Um dos principais articuladores entre o setor hoteleiro e o poder público, Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação) e presidente do Conselho de Turismo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), tem grandes expectativas para o próximo ano eleitoral. O executivo salienta que o segmento precisa ocupar espaços no Congresso Nacional como forma de pleitear as demandas de interesse e estreitar relações com o empresariado.

“A hotelaria precisa repensar sua representação política nos estados e colocar pessoas em cargos políticos para pleitear demandas. Temos que nos organizar para emplacar nomes e defender de maneira justa nossas necessidades, pois ainda somos percebidos de maneira errática pelo sistema político. Precisamos arregaçar as mangas”, disse Sampaio em entrevista ao Hotelier News.

Com a previsão de uma eleição que promete ser uma verdadeira panela de pressão, o presidente da FBHA destaca que a privatização de serviços como o abastecimento de água e esgoto podem trazer mais valor agregado de tarifas para hotelaria, um dos pleitos que serão discutidos em 2022.

“Também estamos no caminho certo na forma de contratação de energia elétrica, com o crescimento do uso de usinas fotovoltaicas e geração assistida”, pontua o profissional. No quesito distribuição, Sampaio destaca que é necessário potencializar os sites de hotéis como uma saída para fugir de intermediários. “E isso vale também para o setor alimentício nas questões de entregas, que ainda cobram preços absurdos e não possuem uma concorrência equilibrada. É um processo desproporcional”.

Demandas como a desoneração da folha de pagamento também serão pauta nos debates entre as iniciativas pública e privada no ano que vem. “Vamos aproveitar o ano eleitoral e caminhar com pleitos vinculados ao setor. Não vamos desistir dessa luta, pois a hotelaria precisa da desoneração, não temos condições de substituir pessoas”, argumenta.

Legalização dos jogos de azar

A liberação de cassinos e jogos de azar no Brasil voltou a ser debatida na Câmara dos Deputados. Com forte oposição da bancada evangélica, o texto final ainda não foi definido. Por enquanto, a proposta inicial está sendo avaliada pelo grupo de trabalho criado por Arthur Lira (PP), atual presidente da Câmara.

“Confiamos que Arthur Lira vá encaminhar a pauta ao Congresso, mas existe o timing de como fazer isso. Há uma grande resistência dos parlamentares evangélicos e o argumento de um possível desvio de recursos. Mas temos que lembrar que no Brasil as pessoas jogam informalmente e a regulamentação disso dará maior controle”, pontua Sampaio.

O executivo reforça que a legalização deve impulsionar investimentos estrangeiros ao país, além de aumentar a permanência de turistas por aqui. “É outro perfil de público que pode ser desenvolvido com pacotes de turismo atrelados a outros nichos, como o de aventura. Existe um potencial enorme para ampliar as demandas de forma significativa. Gostaria que tramitasse o Projeto de Lei de jogo dentro da proporcionalidade populacional em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”.

A FBHA junto ao Conselho de Turismo da CNC vem desenvolvendo o projeto Vai Turismo, que visa conectar instituições e entidades do setor como forma de recomendar políticas públicas que auxiliem no crescimento sustentável de destinos turísticos brasileiros. A proposta é fazer um movimento nacional para catalisar a retomada e a relevância do segmento.

Retomada hoteleira

Sampaio recomenda que os empreendimentos aproveitem ao máximo as demandas de fim de ano para recompor seus caixas, visto que as altas taxas de inflação para 2022 podem comprometer a recuperação das perdas geradas pela pandemia. “A percepção dos associados é de aproveitar o crescimento de faturamento na alta temporada. Essa recomposição deve ser explorada ao máximo, sempre respeitando os limites e protocolos”.

Com o alerta da baixa temporada, o presidente da FBHA acredita que o turismo poderá sofrer declínios. “Recomendo que os hotéis pensem em pacotes para o período com preços competitivos, já que muitas famílias reprogramaram suas férias. É preciso estar atento a isso”.

O controle de custos é outro ponto que precisará estar entre as prioridades dos gestores. “Para a recomposição de caixa, devemos estar atentos aos movimentos da concorrência e aos gastos, que podem afetar a rentabilidade no ano que vem. Todo o cuidado é pouco com a inflação, além do agravante da chegada da nova variante. No Brasil, diária média e RevPar são conceitos com muita variação que desabaram no início de 2020. Em 2022, vamos pagar as perdas, mas não vamos ganhar margem de recuperação para futuros investimentos”.

(*) Crédito da foto: Divulgação/FBHA