Ao longo do ano passado, o Expedia Group consolidou sua recuperação apoiado na força do mercado doméstico dos Estados Unidos. Com as viagens internacionais ainda restritas na Europa, descolou-se do ritmo de retomada do principal concorrente para fechar o quarto trimestre de 2021 com volume de Ebtida recorde e níveis pré-pandemia cada vez mais próximos. E o Brasil? Qual foi sua margem de contribuição para resultados da OTA norte-americana?

Sim, apesar da situação socioeconômica diferente, Brasil e EUA têm em comum um gigante mercado doméstico de viagens a explorar. E tanto lá, como cá, a demanda correspondeu, revela Nuno Sales da Ponte, country manager do Expedia Group no país desde 2020. “Essa oportunidade em relação ao doméstico tinha sido identificada e aproveitamos aqui no Brasil também”, afirma o executivo, sem revelar números.

Segundo Ponte, dois fatores foram decisivos para permitir que essa recuperação ganhasse corpo também por aqui. Em primeiro lugar, usar a tecnologia para melhorar a capacidade analítica sobre o que estava acontecendo no mercado brasileiro. E, neste sentido, dados não faltam em uma OTA desse tamanho (que tem uma base de 145 milhões de consumidores cadastrados), certo?

“Com esses dados, pudemos identificar mudanças nos padrões de comportamento do consumidor e subsidiar nossos hotéis parceiros com informações relevantes, que os ajudaram na tomada de decisão”, explica Ponte. “Sabíamos que haveria uma demanda reprimida e conseguimos interpretar rápido o que os clientes estavam buscando. Isso permitiu aos nossos parceiros fazer pacotes mais competitivos, precificar melhor e, sobretudo, vender mais.”

Entre os muitos insights compartilhados com os hotéis ao longo do ano passado, Ponte destaca quatro:

  • Reservas last minute: o chamado book window no ano passado ficou encurtado em comparação com o período pré-pandemia. “Era uma realidade que praticamente não existia antes. Mostramos para nossos parceiros esse novo hábito do consumidor”, conta Ponte. “Ao mesmo tempo, já identificamos mudanças este ano. No Nordeste, essa janela aumentou, gradualmente retornando aos padrões pré-Covid, mas em grandes metrópoles o last minute continua forte”, acrescenta.
  • Demanda local: com as restrições impostas por prefeituras, muitos paulistas procuraram hotéis na própria cidade ou em municípios próximos, fenômeno repetido em muitas outras praças. “Durante meses, o sábado era o dia com maior crescimento de vendas no estado de São Paulo, por exemplo”, acrescenta Ponte.
  • Mobile first: segundo o executivo, a conversão via smartphones cresceu bastante no Brasil, fazendo a OTA rever sua estratégia. “A demanda por meio do mobile cresceu acima do esperado. Lançamos várias campanhas via Hotéis.com para estimular as vendas por esse dispositivo”, destaca Ponte.
  • Estadas mais longas: com o anywhere work virando realidade, muitas famílias conciliaram trabalho e lazer, ampliando o período de hospedagem. “Olhando a média geral do país, houve incremento para algo entre seis e sete noites”, revela Ponte. “Mesmo em São Paulo, onde a demanda corporativa prevalece, identificamos aumento.”

Para Ponte, apesar das mudanças de comportamento identificadas, um segundo fator foi fundamental para colocar tudo para funcionar. “Estar próximo dos nossos parceiros estratégicos, os hotéis. Sem trocar informações com eles ou sentir suas impressões do mercado, seria difícil implementar essas mudanças que identificamos para ofertar melhores opções para o consumidor final”, completa.

Novo cenário, mesmo approach

Expedia - entrevista Nuno Sales Da Ponte

Ponte: alta nas passagens ainda não alterou demanda no país

O ano de 2021 ficou para trás, a retomada continua, mas desafios insistem em ficar no horizonte da indústria de viagens. O do momento, e que afeta toda cadeia do setor, é a alta do preço barril do petróleo em função da Guerra na Ucrânia, o que levou à elevação das passagens aéreas recentemente. Segundo o country manager, a OTA ainda não identificou queda representativa na demanda.

“O viajante está cada vez mais atento e percebe essas situações”, afirma Ponte, indicando que a conjuntura atual pode acelerar a volta ao book window mais longo do período pré-pandemia. “Agora, sim, é provável que haja um impacto a partir da alta das passagens, mas reitero que não estamos vendo nenhuma tendência significativa até este momento”, completa.

Ele acrescenta que, mesmo diante desse cenário momentâneo, o Expedia Group segue apostando no turismo internacional. “Até porque, neste momento, também vemos o real subir frente ao dólar. Seguimos otimistas com 2022, mais ainda porque temos convicção que o turismo doméstico não vai parar no Brasil”, acrescenta.

Então, para aproveitar essa boa perspectiva, a OTA norte-americana segue investindo no que faz de melhor: entregar uma boa experiência de compra. “Não vamos nunca parar de tentar dinamizar ao máximo nossa plataforma, mas a transformação do nosso programa de loyalty é nossa grande aposta”, afirma Ponte, lembrando que o grupo unificou os programas de todas as suas marcas no ano passado.

(*) Crédito da capa: tookapic/Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/Grupo Expedia