Não retomar os preços das tarifas hoteleiras significa uma retomada mais lenta. Esta foi uma das afirmações mais enfáticas do webinar Retoma São Paulo – A importância da recuperação das diárias médias para a sustentabilidade, promovido pelo FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), realizado em outubro deste ano. E o cenário se repete em diversos destinos do país: empreendimentos hoteleiros que seguem com valores aquém do esperado e desequilibrados perante a inflação. Para 2022, a entidade volta a destacar a recuperação do indicador como prioridade para o setor.

Em entrevista ao Hotelier News, Orlando Souza, presidente executivo do FOHB, salienta que as diárias precisam ser revistas, além de afirmar que os gestores têm que entender que as ocupações vêm de forma orgânica, mas que a rentabilidade depende de uma boa administração. Caso o contrário, muitos empreendimentos não conseguirão se recuperar.

“Os hotéis devem e precisam priorizar sua diária média. Seja ela no preço público ou no negociado. Todas as reservas feitas para viagens corporativas, junto a intermediadores, agências, TMCs e todas as entidades que atuam nesse espectro do turismo de negócios”, ressalta o executivo.

Tanto as diárias quanto o RevPar são corrigidos pela mesma variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país. Com as taxas batendo recordes, os custos das operações sobem junto, elevando os gastos com insumos, energia elétrica, água e mão de obra.

“Gestores que privilegiam o pouco e simples aumento da ocupação não serão avaliados por isso. As demandas voltarão em função do avanço da vacinação e não por esforços da administração. O que deve ser priorizado é a criação de valor e rentabilização dos ativos, o que está ligado à capacidade de distribuição e diárias compatíveis com a produção de resultados”, diz Souza. “Esse é o botão que estará nas mãos dos gestores, mas se em 2022 os hotéis não saírem com a flecha apontada para cima, os empreendimentos não vão resistir”.

FOHB - orlando

Lazer não deve desaquecer tão cedo, diz Souza

FOHB: baixa temporada

O momento é de comemoração. Com a alta temporada a todo vapor, muitos hotéis vibram com o retorno das demandas. Mas, é preciso cautela. Após o Carnaval, a tendência é que a temida baixa tombe os índices novamente, o que pode prejudicar a sensível recuperação do segmento.

Souza prevê que as restrições de viagens internacionais serão benéficas para segurar os turistas por aqui e evitar o esvaziamento do turismo interno. “Com a chegada da variante Ômicron e as dificuldades do turismo internacional, acredito que não teremos uma baixa tão prejudicial no lazer. Ainda temos muita demanda reprimida, com fortes indícios de turismo regional. Não acho que é em 2022 que o setor vá desaquecer”.

E, conforme o lazer segue em curva ascendente, a vacinação estimula o retorno dos eventos e viagens corporativas. “As duas coisas juntas projetam 2022 se não houver nenhum outro fator que possa mudar o curso da retomada e nos fazer dar passos para trás. Em São Paulo, por exemplo, muitos eventos já estão acontecendo, além de reuniões e viagens a negócios”.

Pleitos do setor

E não é só a diária média que preocupa a hotelaria. Outros pleitos que, se atendidos, podem auxiliar na recuperação do setor, seguirão no radar das entidades no próximo ano. A inclusão do segmento na desoneração da folha de pagamento é um dos principais, visto que a maior parte dos gastos operacionais é com o quadro de funcionários.

“A hotelaria é um setor de mão de obra intensiva, com muitos custos de salários, encargos e benefícios. O processo de desoneração é de extrema relevância para nós tanto quanto para outros setores. Vamos continuar lutando, pois este é um alívio importante nesse período de retomada da pandemia, além de estimular a contratação de pessoas”, argumenta Souza.

A reforma tributária também está entre as demandas hoteleiras em 2022. Diferente de outros setores, como o comércio e o varejo, onde impostos são abatidos, o segmento lucra com a venda de diárias. “Apenas o A&B depende da compra de insumos, o que é muito pouco na hotelaria, mas em nossos serviços prestados, a carga tributária é total. E isso cai direto em cima dos valores das diárias”, destaca o presidente do FOHB.

Souza salienta que o setor vem buscando soluções junto a Receita Federal para conseguir a depreciação dos condo-hotéis. “As companhias aéreas, por exemplo, não são donas das aeronaves, assim como os hotéis não são donos das UHs nesse modelo de negócio. Mas a legislação aceita que as aéreas façam a depreciação dos aviões em seus balanços. O que estamos pedindo é similaridade”.

Por fim, o adicional de insalubridade para as camareiras está entre os temas a serem discutidos. Com grande quantidade de hóspedes e alta rotatividade, a atividade não é considerada similar à limpeza de residências e escritórios. “As UHs recebem poucas pessoas por vez, mas a justiça reconhece que a categoria tem contato com agentes químicos e grau de insalubridade. Estamos trabalhando para mudar essa normativa”.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/FOHB