Uma mulher assumidamente curiosa, interessada pela vida e comportamento alheios, encontra uma forma simples de acessar a intimidade de estranhos. Conseguindo facilmente descobrir o que as pessoas comem, vestem, qual o tipo sanguíneo, a programação de compromissos, o que leem e até mesmo de quem sentem falta, entre outras tantas informações.

E onde você acha que seria o melhor lugar para ela conseguir o que deseja? Sim, quem disse num hotel, acertou. Mais uma vez a hotelaria aparece como ambiente ideal para as ações mais variadas e sensíveis.

Em dezembro de 2021 foi publicada a versão atualizada do livro The Hotel, de Sophie Calle, escritora e artista francesa que na sua consolidada obra apresenta um processo criativo controverso e muito interessante.

Para obter a matéria prima para The Hotel, a autora conseguiu um emprego de camareira num hotel em Veneza na Itália, onde registrou imagens, sons e acesso de diversas formas aos objetos e documentos que desvendaram as histórias e comportamentos dos hóspedes.

Sophie Calle, sem divulgar qualquer identidade e com o foco literário e nas artes conceituais, utilizou informações restritas para criar ricos enredos ilustrados sobre a realidade de pessoas estranhas e a percepção subjetiva dela e dos seus leitores sobre a vida em cada quarto daquele hotel. Contudo, nada impediria que o objetivo final dela fosse outro.

E nesse ponto surge o alerta sobre a vulnerabilidade inerente aos dados e informações de clientes e colaboradores dos hotéis, seja qual for a localidade, categoria ou perfil do empreendimento.

Hoje (28), se comemora o dia internacional da Proteção de Dados, que reforça a importância e a necessidade de evoluirmos para garantir o tratamento adequado em todo o processo de acesso e tratamento de qualquer informação pessoal sob nossa responsabilidade.

E quando falamos de proteção de dados não há restrição para dados de origem digital ou de outra fonte ou origem, como no caso dos apartamentos e demais ambientes, onde dados e informações físicos podem ser facilmente acessados, assim como podemos vivenciar nas histórias do livro The Hotel.

Além dos procedimentos e ferramentas técnicas adequadas, o fator humano continua sendo o elo fundamental na cadeia de esforços para a proteção de dados e privacidade pessoais. Serão as pessoas que construirão, implantarão e manterão os procedimentos e controles tecnológicos e, também dependerá das pessoas a conduta responsável diante de circunstâncias de exposição e acesso as informações de terceiros.

Então, em comemoração ao dia da Proteção de Dados e embalados pelas histórias contadas pela artista francesa, lembramos que a preparação das equipes sobre a sensibilidade, abrangência e importância de agir de forma responsável é essencial.

Para criarmos uma história de sucesso na proteção da privacidade daqueles que utilizam nossos serviços, temos que passar pela valorização e o investimento na formação e preparação das pessoas, os verdadeiros personagens do desenvolvimento da hotelaria.

*Otavio Novo é profissional de Gestão de Riscos e Crises, atuando desde o ano 2000 em empresas líderes nos setores de serviços, educação e hospitalidade. Consultor e idealizador do projeto Novo8, mencionado pela ONU no IY TOURISM 2017.  Advogado, coautor do livro “Gestão da qualidade e de crises em negócios do turisno” , durante 6 anos foi responsável pelo Departamento de Segurança e Riscos da Accor Hotels para cerca de 300 propriedades e 15 mil colaboradores em nove países da América Latina.

Contato: [email protected]​ www.novo8.com.br

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal