Ano novo, vida nova. Ao menos é o que popularmente dizemos. E para a hotelaria? Inicia-se um novo ciclo para os hotéis no país? Acho que sim. O ano de 2022 certamente promete, para o bem ou para o mal.

On the brigth side…

O que já sabemos e segue em trajetória benigna? Lazer, lazer, lazer.

O segmento segue forte e promete bater recordes históricos de receita também em 2022. Do campo ao litoral, do econômico ao luxo. E sim, o turismo doméstico seguirá em alta. Para além das viagens individuais, será o ano dos eventos sociais e do turismo compartilhado no país. Timeshare e multipropriedade retomarão os holofotes do lazer nacional.

Os últimos voltarão a ser os primeiros. Capitais e eventos retomarão o protagonismo.

Sem mais surpresas sanitárias, é natural que as capitais voltem a ter ocupações e diárias mais altas que o interior. De fato, isso já ocorreu. Todos os principais mercados do país superaram 60% de ocupação e o calendário de feiras da Ubrafe para 2022 já supera 2.000 eventos. Os mercados sólidos e mais robustos do país voltarão a ser as grandes cidades.

Sim, o velho e “bom” normal está de volta.

Lazer segue forte, e mais intenso. Eventos com calendário cheio. E o corporativo ganhando tração. O risco de perdas de demanda hoteleira para outras plataformas de reuniões está descartado? Não, mas a predição do Bill Gates de queda de ao menos 50% das viagens de negócios parece equivocada.

On the other hand…

Receitas nominais estão próximas a 2019, mas os resultados…

Só nos dois últimos anos, as diárias perderam 15% de valor apenas para a inflação e os custos, como sabemos, saíram do trilho. E vem pela frente mais pressão inflacionária. Apesar da aceleração recente das tarifas, recuperar a mesma distribuição de lucro de 2019 certamente não está para 2022, ao menos na média do país.

Vencida a pandemia, a velha e “boa” economia voltará ao centro das discussões.

Volatilidade, economia fraca, pressão inflacionária e aumento de juros são alguns dos desafios pela frente. Nada que nunca tenhamos vivido antes, aliás este é o Brasil. Com ambiente macroeconômico adverso, um olhar para dentro das empresas por busca de eficiência e melhoria de gestão de receita seguirá premente.

Aumento de oferta hoteleira não convencional intensificará

No mercado urbano, os famosos studios disponibilizados em um pool de curta a longa permanência por plataformas de tecnologia são o exemplo mais claro. No lazer, teremos as multipropriedades criando um pool hoteleiro cada vez maior, próximo a 50% de sua oferta. Tais modelos competirão 100% com a hotelaria tradicional? Não, mas com certeza incomodarão.

Três sugestões para a hotelaria em 2022

1) Acelerar enquanto a “estrada” é favorável

Apesar das incertezas político-econômicas, a ocupação voltou a um patamar saudável, o que facilita bastante a recuperação das tarifas. E nada melhor que “engordar” o caixa para diminuir o efeito de possíveis novas surpresas negativas que possam afetar o nosso negócio. O risco de volatilidade seguirá alto durante todo o ano.

2) Obsessão por eficiência e ganho de escala

O ambiente de mercado é e seguirá cada vez mais competitivo. E crescer é fundamental para ganhar escala e aumentar a capacidade de investimento e de eficiência operacional de nossos negócios. Rever processos, melhorar a precificação e distribuição, levar estratégia à base, monitorar mercado… são alguns dos desafios que precisam ser endereçados.

3) Repensar o “status quo hoteleiro”

Nada nessa vida é para sempre. Logo, aceitarmos que talvez parte dos padrões hoteleiros deva mudar é essencial para a perpetuação das empresas. Isso passa pelos modelos contratuais, serviços e padrão de marca, interface com os usuários… As dores dos nossos negócios que não conseguimos resolver são uma bela oportunidade para que os “vizinhos” o façam.

Em resumo, deixo 4 palavras para o início de 2022…

Alívio de um maior controle da pandemia.
Otimismo com os resultados da hotelaria nos últimos meses.
Esperança de que boas surpresas políticas possam mudar o humor do mercado.
Resiliência, pois a subida ainda será pesada.


*Pedro Cypriano é especialista em investimentos e estratégia em turismo e hotelaria. Ao longo dos últimos 17 anos, liderou centenas de projetos junto a consultorias hoteleiras globais, na Europa, no Oriente Médio, na África e na América Latina. Autor do livro Desenvolvimento Hoteleiro no Brasil, pela editora SENAC.

(*) Crédito da foto: Divulgação/HotelInvest