O hoteleiro brasileiro encerrou 2021 mais aliviado, isso é certo. Os resultados no último trimestre animaram o setor, mas uma análise dos últimos 12 meses também não esconde as intensas dificuldades do ano que se encerrou. Embora algumas praças e o segmento de lazer tenham registrado bons momentos, a luta ainda foi pela sobrevivência. Com o caixa comprometido pela pandemia, muitos hotéis sucumbiram e parte dessas dificuldades pode ser retratada por dados. Divulgados ontem (26) pelo FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), dados do InFOHB mostram que as operadoras associadas ainda têm um longo caminho de retomada pela frente.

Ok, o recorte da entidade abrange uma base de propriedades relativamente limitada se comparada à oferta hoteleira total do país. Mais ainda, esse universo de hotéis representa, sobretudo, os segmentos corporativo e econômico/midscale, perfil majoritário das unidades das operadoras associadas ao FOHB. Em contrapartida, simboliza a hotelaria mais profissionalizada, com as melhores práticas do mercado e inclusas nas praças mais rentáveis, sendo um retrato bastante fiel da indústria. E, como citado, a foto no porta retrato não é das melhores. Segundo números do InFOHB, o RevPar médio do setor fechou o ano passado 37,5% abaixo de 2019 – ainda é uma diferença significativa. Além disso, todas as 13 principais cidades analisadas pelo FOHB encerraram o ano com o indicador no vermelho.

Os dados mostram também que o desempenho foi disforme no país. Isso pode ser simbolizado pela performance melhor de praças com um mix mais equilibrado entre demanda de lazer e corporativa. Cidades que são mais polos regionais de negócios do que nacionais – ou seja, com uma demanda movimentada por pequenas e médias empresas – também foram melhor do que grandes metrópoles. Dependente das viagens de negócios, São Paulo teve o pior desempenho do país, com queda de 62,1% no RevPar frente a 2019. Com perfil relativamente similar, Campinas (-54,7%), Porto Alegre (-43,7%), Belo Horizonte (-42,1%) e Brasília (-38,6%) também tiveram um 2021 desafiador.

FOHB - dados 2021_RevPar médio

Agora, toda e qualquer análise esbarra na teoria do copo meio cheio. Um olhar único ao RevPar não nos permite ver alguns pontos positivos. O primeiro deles: a diária média do país recuou 7% frente a 2019, um patamar saudável se levarmos em conta que, em vários momentos de 2020, qualquer quarto vendido contava. Esse percentual mostra também que a hotelaria aprendeu que guerra tarifária em crises desse nível levaria a consequências mais graves. Mais ainda, reitera que o “problema” não está no preço, mas na demanda (ocupação) – que se recupera, o que é um indicativo otimista para 2022. O segundo é que o último trimestre foi o ponto alto do ano, o que indica que, se tudo correr bem, a retomada realmente ganha força em 2022. Se a Ômicron não atrapalhar tudo, é claro!

“Analisando os números finais, podemos dizer que foi relativamente bom, principalmente se comparado a 2020 e levando em consideração as dificuldades do primeiro semestre. A variante Delta e a segunda onda frustraram muito o mercado”, comenta Orlando Souza, presidente executivo do FOHB. “Com a recuperação das diárias médias a partir do segundo semestre e, em especial, no último trimestre, podemos fazer uma avaliação otimista do que está por vir. No entanto, a comparação com 2019 nos mostra que ainda falta um caminho desafiador para recuperar e, sem dúvidas, 2021 ainda foi marcado pela luta pela sobrevivência”, completa.

FOHB - dados 2021_Diária média

Mais números

A amostra do InFOHB leva em conta a perfomance de 530 hotéis de redes associadas espalhadas por todas a regiões do país e responsáveis pela oferta de 99.388 unidades habitacionais (UHs). Em termos de ocupação, as cidades com melhor desempenho foram Vitória, Recife e Goiânia, com percentuais de 56,6%, 56,3% e 47,7%, respetivamente.

Na análise por região, e sempre na comparação com 2019, a taxa de ocupação cedeu em todas elas, variando de -17,2% (Norte) a -36,6% (Sudeste). A diária média, por sua vez, teve percentuais negativos no Centro-Oeste (-4,8%), Norte (-0,2%) e Sudeste (-10,1%). Na direção oposta, Nordeste e Sul encerram 2021 com o indicador subindo 2,7% e 1,4%, respectivamente. Abaixo, é possível ver o desempenho por categoria.

FOHB - balanço 2021_por categoria

(*) Crédito da capa: Uwe_Jelting/Pixabay

(*) Infográficos: InFOHB