Há 100 anos a história de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, se iniciava.

A antiga Fazenda Morumbi, produtora de uva e chá, dava lugar a um loteamento previsto para a classe alta da cidade em expansão.

O atual bairro do Morumbi era considerado um local retirado, distante da cidade. Uma atmosfera rural que aos poucos foi dando lugar a uma ocupação de moradores da classe alta e das famílias pobres de trabalhadores, principalmente, da construção civil do novo bairro.

E assim surgiu Paraisópolis.

Da divisão da grande fazenda em um local de realidade contrastante, a maior densidade demográfica do Brasil, entre a carência de condições básicas e a potência dos seus grandes valores que transbordam os limites da comunidade.

Afinal, todos os dias, boa parte dos seus 100.000 habitantes enfrenta, entre outras, a dificuldade de mobilidade urbana e de conexão digital para sair da favela e contribuir para o funcionamento da sociedade.

Paraisópolis, diariamente, fornece milhares de profissionais de todas as áreas de atuação em atividades fundamentais para a vida de muitos que nunca passaram perto dali.

São pessoas que fazem acontecer a educação, saúde, serviços, construção, indústria, comércio e o setor turístico.

E sobre o turismo, hoje, a região do Paraisópolis conta com diversos estabelecimentos turísticos de grande importância para a cidade, o estado e o país. São hotéis, restaurantes, locais de eventos, entre outras empresas de todos os portes e categorias.

E o sucesso desses negócios passa diretamente pelo que esses profissionais trazem consigo, da formação profissional e da vida na favela.
Todo e qualquer negócio precisa de uma série de competências ensinadas e aprendidas diariamente na vida dura de um local como Paraisópolis.

E apesar da tragédia da desigualdade social, o local é fonte de espírito de comunidade, de colaboração, da capacidade de lidar com as adversidades, acolhimento, criatividade e de superação.

Capacidades mais que necessárias quando se fala do sensível universo do turismo, especialmente nesse momento de dificuldades gerais.
Um olhar atento para o que essa comunidade tem a ensinar pode nos ajudar a nos tornarmos mais fortes e preparados para aproveitar oportunidades geradas pelas próprias capacidades, assim como para lidar com os desafios que se colocam no caminho.

Exemplo disso, são ações efetivas da comunidade organizada de Paraisópolis, como por exemplo o G10 Favelas, que de forma prática e técnica ensina a criar oportunidades de empreendedorismo inovadoras a partir da própria geração de riqueza, além de fazer prevenção e reagir diante dos inúmeros e diferentes tipos de riscos da comunidade utilizando os poucos recursos disponíveis e apesar da negligência do Estado.

Com relação a gestão de riscos e crises na pandemia de Covid 19, Paraisópolis criou, por conta própria, um “case” que serve de exemplo para organizações globais como para autoridades públicas.

Com a prática chamada Presidente de Rua, em cada rua e viela há uma pessoa da organização realizando o acompanhamento das famílias e suas vulnerabilidades (gestão de riscos) para se antecipar diante dos riscos. Paralelamente a isso, foi criada uma estrutura completa de atendimento para casos leves e emergenciais com atendimento médico profissional com a possibilidade de isolamento de doentes para se evitar a propagação dos impactos (gestão de crises).

Além disso, se garantiu fornecimento amplo de alimentos e itens de higiene para as famílias diretamente afetadas pela perda de trabalho com as restrições do isolamento social, fornecendo assim o básico para se atravessar o momento com o mínimo de dignidade. Esse tipo de prática tem sido exportado com sucesso além dos limites da favela para todo o país por intermédio do G10 favelas.

Ou seja, um plano completo de Gestão de Crises. Fazendo prevenção e criando capacidade de reação, com práticas e protocolos eficientes e viáveis para se antecipar e preservar seus principais valores, as pessoas.

Poderíamos citar outros importantes exemplos de iniciativas da comunidade a serem seguidas por empresas e governos e, por isso, nesse centenário, além de parabenizar a resistência e a capacidade de geração de tanta riqueza, mesmo com tão pouco, também é momento de agradecer a generosidade dos moradores de Paraisópolis com a sociedade mesmo diante da injustiça e o abandono social a que são submetidos.

A grandeza de Paraisópolis está nos seus 100 anos de história e nos seus 100.000 moradores nos ensinando todos os dias a resistir e oferecer muito mais do que se recebe.

Que a sociedade e o setor de turismo aprendam com a nossa centenária favela.

Parabéns Paraisópolis!

Sobre as ações comunitárias de Paraisópolis, você também pode ajudar nesse caminho de grandes iniciativas. Saiba mais clicando aqui.

Otavio Novo – é advogado, consultor em gestão de Riscos e Crises com mais de 20 anos de experiência em grandes empresas dos setores da educação, serviços e turismo. Na hotelaria foi Gerente de Segurança e Riscos da Accor e hoje apoia diferentes organizações na implantação de soluções de proteção dos seus principais valores. www.novo8.com.br