concluída em 1º de outubro deste ano.

Carolina Haro conduziu o bate-papo que abordou também as estratégias das companhias com a aquisição. “A Best Day era uma das agências líderes no México, o que impulsionou o market share da Decolar no país, além de elevar o suporte com callcenter e estandes em shoppings”, explica Callegaris. “Estamos muito orgulhosos e satisfeitos com a integração”.

Em contrapartida, a Best Day se beneficia da tecnologia oferecida pela plataforma da Decolar. O CEO conta que as integrações foram feitas mais rápido do que o esperado. “Em três meses, integramos o callcenter e a plataforma. Estamos felizes com a integração não apenas da tecnologia, mas das culturas das empresas”.

Calligaris explica que, por conta da pandemia, a fusão foi desafiadora, visto que os executivos estavam impedidos de viajarem. “Muitas integrações foram feitas por videoconferências. Acredito que tenha sido um dos principais desafios”.

Sobre os planos de expansão, o CEO da companhia mexicana diz que o crescimento deve ser orgânico e que, por hora, a empresa deve focar seus esforços nos mercados em que atua. “Não vamos pensar em novos mercados agora”.

Com os sinais positivos da retomada doméstica, a Best Day espera chegar aos níveis pré-pandêmicos em 2022, já para o internacional, a previsão de recuperação fica para 2023. “Para nós, as demandas domésticas sempre foram mais representativas, principalmente no México, onde vendemos nossas praias”.

Sobre as estratégias de distribuição, Calligaris adianta que a empresa preza pelo crescimento via mobile com a parceria com a Decolar. “Para a Best Day, esse não era um canal muito bom. Mas com a tecnologia da Decolar pretendemos melhorar com crescimento de 9% na penetração mobile”.

Uma das tendências geradas pela pandemia foi a maior procura por seguros de viagens como uma segurança a mais dos viajantes. A Best Day, que já vendia esse tipo de serviço, pretende manter as vendas e investir em flexibilidade para os clientes. “É mais fácil para as pessoas procurarem por um voo ou fazerem uma reserva sabendo que poderão cancelar e estamos trabalhando forte nisso”.

(*) Crédito das imagens: reprodução da internet