Após o cancelamento do ano passado em função da pandemia, o  III Fórum Nacional de Hotelaria retorna hoje (18) ao calendário de eventos do trade. Em sua terceira edição e promovido pelo FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), o encontro – realizado no modelo híbrido – teve como tema O ano que nada aconteceu e tudo mudou.

Orlando de Souza abriu o fórum agradecendo os participantes presentes, entidades parceiras e mantenedores da associação, caso do Grupo R1, TOTVS e Harus. “É muito bom tê-los de volta depois de tanto tempo”, comentou o presidente executivo do FOHB, “Então, é importante agradecer a todos esses atores que nos ajudaram a realizar esse evento depois de tudo que passamos. É, de fato, um renascimento”, completou.

Na sequência, André Sacconatto, sócio da Gouvêa Analytics e consultor da FecomércioSP, fez uma retrospectiva macroeconômica, focando nas mudanças mundiais causadas pelas movimentações da China e EUA, bem como seus impactos no mercado brasileiro.

Trazendo para o contexto atual, em um mundo ainda em plena pandemia, o mundo aponta seguir com tendências inflacionárias. Pontos como aumento de juros, pressão de ajuste fiscal, retomada do consumo e poupança forçada pelo isolamento são destaque para vislumbrar o próximo ano.

No Brasil, após a revisão da projeção do PIB (Produto Interno Bruto) e previsão de inflação em 9,7% em 2021, o mercado vive momentos de incertezas. “Não temos crescimento de 4,5%, mas sim precisamos desse número pra voltar ao que éramos antes da pandemia. Não dá pra comemorar. Temos um panorama econômico complicado”, diz Sacconatto.

III Fórum Nacional de Hotelaria - André jpeIII Fórum Nacional de Hotelaria - André jpe

Sacconatto deu um panorama macroeconômico

Diante deste cenário, o Brasil vive incertezas, com tentativas de flexibilização e inflação a quase 11% em 12 meses, a conjuntura política conturbada provoca mais preocupação. “A queda de popularidade do governo em ano eleitoral favorece a falta de zelo fiscal, o que deixa o mercado em atenção. Grande parte das pessoas mantêm os investimentos em manutenção até as eleições”, acrescenta.

Desta forma, juros altos, investimentos menores e câmbio elevado devem ditar a retomada no ano que vem. “Teremos um crescimento menor, entre 0,5% e 1%, com dólar alto, mercado de trabalho menos dinâmico e endividamentos”.

Para o setor de viagens, as tendências consolidadas em 2021 devem ser mantidas no ano que vem. O turismo nacional seguirá em alta e a previsão é de que as pessoas direcionem suas poupanças e seu décimo terceiro para viajar.

“O Brasil tem sido bem sucedido na vacinação, já planejando a terceira dose para inibir uma nova onda. E é um país barato. Mesmo com a dificuldade da distância, ficará mais atrativo”, afirma o palestrante.


HotelInvest: interior se destaca frente às capitais em ocupação

Pedro Cypriano compartilhou dados da retomada no mercado brasileiro

Reforçando o panorama macroeconômico apontado por Sacconatto, Pedro Cypriano, sócio-diretor da HotelInvest, trouxe ao evento uma análise da retomada hoteleira nos últimos meses. Em sua apresentação, o executivo falou sobre os impactos da pandemia no turismo, pontos a serem considerados nos orçamentos de 2022 e o que esperar do setor no próximo ano.

“A média móvel de ocupação ainda está em estágio modesto. O interior é destaque com 14 pontos percentuais acima quando comparado às capitais, chegando a 72% em setembro de 2021 do que era antes da pandemia”, diz Cypriano.

Já as capitais ainda estão 26 pontos percentuais abaixo do pré-pandemia em termos de diária média. “Devido à ociosidade do mercado as tarifas foram pressionadas para baixo. Vemos uma queda de demanda, puxando o desempenho do mercado”, acrescenta. No interior, o indicador chega a 90% do performado em 2019.

III Fórum nacional de hotelaria

Cypriano apontou tendências para 2022

Em setembro de 2021, 21 dos 26 mercados pesquisados estavam com ocupação acima de 50%, número que pode ser comemorado, visto os problemas que o setor passou. Olhando para a diária média, praças do interior já chegam a índices próximos a 2019, com destaque para cidades vinculadas ao lazer. Em termos de RevPar, apenas seis dos 26 mercados estão com índices acima de 2019.

Considerando o turismo como um todo, até agosto a recuperação de faturamento do setor chegou a 56%, enquanto a demanda aérea nacional foi 75% reestabelecida. “Em 2022, provavelmente teremos o melhor ano do lazer nacional, pensando no ambiente macro”, prevê Cypriano.

O cenário econômico e sanitário são fatores de peso para o orçamento do ano que vem. Por um lado, a redução dos casos de Covid-19 e o avanço da vacinação ajudaram para que a torneira do mercado fosse aberta, o que explica picos de ocupação no lazer.

Em São Paulo, maior emissor de turistas do país, a ocupação vem ganhando tração, rumo a picos de 70%. Em outubro, o indicador chegou a 48%. Por outro lado, a diária média segue em ritmo lento, 34% abaixo de 2019. Vale ressaltar que apenas nos 15 primeiros dias de novembro os resultados do mês anterior foram superados em termos de ocupação.

Para 2022, os orçamentos serão baseados em uma economia instável, altas taxas de juros, política incerta e pandemia controlada. A expectativa é que não haja grandes mudanças nos hábitos de viagens, com a volta do velho normal, porém com certa volatilidade.


“Temos que ser amigos do futuro”, diz Flávio Rocha

Executivo do Grupo Guararapes destaca a importância da evolução tecnológica

Trazendo um case de fora do setor hoteleiro ao III Fórum Nacional de Hotelaria, Flávio Rocha, acionista e principal executivo do Grupo Guararapes, que inclui as lojas Riachuelo, comparou o cenário pós-pandemia a um mundo pós-guerra. Segundo o palestrante, ambos foram períodos ricos para a evolução tecnológica, ponto relevante do momento atual da retomada.

“Estamos com ferramentas em mãos que podem transformar o mundo. Temos que ser amigos do futuro. Esta é a primeira atitude que nos credencia a ter acesso aos poderes que a tecnologia nos traz”, afirma.

Rocha deu o exemplo da Kodak, empresa que detinha 75% do mercado fotográfico do mundo nos anos 1990, mas que optou por não investir em novas tecnologias e caiu no esquecimento do público. “É preciso ter criatividade para transformar as novidades em inovação e disrupção”, salienta.

III Fórum nacional de hotelaria - flavio

Rocha destacou o impacto da tecnologia no varejo

Apesar de toda a tragédia que a pandemia trouxe ao mundo globalizado atual, o executivo reforça que a crise também representou benefícios. Com as mudanças de comportamento do consumidor, o Grupo Guararapes se viu diante de uma nova concorrência: o e-commerce.

“Sabemos que o futuro é desafiador e estamos lutando nessa disputa acirrada que é ser um aplicativo de moda nos smartphones dos clientes. É briga de gente grande, mas sabemos que os usuários não terão 300 aplicativos em seus celulares. É necessário recorrência e relevância para conquistar esse espaço”, pontua.

Desta forma, o Grupo Guararapes aposta em um market place próprio, que oferece um espaço digital que estimula as compras direcionadas ao setor de moda. “A nossa aposta vem com o fato de market places generalistas já estarem consolidados, como Mercado Livre e Amazon. A moda pressupõe uma atmosfera e uma linguagem próprias, então estamos agregando outras peças que compõem esse mundo, como beleza, cultura, serviços e gastronomia”.

(*) Crédito das fotos: Vinicius Medeiros e Nayara Matteis/Hotelier News