“Jesus queira me livrar de esporte ou de terno e
não deixe eu ir pra o inferno assistir o jogo lá.”

A fenomenal dupla de embolada “Caju & Castanha” gravou uma música chamada “futebol no inferno”, aonde disputam a vitória, “o time de Satanás ou o quadro de Lampião”. É uma paródia hilária, que fala de campeonato, loteria, CPI, arbitragem com granada na mão, transmissão radiofônica e juízo final. O mote deste patrimônio cultural brasileiro é que estão de lados opostos, Satanás e sua esquadra e Lampião e seu corajoso time de várzea. Não há rolo, gol de mão, desonestidade, homem da mala, etc. Existem a lógica honesta de Caju & Castanha ou o fundamento da Moral do Kant – você escolhe.

Meu pai, que entre outras aventuras foi diretor de presidio, contava que o belo bandido Lucio Flávio (conhecido como o diabo loiro) sempre dizia: “bandido é bandido, policia é polícia – e nós não nos misturamos.” Como eram bons os anos 70, com aquelas ressalvas republicanas de praxe…

O fato é que sem ser ostensivamente maniqueísta, a vida sempre nos lembra que devemos tomar um partido profissionalmente – defender seu emprego, sua empresa ou sua entidade como se todo o resto fosse barreira a ser ultrapassada. Meio como não acender velas para dois santos, dar como uma mão ou tirar com a outra e, a máxima das máximas, honrar as calças que veste.

O segmento de consultorias na América é profundamente segmentado: existem empresas que só compram ou vendem hotéis, outras que fazem estudos de mercado, outras que professam seus teoremas operacionais, consultorias de A&B e por aí vai, meu ético leitor. Essas empresas tem uma visão muito clara sobre para quem trabalham e porque trabalham. “O homem é o que ele faz de si mesmo” dizia Hegel dentro de sua ampla visão humanista sobre a educação; o homem, segundo ele, está sempre interagindo com seu meio sendo constantemente afetado pela exterioridade – seja por concordar, influenciar ou mesmo, aprender. Herdamos de Hegel o conceito de que somos responsáveis pelo aprendizado recebendo informações e transformando em conhecimento. Parece difícil, mas não é: somos expostos, questionamos, aceitamos ou mudamos – assim somos o que fazemos de nós mesmos.

Agora pense neste conceito de receber informação, colocar um molho barbecue, deglutir e transformar, dentro de nós, em conhecimento. Consultoria. É isso, consultoria. Você, meu caro, que foi fritado na informação por toda a vida, por agora deve ter um belo pacote de conhecimento ai nas suas entranhas intelectuais. E quanto vale o show, diria Aracy de Almeida? Depende da necessidade e de lado da cerca você escolhe estar. Vejamos; você é um consultor que trabalha para industrias de refrigerante. Quando Dolly sabe que você trabalha para Coca; Coca sabe que você trabalha para Pepsi; sua vida empresarial corre riscos! Porém se você trabalha para Dolly; para suco de uva Casa de Madeira; Energético NS de Fátima etc; você será visto como um caboclo ético, cujas atividades profissionais não conflitam ou ainda, não oferecem risco de conflitar.

Hotéis são produtos estrategicamente muito sensíveis. Contratos de administração, clientes operados no CRM dos PMS; acordos regionais, nacionais ou globais, planos de desenvolvimento e outras cositas mais são como a formula da Coca-cola ou do Dolly.

Operar uma consultoria para toda a torcida do Coringão tem sérios riscos a sua imagens e lhe expõe a bate-bola jurídicos. De um lado existe a operadora (nacional ou gringa) e do outro o proprietário, individual ou grupo. Bater bola com os dois, “pela” frente ou por trás, pode te dar a impressão que você é o jogador do milênio. Mas talvez também possa te levar a final do “futebol no inferno, de esporte ou de terno, e assistir o jogo lá.

Deus me livre deu ir lá.”

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Julio Gavinho é professor universitário, orientador de MBA, proprietário da consultoria Escritório de Julio Gavinho, ex-diretor de Rio Quente Resorts, Ex-diretor de desenvolvimento do Marriott e do Hyatt no Brasil, Fundador, Developer e ex-Presidente da doispontozero Hoteis, proprietária da marca Zii Hotel.

(*) Crédito da foto: arquivo pessoal/Julio Gavinho