Muitas variantes (esperamos que não sejam de Covid) definirão como será o ano para a hotelaria. Além do cenário pandêmico, econômico e político, 2022 chega com mais um agravante: um número menor de feriados prolongados. Prato cheio para o segmento de lazer, que vem se destacando na retomada da crise, o calendário com poucos dias de folga deve redefinir as estratégias para o setor nos próximos meses.

Em 2022, dos nove feriados nacionais, o único prolongado é o de Páscoa, que começa na Sexta-feira da Paixão. Já entre os pontos facultativos está o Carnaval, comemorado de 28 de fevereiro a 1º de março. Quem folgar na Quarta-feira de Cinzas (2 de março), por exemplo, terá cinco dias para viajar. Corpus Christi também é um ponto facultativo celebrado na quinta-feira, dia 16 de junho, possibilitando uma emenda de quatro dias.

Perante um ano que tende a ter uma baixa temporada mais aguda, os empreendimentos precisam se preparar no que diz respeito às vendas, canais de distribuição, marketing e precificação. Apesar do calendário não parecer a favor, os hotéis podem se beneficiar com isso se bem alinhados estrategicamente.

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“Feriados no meio da semana têm impacto negativo, pois afetam feiras e planejamento de eventos, o que acaba resultando em um período morto para os hotéis de negócios. Já o lazer ainda é incerto, visto que, em anos pré-pandemia, o cenário não seria positivo e os empreendimentos tentariam compensar as perdas com outros segmentos. Como a realidade atual é híbrida, existe muito potencial para vender”, avalia Ricardo Souza, gerente de Novos Negócios da OTA Insight.

Com a adoção do home office, os feriados no meio da semana podem representar demandas aquecidas, mas a maneira como esse público vai se comportar ainda é uma incógnita. Dito isto, Souza afirma que o melhor a se fazer é criar pacotes com preços agressivos de quarta-feira a domingo. “Os mais antenados devem fazer e vão gerar bons resultados”, acrescenta.

No segmento de resorts, talvez o mais beneficiado por emendas e feriados prolongados, as demandas são definidas por dois públicos: lazer e eventos. Reforçando a fala de Souza, Ana Biselli Aidar, presidente da Resorts Brasil, explica que as propriedades podem optar pela captação de ações corporativas nos períodos de baixa, uma vez que muitas iniciativas foram adiadas por conta da pandemia.

“Temos muitos eventos em estoque para acontecer e é um segmento importante para os resorts. Outro movimento interessante são pessoas trabalhando remoto, pelo menos parcialmente. Isso dá flexibilidade para as famílias fazerem seus próprios feriados. O que pode dificultar é a volta às aulas presenciais. Uma opção é focar em casais e famílias com crianças pequenas”, recomenda a executiva.

feriados - ana biselli

Ana: resorts devem mirar outros segmentos além do lazer

Procura por hospedagens

Por enquanto, a procura por hospedagens não consolidou nenhum impacto significativo. Pelo menos é o que Daniel Topper, CEO do Zarpo, compartilhou com a nossa reportagem. “Tivemos um ótimo último trimestre em 2021, com muitas reservas para os primeiros meses do ano. Janeiro foi afetado pela nova variante, mas quando olhamos para as pesquisas, observamos uma continuidade de crescimento”, revela.

Topper é mais um dos profissionais que acredita que os novos modelos de trabalho serão a balança da compensação para o setor, assim como o avanço da vacinação. “Vamos continuar a ter flexibilidade, principalmente com viagens para o interior, last minute e de carro”.

A janela de compras também passou por uma verdadeira montanha-russa. Se antes o padrão era entre 40 e 50 dias para férias e feriados, em 2020 o tempo subiu para 100 dias. “Percebemos turistas planejando viagens com cinco meses de antecedência, esperando um momento mais favorável. Hoje, voltamos aos patamares pré-pandêmicos, entre 50 e 60 dias”, explica o CEO do Zarpo.

Até o momento, destinos como Salvador, Porto Seguro e interior de São Paulo estão entre os mais procurados por usuários da plataforma. Quanto ao tempo de estada, a média é entre quatro e cinco diárias. “Não houve nenhuma mudança gritante. Temos o perfil que vai durante o fim de semana e o que fica entre quinta e segunda-feira. Para aqueles que viajam de férias, a média de tempo pode chegar a oito diárias”, revela Topper.

Em contrapartida, a Zarpo observou aumento significativo do ticket médio tanto do aéreo, quanto do setor de hospedagens. Topper afirma que vem negociando tarifas mais atrativas com parceiros para manter a demanda elevada. “O impacto da malha aérea, inflação de alimentos e custos impulsionaram esses aumentos. Os hotéis que mais subiram seus preços são de categorias superiores”, destaca.

feriados - ricardo souza

Souza: hotéis devem responder às demandas com preço

O protagonismo do RM

Com tantas ondulações de demanda, o RM (Revenue Management) ganhou maior protagonismo. Souza pontua que o departamento, dependendo do perfil da propriedade, atua de maneiras distintas. “O lazer vai continuar captando boas semanas em fevereiro e março, ainda mais com a temporada de cruzeiros cancelada. É um bom momento para formar pacotes que adicionem valor agregado como alternativa para elevar os preços”.

Em outros períodos do ano, como julho, o gerente da OTA Insight destaca que o posicionamento do produto é importante. “O RM tem que ter confiança na capacidade de atrair demanda. E se há procura em alta escala, o hotel precisa responder a isso com aumento de tarifas”.

No segmento de resorts, Ana afirma que os empreendimentos foram cautelosos nos últimos anos em termos de preços, com impactos relevantes de inflação nos custos. Para 2022, ela prevê que o cenário não será diferente. “Estamos cuidando da precificação, mas ainda sem conseguir repassar despesas. É preciso ter uma gestão competente para ter controle e boa aceitação do público. A tendência comparada com os anos anteriores e sazonalidade é de uma diária média mais elevada, mas é necessário olhar para outros setores e trabalhar o RM em diferentes frentes”.

Entre os associados da Resorts Brasil, a presidente destaca que a entidade vem reforçando a importância da RM para trabalhar a otimização da receita e elevar as ocupações por meio de ações promocionais.

Na Aviva, os setores de RM e Vendas andam lado a lado para manter as tarifas em equilíbrio. De cara, temos um efeito relevante na inflação de dois dígitos, que dificilmente a hotelaria consegue absorver. “Aumentar os preços, rever estratégia de flutuação tarifária e mix de canais de distribuição são tarefas básicas que as as duas áreas deverão perseguir. Neste cenário de incertezas o erro é inevitável. A questão é a velocidade do aprendizado e ajuste de rota, por isso adotar medidas de testes é fundamental”, avalia Miguel Diniz, gerente de Marketing e Vendas.

A detentora dos resorts Costa do Sauípe e Rio Quente salienta as mudanças estratégicas nas tomadas de decisão, com reformulações constantes em suas bases de preços. “RM é a área que decodifica os dados e transforma em decisões que afetam diretamente o resultado. Neste momento de incertezas, o desafio desta área foi elevado à máxima potência, pois dados históricos já não eram suficientes para projeções. Está sendo um aprendizado diário na reformulação das análises e como tomamos as decisões”, diz o gerente.

feriados - miguel diniz

Diniz: Aviva aposta em programações temáticas

Ações promocionais e datas comemorativas

No ano passado, a Aviva faturou R$ 60 milhões em uma Black Friday histórica. Sabendo do desafio adicional em 2022, a empresa foca seus esforços em períodos promocionais importantes na geração de demandas, mirando clientes mais sensíveis aos preços. “ Mas para a hotelaria, as ofertas e grandes níveis de desconto serão mais restritos, sobretudo pela pressão inflacionária e uma demanda futura que ainda não experimentamos por completo”, pontua Diniz.

Para os próximos meses, a Aviva definiu seu calendário de ações com meses temáticos. O grupo busca adaptar suas ofertas, investindo na estratégia batizada de “Entretenimento Total”. “São 365 dias de programações especiais, divididas em temáticas próprias ao longo do ano. Em 2021 já operamos todos os temas e para este ano esperamos consolidar este calendário, que tem se tornado um dos principais diferenciais dos destinos, com potencial de geração de demanda para o ano inteiro, amenizando assim os efeitos da baixa temporada”, complementa o gerente.

A Resorts Brasil promoveu a primeira edição da Resort Week, com a participação de 23 associados localizados em cinco regiões do país em uma ação que trouxe bons resultados. “Ficamos muito satisfeitos e conseguimos uma boa movimentação. Infelizmente, a ação foi próxima a Black Friday, então não conseguimos aproveitar tanto. Em 2022, teremos duas edições, uma no primeiro semestre e outra no segundo. Enxergamos como uma ação relevante para divulgar o segmento e elevar o consumo”, conclui Ana.

(*) Crédito da capa: webandi/Pixabay

(**) Crédito das fotos: Divulgação

(***) Crédito do calendário: reprodução/Melhores Destinos