A lição de casa foi feita: enxugar custos, renegociar com fornecedores e parceiros, garantir uma operação segura e… tomar decisões difíceis. Roberto Bertino, presidente da Nobile Hotels & Resorts, vai guardar 2020 na memória pelo trabalho intenso realizado e, claro, os ensinamentos adquiridos. Neste bate-papo com a reportagem do Hotelier News, Bertino falou desses desafios, dos ajustes realizados na rede e os projetos para 2021.

Antes, um contexto atual da situação da Nobile. Segundo Bertino, 99% dos hotéis já retomaram operações. “Só falta Uberlândia (MG), mas por decisão única dos investidores”, explica. “Em algumas praças secundárias já temos GOP (lucro operacional bruto, na sigla em inglês) positivo. A virada ocorreu em setembro, depois de um agosto ainda fraco. Há dois meses, atingimos 44% da receita de 2019. Em outubro, o percentual subiu para 68%”, completa.

O fundador da Nobile reconhece, contudo, que praças centrais vêm tendo mais dificuldades, casos do Rio de Janeiro e São Paulo. “O corporativo vai voltar lentamente, principalmente nos hotéis de eventos, até porque os híbridos não compensam a perda de receita. Hotéis business terão momentos difíceis”, avalia. “Propriedades upscale mais ainda. Hoje, menos é mais, por isso vejo unidades econômicas com um caminho melhor nesta retomada”, completa Bertino.

Nobile, ajustes e desafios

Para chegar ao momento atual, voltemos às linhas iniciais do texto. Bertino conta que a Nobile focou bastante na operação de março a junho. “Investimos bastante nos protocolos e o baixo índice de infectados na rede, nem 5%, mostra que acertamos. A parceria com o Bureau Veritas também foi um passo importante”, comenta. “Em paralelo, enxugamos bastante os custos, operando de forma austera. Já na ponta dos investidores, o que foi mais difícil foi realmente acesso ao crédito”, acrescenta.

Em relação aos desafios para os próximos meses, Bertino vê alguns pela frente. “O primeiro deles acredito que seja fazer a recomposição das reservas de caixa dos hotéis. Uma segunda onda também seria preocupante, deixando muitas propriedades em situação mais frágil. O momento é de ser precavido”, avalia. “No pior cenário possível, acredito que alguns hotéis terão que tomar opções mais extremas, incluindo encerramento de atividades.”

Nobile - retomada com Roberto Bertino1

Bertino: 99% dos hotéis da rede estão reabertos, à exceção da unidade de Uberlândia (MG)

Há ainda desafios mais imediatos, como, por exemplo, o ritmo de retomada da demanda. “Por enquanto, traçar um cenário está muito difícil. Mesmo que a demanda reaja, vejo um delay grande entre a retomada da ocupação e da diária média”, acredita Bertino. “Aposto em uma recuperação mais perene a partir de abril”, completa.

Por fim, embora tenha perdido hotéis do portfólio, ele destaca que a Nobile não está parada no mercado. “Tínhamos um pipeline de 18 hotéis este ano. Destes, vimos que não havia condição de seguir com cinco. Hoje, 13 contratos estão bem avançados, sendo apenas um para implantação – os demais são conversões”, revela. “Entre elas, cinco são para licenciamento de marca. O positivo, e que nos motiva, é que vêm surgindo oportunidades de parceiros da Ameris para conversão”, finaliza.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Nobile Hotels & Resorts