Desde que chegou a Gramado, em fevereiro deste ano, Christian Mansfeld se sentiu mais perto de casa. Chileno e descendente de alemães, o gerente de A&B (Alimentos & Bebidas) do Buona Vitta já tinha certa inclinação a viver na cidade que dialoga diretamente com a cultura germânica. À frente do restaurante Dom Milo, o profissional toca o empreendimento com a missão de fazer da gastronomia a alma do resort inspirado na região da Toscana.

“O A&B é a alma do hotel. Nosso desafio é fazer com que os hotéis respirem gastronomia desde o momento em que o hóspede chega. É o cheiro de café no lobby, o aroma de pizza no restaurante com aquele sentimento acolhedor que abre o apetite”, declara Mansfeld.

O gerente, que vinha atuando com assessoria e consultoria gastronômica durante a pandemia, teve sua última passagem pela hotelaria no Pratagy Beach Resort, onde respondia como chef executivo e assessor. “Foi uma bela experiência atuar no Nordeste ao lado do Bernardo Amorim. Também ajudei a trazer o conceito da marca Dolce para o Ouro Minas Palace, onde tenho uma relação quase que familiar com a Érica Drumond”, conta.

Em fase de ajustes, a gastronomia do Buona Vitta é pautada na cozinha italiana, como pede a proposta de hospedagem do empreendimento. Com massas e carnes em destaque no menu, o Dom Milo é uma das vitrines do resort da Gramado Parks. Para atrair não apenas hóspedes e proprietários ao espaço, Mansfeld aposta em experiências como o Varanda Toscana, que acontece duas vezes por mês na propriedade.

“Gramado é sempre um desafio por sua grande oferta gastronômica, mas o serviço é o diferencial. A qualidade do produto e atendimento não tem negociação. O Varanda Toscana foi criado com o intuito de trazer o gramadense para o Dom Milo e este ano será de consolidação do restaurante. Oferecemos um conceito enogastronômico com mais de 400 rótulos de vinhos que é um dos nossos maiores atrativos”, continua o gerente.

A cultura do servir

Em sua gestão, Mansfeld afirma que dará prioridade aos treinamentos e captação de talentos. O departamento fez um estudo para detectar perfis de profissionais que se encaixam na proposta do restaurante, com o objetivo de “colocar as pessoas certas nos lugares certos”, de acordo com o executivo.

“Entendo que precisamos trabalhar o serviço, que é algo que está esquecido na hotelaria como um todo. As pessoas precisam gostar de servir e este será o nosso foco: desenvolver uma cultura de serviços para superar as expectativas do cliente. Não importa se é um hóspede, um proprietário ou uma pessoa de fora, o tratamento é o mesmo. Passou da porta, o cliente é rei”, complementa.

O Buona Vitta está em fase de desenvolvimento de seu menu de inverno, com grandes expectativas para a alta temporada em Gramado. Mas para estar em constante renovação, o Dom Milo busca criar novos cardápios com a chegada da primavera, além de ter a personalização em seu DNA.

“É preciso entender o que o cliente gosta e quer comer. Muitas vezes não é o que o hotel gostaria de vender, mas precisamos nos adaptar às necessidades e superar expectativas. Nosso menu de inverno traz o ossobuco e combinações de massas e carnes. Em outubro, colocaremos o cardápio de primavera, mais orientado em saladas, pratos leves e antepastos”, explica Mansfeld.

E o Dom Milo não se restringe a sua oferta apontada no menu. Para o gerente, flexibilidade faz parte da construção de experiências memoráveis e da essência da gastronomia em si. “Esta é a magia da cozinha de criar sabores. No hotel, o cliente não tem que se sentir em casa, mas melhor do que em casa. E neste aspecto, a gastronomia tem um papel fundamental. Queremos que o Dom Milo e o Buona Vitta seja um conceito de hotel-restaurante e não de um hotel com restaurante”.

Carreira

Com mais de 30 anos de experiência em A&B, Mansfeld acumula passagens em diferentes países e empresas. Em sua trajetória profissional, trabalhou na Alemanha, Chile, Cuba, Caribe, entre outros mercados internacionais. Apesar da vasta vivência no setor, ele se considera um eterno professor e aprendiz. “Minha carreira é pautada em duas etapas: ensinar e aprender”.

Mansfeld foi gerente de A&B no Grand Hyatt Santiago nos anos 90 e veio ao Brasil para atuar em Belo Horizonte, no Ouro Minas, onde colocou em prática os ensinamentos que adquiriu em uma grande rede. De volta ao Chile, foi contratado pelo Ritz-Carlton e, em seguida, passou a responder como diretor de Operações no Valle Nevado.

Uma das grandes curiosidades de sua carreira foi em Cuba. Convidado para trabalhar em uma unidade da Meliá Hotels em Havana pelo próprio Fidel Castro, Mansfeld conheceu o ex-presidente da ilha durante a Cúpula Ibero-americana, no Chile. “Conversávamos sobre vinhos, mas nunca sobre política”, brinca. “Nos reencontramos quando Fidel veio a Belo Horizonte para encontrar Itamar Franco, governador de Minas Gerais, em 1999”.

Em terras brasileiras, o executivo também trabalhou no Bourbon Atibaia e foi diretor de A&B da Atlantica Hospitality International durante seis anos. Especialista no preparo de peixes, ceviches e risotos, o gerente afirma que o desafio da gastronomia hoteleira é a venda. “Fazer é fácil. Vender é difícil. Por isso, digo que o cliente precisa estar envolvido por imagens, aromas e pratos que deem água na boca”.

(*) Crédito da foto: Peter Kutuchian/Hotelier News