Em uma região saturada de ofertas de hospedagens como o litoral norte paulista, se destacar é uma missão tortuosa. Levando esse recorte para São Sebastião, um dos destinos mais procurados por turistas oriundos da capital, o desafio se torna ainda maior. Encontrar diferenciais dentro de uma concorrência ferrenha é a linha tênue entre o sucesso ou a entrega de mais do mesmo. Neste quesito, o Hiu Hotel definiu com convicção sua proposta, abocanhando um nicho de mercado pouco explorado na praia de Juquehy.

Inaugurado em setembro de 2021, período em que a demanda ganhava tração com o fim das restrições e o avanço da vacinação, o Hiu vem se mostrando uma aposta acertada. Com clima intimista, o hotel boutique foi desenvolvido para receber apenas o público adulto, permeado por experiências que enaltecem o bem-estar, hospedagens premium e gastronomia.

A reportagem do Hotelier News esteve in loco no empreendimento para entrevistar Roberto Ibrahim, proprietário do Hiu e de outras duas propriedades na região — o Maui Hotel, em Maresias, e o Nau Royal, em Camburi. De investimento familiar, o hotel de Juquehy é fruto de um retrofit na ordem dos R$ 500 mil, que priorizou o tamanho dos quartos e o Petit Spa by L’Occitane.

“O projeto do Hiu foi uma transformação de outro empreendimento, que trabalhava com outro nome e outro perfil de público. Fizemos atualizações na propriedade e optamos por receber apenas o público adulto, seguindo o mesmo perfil de hospedagem dos hotéis em Maresias e Camburi”, explica o proprietário. “Foram cinco meses de reformas e ainda temos duas acomodações em fase de finalização”, acrescenta.

No processo de transição do hotel, Ibrahim conta que metade do quadro de funcionários foi mantida, enquanto a outra metade foi renovada. “O desenvolvimento do colaborador é uma atualização constante. Quando se trata de um público mais exigente, o atendimento é ainda mais complexo”, avalia.

Hiu Hotel - capa

Hotel foi inaugurado em setembro de 2021

Personalização como base da experiência

Não é de hoje que empreendimentos de luxo apostam na personalização como um fator de fidelização do hóspede. Na verdade, ela se tornou uma obrigação por parte de hotéis que desejam atender às expectativas de clientes de alto padrão. Como forma de complementar a hospedagem dos apartamentos que variam entre 26 metros quadrados (m²) e 74 m², o Hiu oferece menu de travesseiros, customização do frigobar e amenidades.

“Nossa meta é levar conforto na estadia, seja com a personalização ou com o transporte até a praia, por exemplo. Construímos uma trilha de hospedagem que traz o bem-estar, com o spa by L’Occitane e agora também com a gastronomia”, salienta Ibrahim. “Desenvolvemos um petit menu no restaurante, onde o cliente pode optar por um jantar romântico no quarto ou no bangalô”.

Com uma oferta limitada de 14 quartos, o Hiu Hotel se apega ao perfil de público como o grande trunfo para o êxito dos negócios. O empreendimento encerrou 2021 com 50% de ocupação, mas já chega à lotação máxima aos fins de semana e oscila na casa dos 20% e 30% durante a semana. “Com o fim das restrições, muitas pessoas retornaram a São Paulo e não têm mais tanto tempo para o lazer”, analisa o executivo.

quarto

Quartos chegam a 74 m²

Tarifário fixo

Uma das estratégias mais ousadas do Hiu é a definição tarifária. Sem flutuação de preços, o hotel boutique pratica os mesmos valores o ano todo, independente de sazonalidades. Com quatro categorias de apartamentos, a acomodação de entrada sai por R$ 1.142,86, podendo chegar a R$ 2.000 em quartos superiores.

“Entregamos a mesma estrutura e o mesmo serviço o ano inteiro. Não faz sentido cobrar mais ou menos pela mesma coisa. Do ponto de vista do hóspede, é um respeito que temos. A estratégia começou no Nau Royal e ninguém do setor entendeu, mas comprovei que dá certo com aumento de faturamento. As pessoas não deixam de vir pelo preço, mas sim pela disponibilidade”, revela Ibrahim.

Em relação a distribuição, o Hiu conta com uma central de reservas unificada, que também atende aos outros dois empreendimentos. Apesar do canal direto ser a principal prateleira para o mercado, o proprietário garante que o hotel trata o trade de forma igualitária. “A disponibilidade para OTAs, agências e operadoras é a mesma. Contamos com forte atuação online, mas nosso melhor marketing ainda é o boca a boca”.

spa

Spa by L’Occitane é aberto ao público

Incrementos de receita

Em junho, o Hiu Hotel abriu as portas de seu restaurante ao público externo. Até então, o empreendimento trabalhava apenas com demandas pontuais dos próprios hóspedes. Já o spa é um atrativo à parte, com potencial de incremento de receita para além da hospedagem.

“Hoje, o faturamento do spa e do restaurante é pouco, não chega aos 15%. Nossa expectativa é que a receita dos dois alcance a casa dos 30%. É uma forma de manter o negócio, independente da hotelaria. O hotel é pequeno para ficar refém apenas dos apartamentos”, ressalta Ibrahim.

A poucos meses de seu primeiro ano de operação, o proprietário avalia como positiva a performance do empreendimento até aqui. “Estamos crescendo em número de vendas e aumentando nossa antecedência de reservas. Nossa média de permanência é de três dias, mas temos algumas exceções que chegam a seis diárias”, complementa.

Roberto Ibrahim

Ibrahim e Mixu, o mascote do Hiu

Seguro-chuva: a garantia do retorno

O litoral norte de São Paulo é conhecido por seus períodos de chuvas intensas — o que não é lá muito atrativo para o turismo. Para driblar cancelamentos de última hora pelo mau tempo, o Hiu Hotel criou o “seguro-chuva”.

“O turista gosta de olhar o tempo antes de finalizar a reserva e pela proximidade com São Paulo. Caso o hóspede venha, se chover entre às 9h e 17h, ele ganha um voucher de hospedagem para voltar num período de até três meses”, conta Ibrahim.

O proprietário explica que basta solicitar o benefício na recepção. A cada dia de chuva, uma nova diária é garantida pelo empreendimento. “É uma iniciativa que afeta positivamente o caixa, pois o cliente vem mesmo sabendo que vai chover com a garantia de retorno. Para nós, o cancelamento é muito prejudicial, visto que temos poucos apartamentos”, finaliza.

(*) Crédito das fotos: Nayara Matteis/Hotelier News