A escalada da inflação no Brasil ganhou mais um capítulo em março. Impulsionado pelo preço dos combustíveis e alimentos, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou para 1,62% no mês passado, após alta de 1,01% em fevereiro, segundo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Esta é a maior taxa para um mês de março desde 1994 (42,75%) e também a maior inflação mensal desde janeiro de 2003 (2,25%). Trata-se do índice mais elevado para 12 meses desde outubro de 2003 (13,98%). Com os resultados de março, já são sete meses seguidos com o indicador acima dos dois dígitos — o que reforça a perspectiva de que a taxa básica de juros (Selic) será elevada este ano para além dos 13% ao ano.

O resultado do mês passado foi bem acima do esperado. De acordo com o G1, o intervalo das projeções para o IPCA de março de 41 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, era de avanço de 0,54% a 1,3% — com média de 1,32%.

“O resultado é assustador”, definiu Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, ao citar pressões de preços espalhadas em diferentes grupos de produtos e serviços.

O índice de difusão também ficou acima de 70% pelo quarto mês consecutivo, de acordo com os dados do IBGE. O indicador mede o percentual de bens e serviços com alta de preços no mês, em uma amostra com 377 componentes.

Combustíveis e alimentos em destaque

Dentre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, oito apresentaram alta de preços em março. Os maiores impactos vieram dos transportes (3,02%) e alimentos e bebidas (2,42%) — setores de peso do IPCA. Juntos, os grupos representam quase a metade (43%) da inflação de março.

Nos transportes, o resultado foi puxado pela alta de preço dos combustíveis (6,70%). Em 12 meses, a gasolina, por exemplo, acumula alta de 27,48%. Também houve disparo no botijão de gás (6,57%), gás veicular (5,29%), etanol (3,02%) e diesel (13,65%). Os aumentos refletem o ajuste anunciado pela Petrobrás, em 11 de março.

Por outro lado, houve queda nos preços das passagens aéreas (-7,33%). Importante destacar, porém, que a metodologia do IBGE considera uma viagem marcada com dois meses de antecedência.

Já no grupo de alimentos, a cenoura avançou 31,37% – com acúmulo de 166,17% em 12 meses. Além disso, outros produtos como o tomate (27,22%), o leite longa vida (9,34%), o óleo de soja (8,99%), as frutas (6,39%) e o pão francês (2,97%) também ficaram mais caros.

Faixas de renda

A alta do petróleo e dos grãos fará com que a inflação afete famílias com diferentes faixas de renda em intensidades próximas este ano — ao contrário do observado no início da pandemia – quando a população de baixa renda foi mais impactada.

Segundo a Folha de São Paulo, para os economistas Aloisio Campelo Jr. e André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), responsáveis pelo estudo A pressão da pandemia sobre as famílias mais pobres, este é o cenário esperado em 2022.

Cconsiderando a inflação acumulada de fevereiro de 2020 a fevereiro de 2022, o IPC-FGV (índice de preços ao consumidor da Fundação) teve alta de 15,2%. A inflação das famílias de renda mais baixa foi de 16,8%, enquanto para as de renda mais alta, foi de 13,6%.

A diferença se explica, pelos dados de 2020, quando as pressões inflacionárias ficaram muito concentradas entre os alimentos, classe de despesa que compromete mais o orçamento de famílias menos favorecidas, seguida pelos gastos com habitação, que também têm peso decrescente conforme cresce o nível de renda.

Para os mais pobres, os itens que mais pesaram naquele ano foram energia elétrica, arroz e gás de botijão. Para os mais ricos, automóvel novo, conta de energia e passagem aérea.

Em 2021, a alta da gasolina surgiu como um novo fator de pressão para a inflação. Esse item tem maior peso para os mais ricos: representa 5% do consumo, o mesmo peso que o gás tem para os mais pobres. Na baixa renda, a gasolina representa apenas 1,6% dos gastos.

Para 2022, os dois pesquisadores esperam uma repetição do que ocorreu no ano passado em relação à distribuição da inflação, embora a lista de produtos que vão contribuir para isso seja diferente.

Segundo os profissionais, a escalada do preço do petróleo e dos grãos, sobretudo trigo, fará com que a inflação afete famílias de todos os níveis de renda.

(*) Crédito da foto: Agência CNI