Após uma viagem por todos os estados da região, o Hotelier News embarca para seu último destino no Sudeste, o Espírito Santo. Mercado com diferentes públicos, a capital e o interior recebem perfis divergentes de turistas, com demandas de negócios e lazer.

Segundo Gustavo Guimarães, presidente da ABIH-ES (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo) e também proprietário do Hotel Guarapousada, o estado assistiu à uma queda na ocupação bastante acentuada. “Nós chegamos a ter uma média em torno de 8% de ocupação nos meses de abril, maio, junho e julho teve uma pequena reação”, descreve. “Agosto vinha em curva ascendente, e chegamos a fechar o mês passado em torno de 40%, 42% de ocupação no mês de outubro. No mês de novembro, houve uma. pequena queda”, pontua.

Analisando o cenário, quase metade dos hotéis chegaram a fechar nos meses de clímax da pandemia. “Chegamos a ter 44% dos nossos hotéis fechados. Depois, aos poucos, foram retomando as atividades. Hoje, cerca de 5% dos hotéis estão com as operações paralisadas ainda, ou definitivamente fecharam portas”, contextualiza o presidente.

A região, assim como outras capitais com enfoque no corporativo, sofre com a falta de eventos, principalmente com a proibição do governo estadual. “Houve um decreto no mês de março proibindo a realização de eventos e que perdurou até setembro”, explica Guimarães.

Ainda assim, o turismo de negócios movimenta Vitória. Funcionários de empresas como Petrobras e Vale chegam pelo porto da capital. “São pessoas que trabalham embarcados em plataformas marítimas, então é preciso um período de quarentena pré e pós embarque”.

Usufruem também do turismo corporativo os hotéis ibis Praia do Canto e ibis Camburi. “Nossa ocupação tem sido melhor durante a semana, onde nosso público maior vem do turismo de negócios. Durante a pandemia, a cidade teve uma redução do fluxo de voos e com a retomada as empresas voltaram a fazer negócios na cidade”, comenta Fabíola Carbello, gerente geral das unidades.

O ibis Praia do Canto chegou a fechar no final de março com reaberura em setembro, aproveitando o período paralisado para reformas internas e um novo restaurante. “Já o ibis Camburi ficou aberto seguindo todas as recomendações da marca e da OMS”, pontua a gerente.

Durante os feriados de setembro, outubro e novembro, os hotéis estabeleceram uma alta na ocupação. “Atingimos uma ocupação de 80%, recebendo turistas do interior, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo”, afirma Fabíola. “No momento, estamos atingindo uma ocupação média superior a 50% nos dois hotéis e uma diária média de R$ 172,00. Estamos conseguindo realizar a mesma diária média de 2019”.

Com os números, os dois empreendimentos atingiram o ponto de equilíbrio nos últimos três meses. “No caso do ibis Camburi, já amortizamos todo o prejuízo acumulado e estamos produzindo lucros equivalentes a média de 2019. Em ambos os hotéis, temos como meta para 2021 alcançar resultados 10% acima dos obtidos em 2.019”, divide a gerente.

Espírito santo - Gustavo Guimaraes

Guimarães: diálogo com o poder público ainda é uma dificuldade

Espírito Santo: retomada por regiões

Ao contrário do que acontece em outras capitais do Brasil, a exemplo da guinada do ecoturismo no interior do Mato Grosso do Sul, Vitória tem tido destaque durante a retomada. “A capital tem a vantagem com relação ao interior por ter uma demanda maior de turistas de negócios e ter retomado a atividade do comércio e afins antes. Percebemos uma crescente demanda de pessoas de outras cidades vindo para capital aproveitando a flexibilização”, comenta Fabíola.

Outros locais que se beneficiaram de uma retomada prévia foram os municípios serranos. “A região das montanhas capixabas pega a cidade de Venda Nova e Domingos Martins e possui bastante desenvolvimento turístico”, conta Guimarães. “Em um primeiro momento, a região serrana, no meio da pandemia, estava em sua alta temporada, que é um período mais de inverno. Devido ao frio, tiveram uma retomada mais antecipada, desde meados de junho já começaram a ter os finais de semana, em torno de 70% de ocupação”, diz.

Já o litoral ainda passa por uma recuperação mais lenta, dependendo de decretos municipais. “Aqui em Guarapari, por exemplo, onde fica o meu hotel, no dia 6 de setembro o prefeito fez a liberação em função do feriado e a partir daí tivemos uma retomada um pouco mais significativa. Saímos aí em torno de 20%, 23% de ocupação e fomos pra algo em torno de 42,45% no mês de outubro”, contextualiza Guimarães.

Sobre as autoridades do âmbito estadual, inclusive, o presidente relata certa dificuldade de diálogo com o setor hoteleiro. “Infelizmente, a Secretaria Estadual de Turismo vem mantendo uma posição muito independente. Nas prefeituras municipais, estamos tendo algum tipo de trabalho, alguma participação, sobretudo em algumas decisões”. Dado trabalho consiste em, principalmente, desenvolvimento de protocolos conjuntos para garantir uma retomada segura.

Mudança de público

Além do contraste entre regiões litorâneas, capital e municípios serranos, o Espírito Santo assistiu a uma mudança no perfil do turista. Como principais visitantes, em um período pré-Covid, o estado recebia o público de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. “A própria ABIH vinha fazendo um trabalho de promoção muito grande também no Rio Grande do Sul, isso na era pré-pandemia”, explica Guimarães. “Durante o período da pandemia, isso tudo mudou. Passamos a ter um público de carro próprio, com famílias em um raio de entre 300 a 350 quilômetros”, analisa.

Parte dessa mudança é também em decorrência das modificações na malha área. “Isso sempre influenciou muito, sobretudo para o turismo da capital, Vitória e em Vila Velha”, finaliza o presidente.

(*) Crédito da capa: Divulgação/Governo do Espírito Santo

(**) Crédito da foto: Divulgação/ABIH-ES