A flexibilização de medidas restritivas nos municípios e estados, além da vacinação da população, geram alívio ao setor turístico. A demanda reprimida e o retorno da confiança de viajantes, dados retratados em pesquisas globais de Expedia e Amadeus, respectivamente, reforçam a ideia de preparação à hotelaria. Após mais de um ano lidando com cenários negativos, como agir na retomada? O que hotéis pequenos, os mais afetados pela pandemia da Covid-19, devem fazer de diferente?

Para compreender as nuances e diferenças referentes ao nicho citado, a reportagem do Hotelier News entrevistou Waleria Fenato, diretora e consultora de RM (Revenue Management) da Mark Up Consultoria. Com artigo publicado recentemente sobre o assunto, a executiva conseguiu especificar alguns processos que devem ajudar unidades menores.

O ponto de partida, segundo ela, deve ser aplicar três ações: saber quais são os concorrentes, precificar a hospedagem relacionando custos e analisar a demanda futura. Como em seu artigo, ela afirma que a aplicação das dicas não tem relação com o hotel ser de rede ou independente, mas sim com o segmento — lazer ou corporativo.

“A hotelaria é um mercado que vai além de entregar um produto. É preciso pensar como uma experiência e, assim, atribuir valor com base nisso. O caminho não é diminuir o preço da diária. Isso não gera procura dos consumidores (nesse momento)”, explica Waleria.

A especialista complementa com exemplo de um hotel com pouca demanda. Neste âmbito, ela cita que a tarifa média não pode ser igual ao período pré-pandemia, porém, não pode ser muito menor. É uma forma de sucatear o produto e os custos não se pagam.

Hotéis pequenos: dicas

• O que fazer?

O mercado para hotéis pequenos é ainda mais sensível. Além de aplicar a equação anterior (concorrentes, custo-benefício da hospedagem e demanda futura), Waleria afirma que a proximidade com o cliente é uma ferramente poderosa.

“Ao abaixar a diária, o efeito disso é muito maior em empreendimentos enxutos. Como disse, fazer isso não trará hóspedes e só prejudicará o produto. Então, o caminho a ser trilhado é utilizar a pouca padronização de processos do hotel menor a seu favor. É assim que o proprietário do hotel independente pode criar uma relação com o hóspede e investir na experiência e hospitalidade para fidelizar a clientela”, diz.

Além disso, outra maneira de manter os preços competitivos, no ponto de vista da especialista, está na qualidade do motor de reservas. Com um site responsivo e intuitivo, que facilite o processo de reservas, o cliente não perde interesse no hotel.

• Papel das OTAs

E as comissões? O período de recessão trouxe retrações nas receitas e, dessa forma, o pagamento das agências online tornou-se um gasto a mais. No entanto, a integração neste universo é essencial e pode servir, segundo Waleria, como vitrine para hotéis pequenos.

“A OTA é uma parceira importante para muitos empreendimentos e tem grande papel na divulgação de unidades menores. No entanto, é possível utiliza-la para captar hóspedes e, após a primeira reserva, retê-lo como cliente direto. Não há nada de errado nisso e nada mais é que a missão da hotelaria: fidelizar clientes com bom serviço”, aponta.

Ela também relembra o uso de mídias sociais para alcançar consumidores e ‘pular’ as comissões em parte do cotidiano hoteleiro.

Futuro e pandemia

A preparação para o futuro é essencial, mas depende de ações do passado e presente. No caso de uma terceira onda da pandemia, por exemplo, a estratégia neste período dependerá do que foi feito anteriormente. É importante, portanto, levar em consideração a possibilidade da terceira onda — o que pode atrasar a retomada — e pensar em reserva de caixa.

Contudo, a relação disso com precificação, de hotéis pequenos às grandes companhias, não é grande. A explicação da especialista é simples. Precificar o produto, neste caso, hoteleiro, é uma ação assertiva e momentânea.

“Os preços de dezembro, digamos, dependem da percepção e análise do empresário da situação do país diariamente. Não existe previsão, mas só é possível precificar as diárias durante a terceira onda na medida em que tendências foram desse momento foram cogitadas ou antecipadas”.

(*) Crédito da foto: Tima Miroshnichenko/Pexels