O cenário econômico de 2021 foi marcado pela alta inflação, o que afetou diretamente diferentes setores do mercado. E para 2022, a expectativa não é das mais otimistas. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa é a maior para outubro de 2002 e deve seguir pressionando a economia até 2022.

Segundo divulgado pela Folha de São Paulo, o crescimento da inflação vai além das revisões no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2021. Produtos e serviços devem sentir os impactos das elevações por fatores como dólar em alta, incertezas fiscais e retomada das perdas da pandemia.

Motivo de preocupação para analistas, o quadro traz risco de se espalhar pela economia, comprometendo o avanço das atividades, principalmente após a divulgação do IPCA de outubro, indicador oficial da inflação, que subiu 1,25% acima da média das projeções de mercado. Este é o maior acumulado desde janeiro de 2016 (10,71%), quando o país passava por um período de recessão.

“Estamos caminhando para uma inflação de dois dígitos ao final de 2021. Isso coloca muitas dificuldades para 2022”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.

“O câmbio continua pressionado, temos um cenário de muitos desafios fiscais, e o governo não sinaliza uma correção de rota. O problema da inflação nesse patamar é que ela pode se espalhar ainda mais”, acrescenta.

Inflação: segmentos afetados

O resultado da alta na taxa foi o crescimento nos preços de nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE. Com maior variação (2,62%), o segmento de transportes foi o mais impactado também devido ao avanço de 3,10% no valor da gasolina, que em novembro deve voltar a pressionar o IPCA após o anúncio de novos ajustes pela Petrobras.

Além dos combustíveis, os custos com energia elétrica também devem mexer no bolso da população até o início de 2022. A bandeira de escassez hídrica tem previsão de vigorar até abril do ano que vem. Desta forma, com gastos elevados, as empresas podem repassar os preços ao consumidor final.

O segundo maior impacto no IPCA de outubro veio das passagens aéreas, representando 0,15 ponto percentual. No mês passado, os preços subiram 33,86%, também impulsionados pela alta dos combustíveis.

Após a divulgação da taxa, analistas e instituições financeiras passaram a prever inflação acumulada de dois dígitos, na casa dos 10%, até o fim de 2021. Vale ressalta que, em função do encarecimento de bens e serviços, o BC (Banco Central) terá que elevar a Selic, taxa básica de juros, o que joga contra o consumo das famílias e investimentos empresariais.

A atividade econômica em 2022 deve enfrentar novos desafios em pleno ano eleitoral. A MB projeta estagnação (0%) do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano, mas não descarta uma recessão —queda do indicador.

José Ronaldo Souza Júnior, diretor do Ipea e professor do Ibmec-RJ, avalia que a inflação no Brasil deve continuar pressionada entre o final de 2021 e o começo de 2022. Ele relata que a volta do setor de serviços é um elemento a mais de impacto no IPCA neste momento.

Apesar disso, o analista projeta uma trégua nos preços ao longo do próximo ano, devido a fatores como os juros mais altos e melhores condições hídricas, que podem baixar a conta de luz.

O maior IPCA acumulado em 12 meses foi registrado pelo IBGE em maio de 2003. À época, o índice de inflação chegou a 17,24%.

(*) Crédito da foto: joelfotos/Pixabay