Todos os anos, o mês de novembro antecipa as compras de Natal, período mais relevante para o comércio mundial. Após quase dois anos de pandemia, a expectativa para repor as perdas geradas pela crise é grande, mas é preciso ficar atento. Fraudes na Black Friday, marcada para acontecer dia 26 de novembro, devem crescer exponencialmente, visto que o volume de transações atrapalha checagens e verificações de dados.

Segundo uma pesquisa divulgada pela ClearSale, empresa de soluções antifraude, a Black Friday de 2021 deve sofrer um aumento de 52% em tentativas de golpes no e-commerce frente ao ano passado. Em 2020, houveram 22.467 pedidos fraudulentos, sendo 9.822 no dia 26 de novembro e 12.645 no dia 27. Para este ano, a estimativa é que o comércio online registre 34.089 golpes, sendo 14.834 no dia 25 de novembro e 19.255 no dia 26.

Durante a Black Friday deste ano, a ClearSale vai atualizar os dados de pedidos fraudulentos de hora em hora em seu portal, como forma de informar o consumidor. “Nosso estudo mostra que as fraudes vão representar 0,88% dos pedidos no dia 25 e 0,50% no dia 26. Traduzindo os números, as tentativas de golpe serão altas, mas o aumento exponencial de pedidos regulares faz com que os percentuais sejam baixos em relação ao volume total”, afirma Omar Jarouche, diretor de Marketing e Soluções da empresa.

E as mudanças de comportamento do consumidor catalisadas pela pandemia, como o aumento de compras online, é um fator de peso nessa equação. Jarouche explica que as altas demandas de vendas são um prato cheio para os fraudadores. “Estamos falando em quantidade absoluta de fraudes. Como o e-commerce está em processo de crescimento acelerado, o volume cada vez maior de pedidos traz consigo um aumento natural de tentativas de fraude”, diz.

Em contrapartida, o diretor destaca que o número de pedidos legítimos deve superar as tentativas de golpes no período de compras. “Quando se soma a este crescimento a forma maciça como o e-commerce passou a fazer parte da vida das pessoas, é de se esperar que haja um aumento significativo das tentativas de fraude, muito embora os bons pedidos costumam crescer em maior proporção”.

Volume de vendas eleva tentativas de fraude, diz Jarouche

Fraudes na Black Friday: viagens e lazer

Com o turismo sendo um dos segmentos mais visados na retomada da economia, os fraudadores no Brasil voltaram seus olhos para o setor. De acordo com a última análise trimestral da TransUnion, os segmentos de viagens, jogos e comunidade virtual foram os novos alvos.

No panorama mundial de todos os setores, as tentativas de suspeitas de fraude digital subiram 16,5%, quando comparados o segundo trimestre de 2021 (abril a junho) ao segundo trimestre de 2020. As indústrias de games e viagens foram as mais impactadas globalmente, subindo 393% e 155,9%, respectivamente.

No Brasil, enquanto a taxa de tentativas suspeitas de fraude digital em todos os setores caiu para 60,7% no mesmo período, o mercado de viagens registrou aumento de 255,1%; comunidades (sites de namoro e aplicativos, fóruns, entre outros), de 169,5%, e games, de 134,8%.

Principais golpes

Ganhando cada vez mais espaço na ilegalidade, fraudes no e-commerce não são nenhuma novidade. Com sistemas de cibersegurança cada vez mais complexos, os fraudadores precisaram evoluir nas tentativas de golpe.

“A fraude é um crime dinâmico e cada vez mais sofisticado. Ela acontece por meio de inúmeros métodos e das mais variadas formas, mas sempre com o uso de dados sensíveis, como números de cartões de crédito e informações pessoais de bons consumidores. No entanto, podemos citar três tipos de fraude mais comuns, recorrentes e que conseguem abranger, de alguma forma, todas as alternativas vistas pelos fraudadores hoje em dia”, aponta o diretor da ClearSale.

Fraude limpa: considerado o tipo mais simples e recorrente, a fraude limpa ocorre em clonagens de cartões, roubo ou vazamento de dados, etc. Ela é chamada de limpa pelo fato do fraudador ter dados corretos da vítima, muitas vezes com o uso de um cartão de crédito falso, tornando mais difícil a identificação da ação fraudulenta.

Fraude amigável: é chamada de amigável porque, via de regra, não se trata de uma ação que tem má-fé envolvida. Neste caso, a pessoa que utilizou dados de cartão ou dados bancários verdadeiros é uma pessoa próxima do titular da conta, como um parente ou amigo, mas que não informou o mesmo no ato da compra.

Autofraude: acontece quando o próprio titular da conta ou do cartão efetua uma compra ou transação e depois a contesta, como se não reconhecesse aquela dívida. Para simplificar, vale um exemplo: uma pessoa compra um produto pela internet usando um cartão de crédito e, após o recebimento em sua residência, entra em contato com a administradora do cartão para contestar aquele lançamento na fatura, mesmo tendo ficado com o produto.

Segundo um estudo realizado pela Kaspersky, empresa internacional de segurança cibernética, o Brasil é também líder mundial em golpes de phishing, ação fraudulenta é caracterizada por tentativas de aquisição ilícita de dados pessoais de outra pessoa, sejam eles senhas, dados financeiros, dados bancários, números de cartão de crédito ou simplesmente dados pessoais. Um em cada cinco brasileiros sofreu pelo menos uma tentativa de ataque em 2020.

Rocha: Pmweb vem fazendo melhorias para evitar golpes

Como se proteger

Planejando a maior Black Friday de todos os tempos, a Pmweb ressalta a importância de firmar parcerias com empresas que realizem a checagem de dados para evitar possíveis golpes. Responsável pelo motor de reservas de muitos empreendimentos hoteleiros, a companhia vem se blindando contra ações fraudulentas.

“Nosso motor de reservas conta com sistema antifraude, mas temos que estar precavidos e aliados a empresas que estão preocupadas com essas ações. Como um e-commerce, estamos atentos a quem está vendendo e quem está comprando, trazendo a experiência de quem está acostumado com altas transações”, pontua Augusto Rocha, vice-presidente de Marketing e Vendas da Pmweb.

Por falta de conhecimento ou orçamento, muitos hotéis deixam de se proteger e acabam prejudicados por fraudadores. O famoso barato que sai caro. “As vezes, aquele hotel médio ou pequeno está economizando no lugar errado. Existe a questão não só da segurança, mas da estabilidade da plataforma e da experiência do cliente no seu site”, complementa Rocha.

E não é necessário apenas fazer o investimento em tecnologias para evitar cair em golpes. Pequenas ações do dia a dia já deixam a margem de risco menor. “Não confie em perfis que começaram a te seguir agora e se comunique apenas com canais oficiais. Evite se cadastrar em promoções por email e, quanto mais direta for a comunicação entre as partes envolvidas, melhor”, afirma o executivo da Pmweb.

Responsável por trazer a Black Friday para o Brasil, Pedro Eugênio, fundador e criador da Eugen.Digital, salienta que ter um bom planejamento para a data é fundamental para não cair em tentativas de golpe. “É natural que as empresas fiquem surpresas com o alto volume de vendas e acabem abrindo mais processos de aprovação daquela compra, o que abre brechas para fraudadores. Não é necessário correr para conseguir aprovações automáticas. Os hotéis precisam abrir processos, treinamentos e seguir o fluxo normal de provação”.

E cuidado no momento de contratar empresas parceiras. Empreendimentos hoteleiros precisam tomar cuidados redobrados com dados pessoais, fazer checagem de informações, conferir qual cartão foi utilizado, se o endereço bate com o cadastrado e criar um checklist das transações. “Vale ressaltar também o cuidado com o consumidor. O fraudador não ataca apenas o empresário, mas também o usuário final. As duas pontas precisam estar atentas para não cair em armadilhas”, alerta Eugênio.

Eugênio: planejamento é a palavra para se proteger

Pensando em melhor atender sua base de clientes, a Pmweb promoveu melhorias em seus produtos para evitar golpes. “Fizemos ajustes na plataforma, colocando solicitações quando o cliente coloca seus dados do cartão para identificar se o pagamento bate com o nome e com a instituição financeira. Muitas vezes os fraudadores pegam cartões na internet por sistemas de forma ilícita, mas não possuem todas as informações, como endereço, por exemplo”, explica Mariana Noll, gerente de Negócios e Parcerias da empresa.

Além de utilizar tecnologias antifraude, a própria operação hoteleira pode reforçar sua proteção com aprovações de compras manuais. “Os hotéis podem tomar a decisão de liberar a compra, checando dados em sua base de CRM. O antifraude barra muita coisa, mas não é 100% garantido. Também desconfie de antecedências muito curtas de compras, reservante com nome diferente do hóspede e reservas com valores muito elevados”, pontua Mariana.

A Pmweb lançou um método em que o hotel escolhe uma porcentagem de pagamento adiantado no ato da reserva, enquanto o hóspede acerta a diferença no balcão. “O hotel define, por exemplo, se pedirá 75% antes e 25% na recepção. As fraudes acontecem com mais frequência com vendas 100% pré-pagas, então recomendamos o pagamento misto”.

Oportunidades de venda direta

Nem só de dor de cabeça vivem os golpes. Os empreendimentos podem fazer do limão uma limonada e aproveitar as ações fraudulentas para incentivar compras por canais diretos. “Do ponto de vista estratégico, é uma janela que se abre. O consumidor descobriu que sem intermediários ele consegue resolver os problemas com maior agilidade. Imaginamos que agora esse usuário vai procurar os hotéis diretamente, o que fortalece a relação com o cliente, que passará a utilizar apenas os canais oficiais para evitar fraudes”, diz Rocha.

Eugênio reforça que a Black Friday não se trata apenas de catalisar vendas, mas também de captar novos clientes. “Temos um estudo que aponta que 67% dos consumidores que compram na Black Friday voltam a gastar nas mesmas empresas depois. A grande sacada é oferecer uma boa experiência de compra, não apenas olhando para o faturamento, mas pensando a longo prazo. É uma super data para trazer novos clientes que não estavam pensando em ir até o hotel, mas com boas condições, ele pode conhecer, gostar e voltar”.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito das fotos: Divulgação