Foram quase dois longos anos de tempestade para a hotelaria e, ao que tudo indica, 2022 será o ano da bonança. Se 2021 trouxe a luz no fim do túnel, mesmo com ondas agressivas de contágio e novas cepas, o setor respira otimismo para os próximos meses. Para a ICH Administração de Hotéis, recompor as diárias segue como um ponto nevrálgico na retomada, mas a expectativa de recuperação é consistente.

Em entrevista ao Hotelier News, Alexandre Gehlen, diretor geral e fundador da rede, revela que a previsão para 2022 é de recuperação acima de 10% dos níveis de 2019 para o RevPar. “O que esperamos para este ano é a continuação de uma virada que começou em outubro de 2021. Percebemos que o mercado voltou a viajar e tivemos meses muito bons. Com a chegada da Ômicron, em janeiro, observamos quedas, mas esperamos crescer o orçamento”.

E tanto otimismo tem contexto: a ICH encerrou 2021 com recuperação de 95% da receita de 2019 — superando as expectativas do grupo. Ainda com três empreendimentos fechados, a previsão é que dois deles retomem as operações em março — como é o caso do Intercity BH Expo — que reabriu as portas no dia 1º — e do Intercity Campina Grande.

Apesar da calmaria que paira sobre o setor, Gehlen salienta que ainda é necessário promover reajustes tarifários para uma recuperação encorpada. “Obrigatoriamente, precisamos crescer em preço. A ocupação tem que acompanhar esse processo. Em 2022, esperamos alcançar os patamares pré-pandêmico e quem sabe até acima. Não é um bom sinal recompor três anos depois. Se hospedar em hotel tem um preço e a hotelaria precisa resgatar isso”.

Para conseguir elevar as diárias, a ICH aposta nas viagens domésticas e no lazer, grandes catalisadores da recuperação hoteleira nos últimos meses. Com o caminho aberto, a rede espera recompor preço antes de voltar a contratar. “É um ponto difícil de abordar, mas temos essa oportunidade e estamos trabalhando para isso. O corporativo segue impulsionado por empresas menores, enquanto os eventos foram prorrogados por conta da Ômicron”, pontua Gehlen.

Por enquanto, a rede conseguiu recuperar em até 10% as diárias de 2019 — nada mal para uma indústria que vinha vivendo achatamento de preços desde 2014. “Estamos conseguindo recompor, mas a hotelaria chegou ao auge de uma crise anterior em 2017. Em 2018, começamos a elevar as tarifas”.

Ao analisar o período de janeiro a dezembro em comparação a 2020, a ICH teve aumento de 51% no faturamento, e um crescimento de 20% na taxa de ocupação. Para 2022, a rede espera elevação de 21% em ocupação frente a 2021. Já a projeção de faturamento é de 36% acima do registrado no ano passado.

ICH - projeções - alexandre gehlen

Esperamos a continuação da retomada, diz Gehlen

Variantes do vírus e de mercado

Identificar quais os algozes que compõem a crise é uma equação de muitos coeficientes. Em um verdadeiro efeito dominó, a pandemia arrastou uma série de entraves que vão muito além das ondas de contágios. Na ICH, a Ômicron acabou afetando com mais força praças vinculadas a eventos e público corporativo, enquanto destinos de lazer sofreram com problemas na malha aérea.

“Muitos eventos, congressos e treinamentos foram prorrogados e, consequentemente, hotéis de perfil convention sentiram mais do que os voltados ao lazer ou corporativo tradicional. Praças de lazer tiveram algum delay em função da malha aérea, visto que houveram muitas alterações e tripulantes contaminados”, avalia o diretor.

Mercados como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, dependentes de eventos e congressos, são os que mais sentem a crise. Destinos do Nordeste e do Sul do Brasil apresentaram excelentes performances. A praça de Salvador registrou ocupação anual de 70%, já a unidade de Intercity Maceió, em Alagoas, operou perto dos 80%.

Apesar de algumas praças ainda apresentarem desafios, a ICH estima que a ocupação em 2022 fique ainda 8% abaixo dos níveis de 2019, principalmente por conta do setor de eventos, que ainda patina para se recuperar.

Novos negócios

No fator desenvolvimento, a ICH firmou uma importante parceria para ser a administradora no Brasil da Tru by Hilton, marca econômica do portfólio da rede norte-americana. A estreia no país será com a inauguração do Tru by Hilton Criciúma (SC), em meados de março deste ano.

Outro projeto que contará com a gestão o grupo, em parceria com a Casa Hotéis, é o Own Time – Home Club Gramado, da incorporadora OnwnerInc., lançado em outubro de 2021, na Serra Gaúcha. No segundo semestre, estão previstas as inaugurações do Intercity Tatuapé, localizado na Zona Leste de São Paulo, e do Intercity Itapema, em Santa Catarina.

“Fechamos uma parceria importante com a Hilton que vai nos colocar em outro patamar da hotelaria econômica design. Também teremos em breve um Tru by Hilton em Chapecó, previsto para 2023”, revela Gehlen.

No ano passado, a rede também lançou seu braço de short-term rental, a Cityhome by Intercity Hotels. Concebida para gerir locações de curta, média e longa temporada de imóveis, aproveitando a expertise da rede hoteleira, Gehlen adianta os próximos passos para os negócios.

“O projeto já vinha sendo gestado antes da pandemia e olhamos o impacto em praças como Barcelona, Madri e Amsterdam. Vamos iniciar uma operação em Gramado e temos contratos firmados também em outras cidades. Queremos ser uma marca que explora a atividade colocando serviços de hotelaria com nosso know how, capitalidade e clientela. Temos projetos em Porto Alegre, Canoas e São Paulo, escolhendo a dedo os destinos”.

Relação com os investidores

Para engrenar os novos projetos, a relação com os investidores é parte vital. Com stakeholders variados presentes em conselhos, a ICH afirma ser transparente em todos os processos da rede.

“Em várias unidades temos uma situação de caixa confortável, o que nos permitiu passar de forma tranquila pela crise e manter um relacionamento saudável com investidores. Eles confiam na gestão e participam dos conselhos. Alguns hotéis precisaram de chamada de capital, mas em linhas gerais, considero o cenário muito positivo”.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/ICH