De acordo com levantamento divulgado hoje (16) pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), uma em cada três famílias brasileiras possui dívidas em atraso. A alta da inflação é apontada como um dos principais fatores para que esses débitos não sejam liquidados em dia, revela a Folha de São Paulo.

O percentual de inadimplência chega a 58% nas famílias com renda de até R$ 2,1 mil. Naquelas com ganhos superiores a R$ 9,6 mil, esse número cai consideravelmente, atingindo apenas 10%.

Para a realização da pesquisa, foram consultados mais de 3,5 mil consumidores, no período entre 3 e 22 de janeiro. Na faixa de renda mais baixa, a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho é apontada como principal fator que leva à inadimplência. Já nos demais estratos sociais ouvidos na sondagem, a inflação ainda aparece como fator principal.

Se forem consideradas dívidas com 30 dias de atraso, a falta de pagamento atinge 21% das famílias. O resultado é a maior taxa já registrada nas sondagens do instituto desde 2012. Em 2018, por exemplo, esse percentual estava em 14%.

Agora, se analisarmos o crédito do sistema financeiro, que considera dívidas atrasadas há mais de 90 dias, a inadimplência fica em 17,5% na faixa de renda mais baixa, além de 1,8% na mais alta. “Houve aumento da desigualdade durante o ano de 2021. Houve interrupção do auxílio emergencial e há dificuldade de voltar ao mercado de trabalho. Além disso, o setor de serviços não voltou a contratar como esperávamos”, explica Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das sondagens do consumidor do FGV Ibre.

Auxílio Brasil

Ainda segundo Viviane, o pagamento do Auxílio Brasil ajudou a melhorar as expectativas da população mais pobre, mas não foi suficiente para organizar a vida financeira dessas famílias. Já Rodolpho Tobler, coordenador das sondagens do comércio e de investimentos da entidade, destaca que o mercado reagiu bem em relação à quantidade de vagas e à taxa de desemprego, mas a renda real da população foi afetada pela alta dos preços. “A inflação está sendo a grande vilã. O crédito está caro, a inflação ainda está alta e o mercado de trabalho não reagiu suficientemente para compensar isso”, analisa.

De acordo com informações do Serasa, a inadimplência no país chegou a 68,42 milhões de brasileiros no início de 2022. O número se aproxima do recorde de inadimplentes da pandemia. Em abril de 2020, havia 65,9 milhões de endividados. O valor total de dívidas aumentou de R$ 258 bilhões para R$ 260,7 bilhões.

Impacto nas empresas

Ainda de acordo com o FGV Ibre, o aumento nos preços das matérias-primas e a dificuldade em ampliar as vendas de bens e serviços são apontados como os principais problemas para 47% das empresas brasileiras neste início de ano, aponta a Folha.

O quadro inflacionário afeta principalmente os setores de serviços, comércio, construção e indústria. Além disso, a dificuldade em aumentar as vendas foi apontada por 28% das empresas entrevistadas. Já a escassez de insumos, por 17%. Foram consultadas mais de 3,7 mil negócios de diferentes portes, no período de 3 a 26 de janeiro.

(*) Crédito da foto: AhmadArdity/Pixabay