A Marriott International, que aderiu em 2019 ao all inclusive, diz que a rede está pronta para liderar e aproveitar as transformações do seu modelo de negócio no segmento de resorts, que passou de ofertas mais econômicas para outras focadas no luxo. Agora, desde que essa conversa entrou em pauta, muita água passou debaixo da ponte e uma das discussões internas mais prementes dentro da operadora norte-americana foi qual seria a melhor estratégia para crescer.

Após a assinatura de cinco resorts na América Latina e Caribe, a Marriott aumentou seu portfólio para 37 hotéis, entre alguns já em operação e outros no pipeline, somando 12.234 apartamentos. Essa expansão, segundo executivos da empresa, veio em grande parte por meio de aquisições e parcerias. Na lista estão a compra, em 2019, do Elegant Resorts, que adicionou sete hotéis ao portfólio. Houve ainda um acordo mútuo, em fevereiro, com o Sunwing Travel Group, que adicionou outras 19 propriedades sob a bandeira Blue Diamond Resorts.

Apesar disso, Craig Smith, Group President & Managing Director da divisão Internacional da Marriott, revela que a empresa está determinada a expandir sua plataforma all inclusive usando suas marcas já existentes. “A decisão foi tomada, vamos apenas usar nossas marcas”, declara em entrevista a Hotel News Now. “No início, pensamos que iríamos começar com uma, talvez duas. “Rapidamente, contudo, percebemos que havia demanda por mais verticalidade. A verdade é que, no final do dia, os hóspedes só querem saber em que espaço estão e querem pagar de forma diferente”, completa.

Laurent de Kousemaeker, diretor de Desenvolvimento da Marriott para América Latina e Caribe, afirma que muito deste potencial vem do entendimento de que resorts all inclusive podem operar com qualquer faixa de preço. “Quando chegamos e dissemos ‘vamos usar nossas marcas e algumas de nossas bandeiras de luxo nesse segmento de all inclusive‘, houve reações diferentes. Algumas pessoas acreditam que all inclusive só funciona na camada inferior e quebramos esse paradigma “, pontuou.

“Houve um debate interno se deveríamos criar uma nova marca e, posteriormente, a ideia era criar duas novas marcas no modelo, muito porque essa era a percepção do que os concorrentes estavam fazendo. Esse segmento cresceu muito rápido e vimos que existia possibilidades no mercado de luxo para o all inclusive, assim como há também nas marcas lifestyle e em todo nosso portfólio”, comenta.

Possibilidades

Marriott - estratégia all inclusive_Laurent de Kousemaeker

Kousemaeker: concorrentes endossam estratégia da Marriott

Já Smith afirmou que bandeiras de luxo consagradas como Ritz-Carlton estão preparada para adicionar empreendimentos de all inclusive. Segundo ele, até mesmo a W Hotels se encaixa facilmente na proposta. O executivo acredita que existem dois fatores determinantes para saber se há fit com o modelo. “É a reputação da marca e se, na cabeça do consumidor, ele sabe mesmo o espaço que essa bandeira ocupa. O Ritz-Carlton oferece isso. Mais ainda, sabemos que os hóspedes do Ritz-Carlton desejam a experiência all inclusive, então é unir os dois”, avalia.

Smith disse ainda que ficaria “desapontado” se a Marriott pelo menos dobrasse seu portfólio all inclusive nos próximos cinco anos. Parte desse crescimento virá da América Latina e do Caribe, mas não todo. Para ele, a demanda do grupo por hotéis desse modelo é um fator que pode até mesmo mudar a geografia do setor. “Então a pergunta é: precisa-se necessariamente ser um destino turístico ou de praia? Ou pode cidades nas montanhas ou algo parecido podem funcionar também no futuro? Estamos olhando para tudo isso”, diz.

Redefinir “all” é fundamental para a estratégia da Marriott de aumentar seu portfólio no segmento. Parte disso, na visão da rede, está também na mudança da percepção, por exemplo, de que hotéis all inclusive ganham menos dinheiro. Segundo Smith, atualmente, as pessoas estão gastando mais dinheiro dentro do modelo all inclusive e vê isso como uma tendência positiva, até porque pagam antecipadamente. Ele afirma que o modelo inclui mais do que hospedagem e A&B (Alimentos & Bebidas), já que, geralmente, há entretenimento vinculado.

“Houve um tempo em que precisávamos oferecer grandes shows, mas vimos isso mudar e evoluir completamente. Os hóspedes se interessavam realmente pela oferta de comida. Além disso, o conceito de atividades nas propriedades também tem mudado bastante”, considera.

Vale destacar que o movimento da Marriot não é único no mercado. Outras grandes operadoras também estão atuando no modelo all inclusive. Bom exemplo é a Hyatt Hotels Corp, que recentemente adquiriu o portfólio da Apple Leisure Group. “É estimulante ver essas transações, ver o foco em all inclusive, porque de certa forma endossa o que estamos fazendo”, finaliza Kousemaeker.

(*) Crédito da capa: pufacz/Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/Marriott International