Chega agosto ou setembro e a movimentação começa nos escritórios dos controllers e gerentes gerais, além das lideranças das operadoras hoteleiras: é hora de pensar no orçamento para o ano seguinte. Sim, no ano passado essa tarefa foi um desafio tão grande que, não raro, fazia-se pelo menos três orçamentos: conservador (ou pessimista, fica a seu critério), moderado e otimista. E para 2022? Será que a missão continua tão difícil assim? O que é necessário se atentar? Quais as possibilidades e problemas à frente? Para auxiliar o hoteleiro, convidamos na sessão Opinião de hoje (4) Pedro Cypriano, managing partner da HotelInvest, para dar o caminho das pedras. Boa leitura!


Falar sobre o potencial de resultados de um empreendimento hoteleiro nunca é simples, especialmente diante da pandemia. Apesar da complexidade do tema, dividirei algumas reflexões para analisarmos juntos a pergunta: orçamento 2022, o que esperar? Como a resposta é difícil, talvez quebrá-la em partes facilite a nossa análise. Abaixo elencarei minha visão por temas relevantes e grau de incerteza, do menor ao maior.

Sim, o lazer doméstico ultrapassará os níveis pré-pandemia.

O principal driver dessa tendência não é o fechamento temporário das fronteiras internacionais, mas o câmbio. Com um dólar acima de R$ 5, parte das 10 milhões de viagens de brasileiros ao exterior e dos US$ 17,6 bilhões gastos com despesas internacionais continuará redirecionada ao mercado doméstico de lazer. E qualquer 10% que fique no Brasil representa uma explosão em consumo de viagens nacionais. Algumas evidências?

  • Já no segundo trimestre de 2021 as reservas do Airbnb ultrapassaram o pré-pandemia.
  • Com pressão de demanda, as diárias dos resorts crescem pelo país.
  • A CVC sinalizou expectativa de ter o melhor verão da história da companhia.

Se a pandemia é contida, a tendência de recuperação é inquestionável.

Quando olhamos para “fora”, nos países em estágio mais avançado da vacinação, é notória a aceleração do turismo. Nos EUA, onde mais de 50% da população já foi completamente imunizada, o setor hoteleiro chegou a julho com ocupação próxima a 70%, com destaque aos destinos de lazer. Até dezembro, sairemos dos atuais 28% para até 75% da população brasileira completamente imunizada. E há mais sinais de esperança nos EUA:

  • O valor das ações de líderes hoteleiros globais já se recuperou totalmente.
  • Os parques temáticos vivem o pico de valor de mercado, acima de 20% do pré-pandemia.
  • Além da ocupação, a tendência de queda em diária se reverteu.

Eventos dão sinais de recuperação, mas a passos moderados.

Não só internacionalmente, mas também no Brasil o setor de eventos foi reativado. Apenas na cidade de São Paulo, dezenas de eventos estão confirmadas para o último trimestre de 2021, incluindo alguns emblemáticos, como a Fórmula 1. No entanto, exemplos internacionais indicam que o público médio tem sido próximo a 50% do normal e que a total recuperação deva se estender para além de 2022. Certamente melhoraremos, mas ainda há risco, especialmente para produtos urbanos:

  • Os novos casos da variante Delta implicaram em cancelamentos de eventos nos EUA.
  • O tempo de organização de megaeventos é mais longo, especialmente os internacionais.
  • Eventos híbridos aumentaram o risco de substituição parcial de audiência física por virtual.

 

Pedro Cypriano - Opinião_orçamento 2022

“Sem surpresas negativas em âmbito sanitário, estou convicto de um 2022 muito bom para o turismo de lazer, ao menos em vendas. Também acredito em resultados da hotelaria urbana muito melhores, porém ainda abaixo do desejável, seguindo o interior com performance mais positiva. E como o principal ponto de atenção, reforço o desafio de acelerarmos a recuperação das tarifas.”

Pedro Cypriano, managing partner da HotelInvest

 

Demanda corporativa voltou a crescer, mas até onde chegaremos?

Até em São Paulo, que tem sido a cidade mais atrasada em recuperação hoteleira, no mês de julho a demanda reagiu. Inclusive nos dias úteis, a ocupação dos hotéis teve um salto de até 15 p.p. Com a aceleração da vacinação e a volta gradual da população aos escritórios, é natural que a performance do setor melhore. Porém, as incertezas sobre o ritmo de recuperação total são ainda altas, especialmente em grandes cidades. Pontos de atenção:

  • A ocupação de destinos corporativos pelo mundo segue mais baixa, geralmente em até 50%.
  • Pesquisa da McKinsey nos EUA indicou que a perda de viagens a negócios pode ser de 20%.
  • Com risco político e ambiente econômico desfavorável, o Brasil ainda deve sofrer em 2022.

Em resumo, um ano melhor nos espera, mas não na mesma intensidade para todos.

Sem surpresas negativas em âmbito sanitário, estou convicto de um 2022 muito bom para o turismo de lazer, ao menos em vendas. Também acredito em resultados da hotelaria urbana muito melhores, porém ainda abaixo do desejável, seguindo o interior com performance mais positiva. E como o principal ponto de atenção, reforço o desafio de acelerarmos a recuperação das tarifas. Com ociosidade e inflação alta, melhorar a gestão de receita será fundamental para acelerar a recuperação do setor.

E lembremos que não há regra de bolo para se aplicar a todo e qualquer mercado. Cada cidade e empreendimento têm peculiaridades que podem diferenciá-los da média do setor. É o momento de olharmos para dentro das empresas e entendermos onde há oportunidades para melhorarmos o resultado de nossos negócios. Alguns palpites?

  • Visão estratégica precisa chegar também à operação.
  • Inteligência de mercado é fundamental para uma gestão de receitas eficaz.
  • Eficiência em custos nunca foi tão importante.
  • Para além de 2019, precisamos discutir como voltar aos resultados de 2013 em valores reais.

(*) Crédito da capa: Valli_Photography/Pixabay 

(**) Crédito da foto: Divulgação/HotelInvest