Quando o anúncio da compra aconteceu e os nomes dos empresários por trás do negócio surgiram, já se imaginava que o novo Laje de Pedra não seria um projeto de hotelaria tradicional. Sabia-se, contudo, que uma bandeira conhecida fatalmente atrairia mais atenção – e potenciais investidores – para o novo empreendimento. O suspense sobre a futura marca do icônico hotel de Canela (RS) permaneceu até agosto deste ano, quando nome da Kempinski Hotels foi confirmado, marcando duas estreias: a da centenária rede na América do Sul e da própria empresa alemã no segmento de multipropriedade.

Para muita gente que trabalha com desenvolvimento hoteleiro ouvido pelo Hotelier News, o anúncio foi realmente uma surpresa. Em franca expansão, com 128 projetos confirmados no país, o segmento de multipropriedade ainda deixa muito desenvolvedor imobiliário ressabiado, apesar do VGV (Valor Geral de Vendas) bilionário de R$ 28 bilhões. Mais ainda, o setor é dominado por marcas e operadoras nacionais, muito embora a chegada do Hard Rock Hotels vá ocorrer e a Wyndham Hotels & Resorts também esteja investindo nessa indústria. Diante disso, uma pergunta naturalmente apareceu: estaria a Kempinski Hotels ciente de onde estava se metendo?

A resposta é sim. Em passagem pelo Brasil, Christophe Piffaretti, CDO (Chief Development Officer) e membro do Conselho de Administração da Kempinski Hotels, conversou com a reportagem do Hotelier News há duas semanas. “Temos 83 unidades no mundo e, apesar de gerirmos branded residences  (com proprietários, portanto), é mesmo nosso primeiro projeto de fractional (multipropriedade). Ainda assim, no fim do dia, o business continua o mesmo: precisamos operar um número x de apartamentos”, afirma.

Segundo Piffaretti, as conversas para a estreia da marca no Brasil começaram em abril de 2020. “Assinamos uma carta de intenções em dezembro. Posso te garantir que já recusamos muitos projetos que não faziam sentido com a marca, mas esse não é o caso”, explica o executivo, acrescentando que a dupla de empresários brasileiros que compraram o Laje de Pedra sabia o que estavam fazendo ao procurá-los. “Este é o primeiro projeto que assinamos sem eu ter visitado o local”, diz Piffaretti, destacando que isso aconteceu em função da pandemia.

O executivo fez questão de destacar a boa relação com os dois empresários envolvidos no projeto. Segundo ele, tanto José Paim, quanto José Ernesto Marino, entendiam a cultura da marca Kempinski, compartilhavam da mesma visão e viam um encaixe perfeito do projeto do Laje de Pedra e a bandeira de luxo. “Veja, não somos uma rede hoteleira tradicional. Somos, na verdade, uma coleção de hotéis de luxo”, pontua.

“A história incrível do Laje de Pedra, a forte presença de colonização europeia na região, e em especial alemã… tudo isso fazia sentido. Um hotel em São Paulo, por exemplo, seria um movimento óbvio demais. Aqui estamos diante de um produto incrível e histórico, que vai nos posicionar bem no mercado brasileiro”, completa.

Kempinski - entrevista com executivos

Destribats, Piffaretti e Peter-John Gilbert, vice-presidente de Serviços Técnicos da rede

Planos e operação

Também presente ao bate-papo com o Hotelier News, Xavier Destribats destacou que a rede alemã já está em busca de gerente geral para o Laje de Pedra. Diante do perfil da propriedade, que terá hóspedes e proprietários de frações imobiliárias no dia a dia da operação, o COO (Chief Operating Officer) da rede Kempinski nas Américas disse que busca um executivo com características específicas.

“O gerente geral precisa ser um grande anfitrião, que seja reconhecido pelos hóspedes e pelos proprietários”, indicando que precisa de um profissional que não se prenda ao escritório. “Procuramos uma pessoa carismática, que precisa fazer com o que o cliente se sinta em casa. Ao mesmo tempo, como o hotel tem um forte componente de A&B (Alimentos & Bebidas), ele vai precisar também ter grande expertise no departamento”, acrescenta.

Em relação ao A&B, Destribats confirmou que o empreendimento terá vários pontos de venda, que serão geridos pela Kempiski Hotels e empresas parceiras locais. Um desses casos é o restaurante 1835, fruto da parceria com a 20BARRA9. “O café da manhã é algo que não abrimos mão, até porque é uma refeição que faz parte da cultura da empresa e germânica. Alguns dos bares e rooftop também ficarão conosco”, explica. “Ao mesmo tempo, esses parceiros conhecem a alma gaúcha e serão também muito importantes para o hotel”, acrescenta.

Com início da operação previsto para 2024, o Kempinski Laje de Pedra tem seu projeto de arquitetura assinado pelo escritório Perkins + Will. Com a renovação, o hotel ampliará de 234 para 366 o número de apartamentos. O investimento previsto chega a R$ 500 milhões, que será financiado com a venda de frações imobiliárias.

O resort terá quatro restaurantes, cinco bares, espaço Kids Club e Spa & Fitness Center. Está previsto também um centro de convenções de aproximadamente 2.500 metros quadrados, com grande foco em atividades sociais e culturais. Outro destaque é uma praça coberta que será erguida para funcionar como um hub para as áreas de entretenimento do complexo, além de um anfiteatro.

(*) Crédito da capa: Divulgação/Kempinski Laje de Pedra

(**) Crédito da foto: Vini Dalla Rosa/Kempinski Laje de Pedra