Uma das consequências da pandemia foi a busca dos hotéis pelas vendas diretas, em busca de aumentar o fluxo de caixa sem necessariamente subir a diária média. Em um cenário tão competitivo, há ainda espaço para as agências corporativas? Com as mudanças nas rotinas de viagens de negócios e a adoção de ferramentas e meetings online, até onde vão as barreiras que impedem a retomada do público business?

Quem responde a pergunta é Gervasio Tanabe, presidente executivo da Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas). Segundo o profissional, hoje as agências precisam passar por um momento de reinvenção. “A tecnologia oferece as alternativas, mas as valiosas informações sobre essas alternativas só um profissional gabaritado pode ajudar o consumidor. E sabemos que o cliente quer ser tratado de maneira diferente. Basta olharmos para as experiências que temos hoje, com bancos, operadoras de celular, etc”, diz.

Com as demandas concentradas na experiência do cliente, a resposta pode ser o atendimento mais humanizado. “Mais que isso, com alguém que lhe ouça e busque uma solução para seus problemas. Em síntese é isso que acontece no turismo também. Quanto mais evoluímos em nossas recompensas, mais evoluímos nas nossas necessidades. E cada vez mais buscamos ser diferenciados. E ser diferenciado não é ser atendido por um aplicativo”, analisa o presidente.

Uma pesquisa realizada pelo Trvl Lab apontou que o consumidor tem buscado mais comprar direto do hotel e com pouco tempo de antecedência. Será possível virar esse jogo? Segundo Tanabe, a única alternativa será oferecer, como também disse acima, valor ao serviço prestado ao cliente. “Compras online não permitem oferecer esse valor e conhecimento. E mais, comprar serviços pela internet não é o mesmo que comprar uma TV ou um celular. Serviço é algo intangível”, afirma.

A pesquisa também apontou uma maior diversificação na compra, em que 60% das pessoas têm optado por comprar componentes da viagem separadamente, enquanto 25% prefere pacotes. Ou seja, o momento é mais do que nunca, voltado para a personalização da experiência.

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Tanabe: um dos maiores aliados para a retomada do corporativo é o tempo

Agências corporativas: a falta de demanda

Para acompanhar essa nova fase, o setor precisa de adaptação, o que inclui o segmento que mais tem se mostrado afetado pela crise: o corporativo. Com a popularização de ferramentas como o Zoom e os receio das viagens, os executivos tendem a se deslocar menos. Segundo Tanabe, a resposta para o problema está em oferecer muito mais valor ao cliente. “Só assim conseguiremos convencê-lo a retomar as viagens. Provar pra ele que é melhor realizar as coisas viajando do que no escritório, e que negócios podem acontecer de maneira melhor com encontros face-to-face. Mais do que nunca, qualidade nas entregas serão fator de diferenciação. Claro, difícil a curto prazo isso acontecer, mas melhor fazer do que cruzar os braços e rezar por um milagre”, comenta.

Ainda enfrentando um grande desafio, o executivo acredita que o receio das empresas em voltar a viajar é uma das principais barreiras que desacelera a retomada do setor. “As empresas colocaram seus colaboradores em home office e proibiram qualquer tipo de viagem. E parte das grandes companhias, os maiores consumidores de viagens corporativas, estão apresentando resultados positivos impressionantes em seus balanços contábeis. Logo, a viagem para parte delas tornou-se dispensável. Esse é o maior temor que se apresenta”, observa.

Além do enfoque nos negócios pessoalmente, Tanabe também acredita que outro aliado do turismo corporativo será o tempo. “Ferramentas como o Zoom minimizam as viagens, certamente, mas não acabam com elas. Acho que existem momentos e momentos para se utilizar essas plataformas. Hoje todos já estão exaustos disso, nos tornamos reféns. E é da natureza humana cansar-se. Acho que é o que vai acontecer com o passar do tempo. As capacidades de desenvolvimento e evolução só acontecem com as trocas de ideias. Estamos muito mais concentrados pessoalmente do que numa tela de computador”, finaliza.

(*) Crédito da capa: StelaDi/Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/Abracorp