Após a viagem pela Europa, a programação da HDC (Hotel Data Conference) teve uma sessão dedicada aos desafios e oportunidades da hotelaria global. Managing Director da STR, Robin Rossmann utilizou a analogia da subida de uma montanha para passar ao público suas impressões a respeito das perspectivas do setor. E a mensagem é uma só: todas as regiões do globo perpassarão etapas parecidas de recuperação à medida que a vacinação avance e, em consequência, as medidas de isolamento social sejam flexibilizadas. Ou seja, cada uma delas, no seu tempo, traçará um caminho parecido de sua retomada.

“Já saímos do pé da montanha e, para muitos, não há mais como voltar. Agora, é só para cima”, ponderou Rossmann, mesmo destacando que mercados como Europa (e o Brasil), onde a segunda onda bateu mais forte, tiveram que voltar para o pé do morro novamente. “Nos Estados Unidos, onde há mais certeza sobre as medidas de restrição, os indicadores hoteleiros estão mais estáveis. O importante é: já passamos por muitos desafios e sabemos o que é preciso ser feito. Agora, é aproveitar os ensinamentos de 2020”, comentou.

O retrato de 2020, entretanto, não foi o mais aprazível de ninguém, salvo raríssimas exceções, como Cingapura, que encerrou o ano com ocupação média anual de 70%. E, diante da maior demanda de lazer em praças secundárias, grandes capitais mundiais performaram pior ao longo do ano passado, até por conta da quase completa ausência de viajantes internacionais (e da malha aérea reduzida). Em função disso, é esperado que esses mercados tenham um pouco mais de dificuldade para ganhar tração ao longo de 2021.

Agora, se a cidade onde está seu hotel está com baixa demanda em função da segunda onda da pandemia… Bem, não se sinta mal. Trata-se de um fenômeno global e até a China registrou queda de ocupação (veja gráfico abaixo). “Por isso que, globalmente, velocidade de reação é uma ação estratégica para qualquer hotel. A demanda pode desaparecer rápido e você precisa reagir na mesma intensidade, já que ela também pode ressurgir rapidamente. Enquanto não acabar oficialmente a pandemia, há risco disso ocorrer”, afirma Rossmann. “Agora, olhando pelo lado positivo, 2020 foi uma escola nesse sentido”, completa.

HDC - sessão global_infográfico

HDC: bússola e possíveis caminhos

Para o sucesso na retomada, o executivo da STR reitera que os hoteleiros já sabem o que fazer. “A demanda doméstica é o seu guia. Você viu como foi 2020 e isso não vai se alterar este ano. Agora, uma lição importante: se a demanda desaparecer, tente ficar aberto“, comentou Rossmann, destacando o exemplo de Edimburgo. “Sim, o tamanho, localização e categoria do seu hotel são fatores relevantes, mas há significativa diferença de performance entre quem fechou e ficou aberto”, complementa.


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O que aprendemos sobre 2020?

  • Não desista e fique aberto se puder
  • Velocidade de reação é tudo
  • Não entre em pânico: variação na ocupação e na diária média muitas vezes não estão relacionadas
  • Luxo teve mais dificuldades
  • Local is lekker: como diz o ditado sul-africano, as coisas perto de sua casa são melhores

 


Na avaliação de Rossmann, o retorno do RevPar aos níveis de 2019 ainda deve demorar mais alguns trimestres, provavelmente só em 2025. “A demanda volta antes, possivelmente em 2022, o que mostra que ainda teremos alguns trimestres desafiadores à frente”, acredita. Agora, além da bússola (que já aprendemos a usar), ele argumenta que o mapa também já é conhecido.

“Nenhuma novidade sobre isso. As barreiras governamentais são os principais entraves – e isso é boa notícia, porque uma hora vai acabar. Ao mesmo tempo, não tem como controlarmos essa variável. Se não podemos influenciar as decisões dos governos, há um dever de casa que podemos fazer. Altere sua política de cancelamento e remarcações. Ter um plano bem feito neste sentido será fundamental na retomada”, completa.

Além das políticas de remarcação, qual o dever de casa dos hoteleiros para 2021 em diante? Rossmann é bem claro: “Não é a bússola e o mapa que vão te levar ao topo da montanha, mas você mesmo que toma as decisões”, afirma. “Podemos ajudar te fornecendo dados, mas tudo depende da sua paixão (e de seu time) pelo negócio. Quem for mais apaixonado e souber engajar seus times terá vantagem e abraçará as oportunidades mais facilmente. Se sua diária média cair, não entre em pânico. Entenda o que está ocorrendo, faça as correções e abrace as oportunidades, porque elas vão aparecer, mesmo havendo uma grande subida ainda pela frente”, acrescenta

Para finalizar, o executivo da STR abordou o desempenho de um segmento que vem ganhando atenção entre as principais redes nacionais e internacionais: short-term rental. “Bem, estamos todos na tormenta, mas tem gente com um barco melhor”, brincou Rossmann, que mostrou dados de como o segmento vem performando melhor do que a hotelaria em alguns mercados – caso de Londres (veja gráfico abaixo).

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“Em Londres, na situação atual, não há demanda de lazer. Como o short-term rental chegou a esses indicadores? Segmento corporativo. E, muitas vezes, são estadas mais longas. Então, fica aqui uma reflexão para a hotelaria de forma geral. Por que as empresas (e os consumidores) estão preferindo o short-term rental nesses casos? O setor precisa mudar a percepção de que ficar em em aluguel de temporada por mais tempo é mais seguro, por exemplo. Para mim é o contrário”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Nietjuh/Pixabay

(**) Crédito da foto: PatternPictures/Pixabay

(***) Crédito dos infográficos: STR