Ontem (3), a IATA (International Air Transport Association) anunciou a estimativa de mais de 4 bilhões de passageiros aéreos em 2024. O valor corresponde a 103% em relação a 2019, período pré-pandemia. Com base nos dados, é perceptível a lenta recuperação do segmento internacional em relação à doméstica, o que pode favorecer a hotelaria brasileira.

Apesar das expectativas a curto prazo terem piorado por conta da variante Ômicron e as consequentes restrições governamentais, a previsão a longo prazo permanece otimista e inalterada em relação ao quadro geral apresentado em novembro, antes da nova cepa.

“A trajetória da recuperação do número de passageiros após a crise da Covid-19 não sofreu alteração com a variante Ômicron. As pessoas querem viajar. E quando as restrições de viagem são revogadas, elas voltam a voar.” afirma Willie Walsh, diretor-geral da IATA. “Ainda há um longo caminho a percorrer para chegar a uma situação normal, mas a previsão de evolução do número de passageiros é uma boa razão para estarmos otimistas”, complementa.

Doméstico x internacional

Embora a espera que os números totais de passageiros retornem aos valores anteriores a pandemia em 2024, quando separados por segmentos, os dados apontam uma vantagem de dois anos para as viagens internas.

Enquanto o doméstico apresenta expectativa de retorno já em 2023, com 103% dos índices de 2019, o mercado internacional vê recuperação apenas em 2025, atingindo 101% na mesma base de comparação. Até lá, a demanda doméstica já vai estar crescendo para além dos patamares pré pandemia, podendo registrar até 118% no número de passageiros.

Ainda assim, os números do mercado internacional trazem mais otimismo em relação à previsão de novembro de 2021, refletindo o relaxamento e eliminação das restrições no Atlântico Norte e Europa.

Variações regionais

Nem todos os mercados estão se recuperando no mesmo ritmo. Ainda que os países da Oceania estejam tentando se reconectar, a região da Ásia-Pacífico atingirá recuperação apenas em 2025, principalmente por conta da China, o maior mercado da região, que continua com sua política de tolerância zero à transmissão do vírus.

Outras duas regiões que esperam retorno apenas em 2025 são o Oriente Médio, por contar mais com a conectividade para viagens de longa distância, e a África, devido ao lento avanço da vacinação e ao impacto da crise.

Com a diminuição das restrições e maior preferência de viagens de curta distância, a Europa e a América do Norte representam os maiores indícios de recuperação. Em 2022, os passageiros de/para/dentro da América do Norte devem chegar próximo aos valores de 2019, com 94%, chegando à recuperação total já em 2023 (102%). Enquanto a Europa, vê a recuperação total somente em 2024 (105%).

Enquanto isso, o tráfego aéreo da América Latina, que tem se mostrado resiliente durante a pandemia, espera um forte 2022. Apenas atrás da recuperação da América Central, a América do Sul se mantém na média mundial, ao atingir recuperação total em 2024, com 103% dos valores de 2019.

IATA contra restrições

Com base nos dados, fica evidente que os principais fatores para a recuperação desses números são as restrições impostas por governos. Por esse motivo, a IATA faz questão de pedir aos mesmos que eliminem barreiras e proibições, além de flexibilizar as medidas restritivas para passageiros totalmente vacinados e adotar testes de antígeno para os não vacinados, visto que, segundo a associação, os viajantes não representam risco maior de disseminação da Covid-19 do que já existe na população em geral.

“Felizmente, mais governos entenderam que as restrições de viagem têm pouco ou nenhum impacto de longo prazo na propagação de um vírus. E as dificuldades econômicas e sociais causadas para obter benefícios muito limitados simplesmente não são mais aceitáveis em um número crescente de mercados. Com isso, a revogação progressiva das restrições está dando o impulso tão necessário às perspectivas de viagens”, afirma Walsh.

Conflito Rússia-Ucrânia

É muito cedo para estimar os impactos do conflito Rússia-Ucrânia na aviação. Entretanto, conflitos não costumam afetar o crescimento a longo prazo do tráfego aéreo, com exceção dos países envolvidos e vizinhos. A maior repercussão para as companhias aéreas deve se encontrar em oscilações dos preços de energia e mudanças de rota para evitar o espaço aéreo russo e ucraniano.

(*) Crédito da imagem: StelaDi/Pixabay