De acordo com levantamento recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), através da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada hoje (30), a renda média do trabalho voltou a cair no Brasil, atingindo o menor valor para o terceiro trimestre na série histórica, iniciada em 2012. O resultado, aliado à alta das passagens aéreas, limita o potencial do turismo doméstico, principal impulsionador da retomada do setor.

No terceiro trimestre, o rendimento real habitual dos ocupados foi estimado em R$ 2.459,00, de acordo com os dados divulgados pela entidade. Em relação ao mesmo período de 2020, a queda foi de 11,1%. Antes da divulgação dos números, o menor valor para o período de julho a setembro havia sido registrado em 2012 (R$ 2.462,00).

Ainda segundo o IBGE, o recuo da renda acontece de forma proporcional ao retorno dos trabalhadores informais ao mercado, visto que essa parcela da população costuma ter rendimento mais baixo, o que contribui para empurrar a média para baixo.

O resultado também é atribuído à alta da inflação. Isso ocorre porque o Instituto leva em consideração o comportamento dos preços na hora de calcular o indicador no país.

Apesar da instabilidade econômica apontada pelos dados, o Turismo mantém boas perspectivas. A estimativa é de que o setor contrate 478,1 mil trabalhadores formais entre novembro de 2021 e janeiro de 2022. Destes, 81,7 mil serão empregos temporários com o objetivo de atender à demanda da alta temporada, segundo estudo recente da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

IBGE: análise da série histórica

Segundo o levantamento dos quatro trimestres padrões do calendário, a marca mais baixa da série foi observada entre janeiro de março de 2012. Na ocasião, o valor atingido foi de R$ 2.438,00, valor ligeiramente inferior ao número mais recente.

“O nível de ocupação vem aumentando por meio da maior inserção de trabalhadores informais no mercado, de menor rendimento. Isso faz com que a média caia e, além disso, temos a questão inflacionária”, explica Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, em entrevista à Folha.

Ainda no terceiro trimestre deste ano, a população ocupada com algum tipo de trabalho no Brasil foi estimada em 93 milhões de pessoas, representando alta de 4% (3,6 milhões a mais) em relação ao trimestre anterior e de 11,4% (9,5 milhões a mais) frente ao mesmo período do ano passado, movimento que ajudou a reduzir a taxa de desemprego para 12,6%.

O IBGE afirmou ainda que, das 3,6 milhões de pessoas a mais na população ocupada em relação ao segundo trimestre, cerca de 54% (1,9 milhão) atuavam sem carteira assinada ou CNPJ. Ou seja, a informalidade respondeu por mais da metade das novas vagas.

O retorno dos profissionais informais ao mercado ocorre no momento em que a renda dos trabalhadores é impactada pela alta do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador final de inflação no país.

No acumulado de 12 meses até outubro, período mais recente com dados disponíveis, o índice teve alta de 10,67%, maior resultado acumulado desde janeiro de 2016, que registrou 10,71%.

(*) Crédito da foto: Ikzmiranda/Pixabay