O segmento de negócios está começando a se recuperar lentamente ao redor do globo. Neste cenário, a hotelaria tem alguns novos desafios para voltar a atrair esta demanda e voltar a aquecer o segmento, tão importante para o setor como um todo. O consenso entre os hoteleiros é de que as condições em torno desta demanda não são mais as mesmas do pré-pandemia, segundo o Costar.

Falando no Accor Global Meeting Exchange, Markus Keller, diretor de Vendas e Distribuição da gigante francesa, pontuou que durante a crise sanitária, era fácil esquecer que as tendências da indústria ainda estavam se desenvolvendo e mudando. “Era a hora em que a Accor poderia ser mais fundamental. Nem tudo estava no ritmo e aproveitamos para olhar para nós mesmos. A partir daí, decidimos focar na autenticidade”, destaca.

Scot Hornick, sócio de Viagens e Lazer da consultoria de negócios Oliver Wyman, aponta que, para os viajantes de negócios, a lealdade está se tornando mais importante. Dessa forma, os hoteleiros precisam garantir a entrega autêntica de experiências para garantir fidelização. Além disso, as agendas e itinerários dos grupos precisam ter um componente de lazer.

“Nossa pesquisa revela padrões de necessidade surpreendentemente semelhantes para viagens de negócios e lazer em grupo. A necessidade de diversão se destaca, diz o executivo.

Por outro lado, isso ainda pode ser um desafio para organizadores de viagens de negócios. Jayson Hodgkinson, diretor da Venue Choice, afirma que o maior desafio que seus clientes enfrentam é a disponibilidade.

“Não há nada sendo confirmado verbalmente. Muitas vezes, a resposta sobre disponibilidade só vem depois de semanas, quando o evento já pode ter terminado. Alguns eventos são para 4 mil pessoas ou mais. As taxas vão aumentar, mas não espere que o serviço melhore”, explica.

Keller, por sua vez, acrescenta que construir relacionamento tem sido fundamental na obtenção de contratos. “As pessoas costumam trabalhar com quem elas gostam, e isso conta muito”, aponta.

Tendências

Jan Freitag, diretor nacional de Análise de Hospitalidade da Costar, analisa que as viagens de negócios estão voltando mais rápido na América do Norte em relação às demais regiões do mundo. Em relação à ocupação dos hotéis de luxo, as Américas lideram com 58%. Em seguida, aparecem a Europa (48%) e Ásia-Pacífico (40%).

O executivo observa que uma mudança significativa diz respeito à separação tradicional de uma semana de hotel. Segundo ele, não são mais os grupos que chegam no domingo ou na segunda à noite e saem na quinta de manhã, com hóspedes de lazer chegando apenas na quinta-feira à noite e saindo no domingo. “As viagens de lazer estarão em conflito com as noites que os grupos de negócios desejam. Toda quinta-feira à noite agora é um campo de batalha”, acrescenta.

“Tudo em 2020 e 2021 foi transferido para 2022 e está se tornando mais movimentado. Os planejadores de eventos e viagens em grupo precisam de mais tempo para conseguir espaço”, complementa Heather McCrory, CEO da Accor para as Américas do Norte e Central.

Demanda no mundo

Um dos fatores que corroboram com a liderança da América do Norte na recuperação da demanda são as taxas de câmbio, que favorecem os grupos dos EUA. “Para os americanos, a Europa está à venda, mas os céus são complicados”, explica Freitag, referindo-se à alta demanda e falta de mão de obra, que resulta em cancelamento de voos, acúmulo de bagagem e outras interrupções nas companhias aéreas.

Ele pontua ainda que as tarifas aéreas estão aumentando e os grupos precisam considerar o custo total da viagem. Além disso, o executivo reforça que as operadoras de hotéis de luxo estão vendendo mais uma vez o mesmo número de quartos de 2019, mas a uma taxa média 27,2% maior, com mercados regionais entrando em ação.

Nos mercados dos EUA, Miami viu a diária média aumentar em 49%, chegando a US$ 618,00. Em São Francisco, por outro lado, as tarifas de hotéis caíram 9%.

A importância do ESG

Outro dado importante em relação ao retorno da demanda de negócios é a maior insistência dos grupos na conformidade de hotéis e companhias aéreas com iniciativas ESG (Enviromental, Social and Governance), que têm ganhado cada vez mais espaço na estratégia hoteleira. Brune Poirson, diretor de Sustentabilidade da Accor, destaca que o assunto componentes que precisam ser atendidos, como lei e demanda de negócios.

“Os hotéis devem ser os receptáculos do financiamento verde, e as plataformas estão empurrando os empreendimentos para mais sustentabilidade”, afirma a executiva.

Além disso, os portais de viagens online estão desenvolvendo cada vez mais seus próprios sistemas de pontuação para que os compradores possam decidir quem é o provedor de viagens mais responsável.

“Nossa responsabilidade é apresentar coisas que talvez os hóspedes ainda não estejam pedindo”, finaliza Brune.

(*) Crédito da foto: Joshua Woroniecki/Pixabay