Mensalmente, redes e hotéis associados ao FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) refaziam suas projeções para saber o tamanho do rombo gerado pela pandemia ao longo de 2020. No fim, uma conclusão previsível, um pouco pior do que o inicialmente projetado: o RevPar das operadoras nacionais cedeu, na média, 52,9% frente a 2019, muito em função da queda de 49,9% na ocupação. Dependente do corporativo e do segmento Mice, São Paulo teve a pior performance do país.

Em meio a tantas notícias ruins, 2020 deixa também uma avaliação positiva e outra importante reflexão. Primeiro a parte boa: a queda de 6% na diária média deixa claro que o mercado se comportou bem e fugiu de uma preocupação forte lá no início da pandemia: guerra tarifária. A ponderação importante é que a segunda onda atrapalhou a retomada e que, no primeiro trimestre, o cenário atual não deve se alterar.

“Este ano será marcado pela vacinação e com as empresas ainda em busca da sobrevivência. A chave só vira a partir da vacinação em massa”, acredita Orlando de Souza, presidente executivo do FOHB. “Não há menor chance de mudança nas ocupação e no volume de viagens sem isso. O mote dos compliances das grandes organizações ainda é ‘no vacine, no travel’“, completa.

Dessa forma, Souza entende que o retorno aos padrões de 2019 só ocorre mesmo no ano que vem. “Ainda não será possível recompor as perdas do ano passado. Então, acho que tudo vai depender do ritmo da vacinação, quadro que ainda está incerto no país. Vamos ver como será o ritmo de imunização da população no primeiro semestre”, avalia.

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Diretor geral da ICH Administração de Hotéis, Alexandre Gehlen concorda com a análise de Souza, mas faz uma ponderação. “O CPF está gradualmente voltando a viajar. Na Intercity, tivemos um movimento bom até dezembro, quando aconteceu um aumento no número de casos de coronavírus no país. Tivemos muitos cancelamentos no corporativo, mas agora está havendo uma crescente de vendas novamente. No entanto, estou me referindo às pequenas e médias empresas. Essas precisam sobreviver e estão viajando. Nas grandes, é como o Orlando falou mesmo”, explica.

De qualquer forma, Gehlen não foge da análise de Souza sobre este ano e reconhece que 2021 ainda terá muitos desafios pela frente. “Nosso orçamento para 2021 será 80% do que foi o de 2019. Este é só um exemplo, e, em termos de receitas, não conseguiremos recompor as perdas do ano passado”, revela. “A boa notícia é que, pelo menos, nossas margens melhoraram, até porque o ponto de equilíbrio dos hotéis estão mais baixos”, complementa.

InFOHB e os números

Numa análise mais a fundo dos resultados das operadoras associadas ao FOHB em 2020, percebe-se claramente que praças com um mix mais equilibrado entre lazer e corporativo performaram melhor. O mesmo vale para cidades com forte apelo de turismo de negócios ligados a setores que sentiram menos os efeitos da pandemia. “Onde a hotelaria gira em torno do turismo de negócios, congressos, feiras e reuniões, o impacto foi brutal”, diz Souza.

Vitória (que tem um relevante polo siderúrgico e de minério de ferro) e Manaus (onde fica a Zona Franca), por exemplo, registraram as melhores taxas de ocupação média do país, com 44,8% e 38,1%, respectivamente. Rio (33,8%), Recife (36,4%), Fortaleza (36,4%) e Salvador (33,1%), que têm um equilíbrio maior entre corporativo e lazer, tiverem índices mais positivos que São Paulo (23,4%) e Campinas (20,1%). Abaixo, veja os números completos por cidade.

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Diante do quadro atual, ainda de muitos desafios, Souza conta que o FOHB seguirá com as mesmas demandas com o governo federal. “Extensão ou reedição da MPs (Medidas Provisórias) 936 e 925, prorrogação do pagamento de impostos e inclusão do turismo entre os setores beneficiados no programa de desoneração continuam sendo nossas bandeiras”, revela.

Em relação ao acesso ao crédito, ele conta que as dificuldades seguem similares às do ano passado. “Hoje, em relação ao governo, tudo se limita ao Fungetur. No sistema financeiro privado, continua difícil. Se a empresa tem ativos reais para dar como garantia, até consegue. Como o setor tem uma taxa de risco considerável no contexto atual, quem obtém acesso encara ainda altas taxas de juros”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Peter Kutuchian/Hotelier News

(**) Crédito dos infográficos: Edição HN/FOHB