FGV Ibre: um terço das famílias tem dívidas devido à inflação
16 de março de 2022De acordo com levantamento divulgado hoje (16) pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), uma em cada três famílias brasileiras possui dívidas em atraso. A alta da inflação é apontada como um dos principais fatores para que esses débitos não sejam liquidados em dia, revela a Folha de São Paulo.
O percentual de inadimplência chega a 58% nas famílias com renda de até R$ 2,1 mil. Naquelas com ganhos superiores a R$ 9,6 mil, esse número cai consideravelmente, atingindo apenas 10%.
Para a realização da pesquisa, foram consultados mais de 3,5 mil consumidores, no período entre 3 e 22 de janeiro. Na faixa de renda mais baixa, a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho é apontada como principal fator que leva à inadimplência. Já nos demais estratos sociais ouvidos na sondagem, a inflação ainda aparece como fator principal.
Se forem consideradas dívidas com 30 dias de atraso, a falta de pagamento atinge 21% das famílias. O resultado é a maior taxa já registrada nas sondagens do instituto desde 2012. Em 2018, por exemplo, esse percentual estava em 14%.
Agora, se analisarmos o crédito do sistema financeiro, que considera dívidas atrasadas há mais de 90 dias, a inadimplência fica em 17,5% na faixa de renda mais baixa, além de 1,8% na mais alta. “Houve aumento da desigualdade durante o ano de 2021. Houve interrupção do auxílio emergencial e há dificuldade de voltar ao mercado de trabalho. Além disso, o setor de serviços não voltou a contratar como esperávamos”, explica Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das sondagens do consumidor do FGV Ibre.
Auxílio Brasil
Ainda segundo Viviane, o pagamento do Auxílio Brasil ajudou a melhorar as expectativas da população mais pobre, mas não foi suficiente para organizar a vida financeira dessas famílias. Já Rodolpho Tobler, coordenador das sondagens do comércio e de investimentos da entidade, destaca que o mercado reagiu bem em relação à quantidade de vagas e à taxa de desemprego, mas a renda real da população foi afetada pela alta dos preços. “A inflação está sendo a grande vilã. O crédito está caro, a inflação ainda está alta e o mercado de trabalho não reagiu suficientemente para compensar isso”, analisa.
De acordo com informações do Serasa, a inadimplência no país chegou a 68,42 milhões de brasileiros no início de 2022. O número se aproxima do recorde de inadimplentes da pandemia. Em abril de 2020, havia 65,9 milhões de endividados. O valor total de dívidas aumentou de R$ 258 bilhões para R$ 260,7 bilhões.
Impacto nas empresas
Ainda de acordo com o FGV Ibre, o aumento nos preços das matérias-primas e a dificuldade em ampliar as vendas de bens e serviços são apontados como os principais problemas para 47% das empresas brasileiras neste início de ano, aponta a Folha.
O quadro inflacionário afeta principalmente os setores de serviços, comércio, construção e indústria. Além disso, a dificuldade em aumentar as vendas foi apontada por 28% das empresas entrevistadas. Já a escassez de insumos, por 17%. Foram consultadas mais de 3,7 mil negócios de diferentes portes, no período de 3 a 26 de janeiro.
(*) Crédito da foto: AhmadArdity/Pixabay