Móris Litvak

Como leitor assíduo que sou do Hotelier News, achei muito oportuna e muito bem feita a série de reportagens sobre a empresa OYO, que vem formando uma enorme rede, no Brasil e no mundo, convertendo pequenas propriedades à sua bandeira.

Quero deixar aqui registrado um caso que eu mesmo acompanhei de perto. Minha empresa é voltada a suprir sistemas para o mesmo público alvo da OYO, pequenas propriedades, pousadas e pequenos hotéis. Tínhamos (assim mesmo, no passado…) um cliente em uma capital do Nordeste que, de repente, pediu a rescisão do contrato conosco. Como é normal, tentamos saber a razão, sem sucesso. Ou melhor, disseram que estavam fechando o hotel, aliás muito bem localizado em área histórica da cidade. Também como é normal, depois de algum tempo tentamos voltar ao contato. Foi quando soubemos que este hotel havia sido convertido à bandeira da OYO. O novo proprietário me disse que estava fazendo uma grande reforma, tudo de acordo com as orientações de engenheiros e arquitetos da “franqueadora”.  E não apenas a parte arquitetônica foi confiada à OYO, o hoteleiro me disse que agora não tem mais acesso às OTA’s, nem tarifas nem disponibilidade, nem nada. Até o telefone é o 0800 da OYO.

Enquanto esse hotel foi nosso cliente, praticava tarifas ao redor de R$ 100,00, com uma ocupação por volta de 60%.  Agora ele está a venda no portal da OYO por preços que começam em R$ 38,00, menos do que uma singela cama num hostel na mesma região.  Aí eu pergunto: como pode? Mesmo com hipotéticos 100% de ocupação, não dá para o hotel pagar suas contas e fazer frente à manutenção requerida quando a ocupação é alta. E ainda pagar a franqueadora… É claro que a realidade vai se impor rapidamente. Desse jeito só é bom para a OYO, que tem que mostrar números exuberantes para seus investidores. Talvez, em outras condições, com um contrato mais equilibrado, possa ser bom para ambos os lados.

E o que leva um hoteleiro a fazer isso? Bom, obviamente eu não estive nas reuniões que devem ter acontecido entre o hoteleiro e o pessoal da OYO, mas pode ser que tenham mostrado um cenário cor-de-rosa, iam vender tudo, com muito lucro pra todo mundo, etc, etc. Uma festa !! Vender a “preço de banana” eu também vendo, qualquer coisa. Agora, ganhar dinheiro com isso, é outra história. Aprendi com um respeitadíssimo hoteleiro de São Paulo que “o lucro é a dignidade do negócio”, uma verdade antiga, que não vai ser mudada pela tecnologia, apesar de várias startups não concordarem. 

Mas será que são apenas promessas que fazem o hotel adotar esse tipo de “solução”? Não. Como eu disse acima, meu público alvo é composto desses pequenos empresários, muitos deles.  Observo suas ações, modo de administrar, vender, etc há muitos anos. Afinal, aqui no Brasil ser empresário, e não importa o tamanho do negócio, é um ato de heroísmo. Existem muitos fatores que levam os pequenos hotéis a aderir a um modelo como o da OYO. Primeiro, muitos destes pequenos hoteleiros costumam ter outros negócios e não conseguem se dedicar ao hotel ou pousada conforme o negócio exige. Existem aqueles que montam uma pousada achando que vão ter uma vida idílica, vivendo num local tranquilo etc mas a realidade é que qualquer “pousadinha” – e o termo não é pejorativo – exige muito trabalho, e a presença constante do dono. Existem também aqueles empreendedores que montam, ou compram um hotel em funcionamento, mas nunca foram do ramo, e por aí vai.

Aderir a uma bandeira, seja qual for o tipo de contrato, exige investimentos e/ou abrir mão de uma parte das receitas. Então, se é para investir sem perder as rédeas do seu próprio negócio, porque não investir em tecnologias de gestão, de reservas, marketing digital etc?  A maioria dos pequenos hoteleiros ainda acha que essas tecnologias foram feitas para grandes hotéis, e serem operados por experts em TI, e que custam uma fortuna, e por isso não compensaria. Não é assim. Alguns de meus clientes tem a partir de 4 ou 5 UH’s e estão muito satisfeitos com os resultados. O que é preciso ter em mente é que a implantação exige dedicação por um pequeno tempo, no início do processo. Depois a operação vira uma rotina.

É bem verdade que cada caso é um caso. Eu já disse aqui, em posts anteriores, que a simplicidade, na maioria das vezes, é sempre uma ótima alternativa. Há mais de 20 anos acompanho o setor, e posso dizer, sem medo de errar, que vale a pena para o pequeno hoteleiro se esforçar para manter o seu negócio sob seu controle.

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Formado em engenharia pela USP, Móris Litvak trabalhou na indústria de computadores quando esta surgiu no Brasil e, mais tarde, em assistência técnica. Fundou a WebBusiness em 1996, que hoje chama-se Omnibees. Iniciou fazendo sites, tendo concentrado-se em sites para hotéis e logo focado em reservas online. Atualmente ele comada a easyHotel, voltada ao fornecimento de tecnologia de gestão e reservas para pequenos meios de hospedagem.

(*) Crédito da foto: ArquivoHN