Mônica Paixão era gerente de Recepção no Le Meridien Copacabana, em 1997, quando conheceu Marcos Motta. O profissional, que acabara de voltar de um intercâmbio e estudava Economia, atuava como concierge do empreendimento (atual Hilton Copacabana). Hoje, os dois trabalham lado a lado no Le Canton Resort e nutrem uma parceria construída ao longo de quase 25 anos. A trajetória dos dois é um exemplo, entre tantos, de relações entre ex-chefes e colaboradores que se transformam com o tempo e florescem em novas oportunidades.

Como analisamos em uma matéria anterior, manter bons relacionamentos profissionais faz parte de uma carreira bem-sucedida. Em um setor com alto índice de turnover, como é o caso da hotelaria, construir relações de confiança, respeito e ética é fator chave para abrir portas no futuro.

Parcerias como a da diretora geral e do gerente de Vendas e Marketing do Le Canton reforçam como convivências significativas podem trazer bons frutos. Mônica e Marcos trabalharam juntos no Le Meridien até o ano 2000, quando ela foi convidada a abrir o Ipanema Plaza, onde permaneceu por 12 anos.

“Os investidores me deram carta branca para montar o time do hotel. Levei algumas pessoas que trabalharam comigo e o Marcos foi uma delas. Na época, precisávamos de um gerente de Recepção e, como ele tinha experiência no setor no Le Meridien, assumiu o cargo”, relembra Mônica. “No Ipanema Plaza, ele foi uma peça super importante. Implementamos tudo do zero e o desafio foi enorme, mas ele vestiu a camisa”, acrescenta.

Após mais quatro anos atuando juntos, Motta migrou para o Marina Palace. Mônica, por sua vez, assumiu um novo desafio no Hotel Santa Teresa. “Estava em busca de novas oportunidades de crescimento na carreira. Quando o Marina foi vendido, em 2017, respondia como diretor de Vendas e Marketing, enquanto a Mônica já estava no Le Canton”, relembra Motta, um dos finalistas do Prêmio VIHP 2021, na categoria Gerência de Marketing.

Com uma vaga temporária aberta no departamento Comercial do resort, os profissionais voltaram a se reencontrar. “Ele entrou para cobrir uma licença maternidade, mas deu muito certo e acabou ficando. Desde que nos conhecemos, em 1997, nossa relação acabou se tornando uma grande amizade”, reconhece a diretora.

Mônica Paixão (à esq) e Marcos Motta (à dir), no Le Meridien, em 97

Caminhos diferentes, amizade mútua

Roberta Oncken tinha apenas 19 anos quando ingressou como estagiária na Howarth Consulting, empresa na qual Ricardo Mader respondia como sócio-diretor. À época, ainda uma estudante de Hotelaria, ela atuou durante três meses na companhia até ingressar – também como estagiária – no antigo Sheraton Mofarrej.

“Gostamos muito da Roberta, mas sabia que era importante para ela ter outras experiências profissionais. Combinamos de manter trabalhos paralelos na Howarth enquanto ela estagiava em hotelaria”, relembra Mader.

Com o ciclo de estágios completo, Roberta retornou a Howarth para atuar como consultora. “Com a ajuda dele, consegui trabalhar durante seis meses no escritório da empresa em Miami. Começamos nossa relação profissional em 1993 e trabalhamos juntos até 2007”, comenta Roberta.

Em 2001, Mader deixou a Howarth para abrir sua própria consultoria de hotéis, a HIA. E, claro, Roberta foi junto. “Ela ficou conosco até surgir a oportunidade de atuar em um de nossos clientes, a Invest Tour. Em 2008, a JLL fez uma oferta para comprar a HIA e seguir no time deles”, complementa. “Quando já estava na empresa, voltamos a trabalhar juntos”, acrescenta.

Trabalhando lado a lado novamente, desta vez na JLL, o ciclo profissional de Mader e Roberta chegou ao fim em 2015. “Casei-me com um americano e decidimos nos mudar para os EUA. Por sorte, consegui uma transferência para o escritório em Miami e, hoje, respondo como vice-presidente de Valuation Advisory  da JLL nos EUA, em Atlanta”, acrescenta Roberta.

ex-chefes - roberta e mader

Roberta e Mader durante um evento em Lima, no Peru

Admiração recíproca

A formação em Economia foi um dos pontos em comum que aproximou Marcos e Mônica, mas foi a admiração mútua e a confiança que solidificaram a relação. “Ela é uma liderança democrática, acolhedora, que sabe ouvir. Mesmo sendo uma profissional exigente, construímos um relacionamento saudável e de respeito”, declara Motta.

Mesmo nos períodos em que estiveram longe, os dois mantiveram contato, com Mônica atuando como uma espécie de coach. “Ele sempre me consultava para pedir orientação. Isso demonstra que criamos uma relação de confiança. O Marcos é uma pessoa que tenho prazer em trabalhar, além de ser competente e comprometido. Isso não tem preço. Em qualquer relação, a confiança e fidelidade precisam ser mútuas. É algo que nos fortalece e fortifica também a empresa”, avalia a diretora do Le Canton.

Mader e Roberta também continuaram se ajudando profissionalmente. Em quase 30 anos de trabalho juntos, ambos se incentivaram a crescer na carreira. “A Roberta me motivou a fazer cursos na Cornell University e, durante quatro anos, estudamos juntos durante o verão americano. Mantemos contato, trocamos ideias e aprendemos muito um com o outro. É uma via de mão dupla”, afirma o diretor da JLL.

A abertura e a escuta também foram características que Roberta destaca ao falar do ex-chefe. “Ele sempre me motivou a participar, a ter voz e crescer. Sempre que podia, o Mader me levava junto em reuniões para estar perto do cliente. Ter essa inclusão foi essencial. O profissional júnior precisa estar junto de quem sabe. É assim que se aprende. E ele sempre dedicou tempo a me ensinar”.

E, como toda a relação, nem tudo são flores. Mônica afirma que durante esses anos, algumas divergências aconteceram, mas que o respeito sempre prevaleceu entre eles. “O Marcos amadureceu muito. É claro que, eventualmente, discussões acontecem, mas sempre nos preservamos. Ele expressa a opinião dele e eu a minha, mas com respeito pela história que construímos. Sabemos como abordar um ao outro, e isso é essencial”.

As histórias são diferentes, mas a conclusão é a mesma: por mais que as relações entre ex-chefes (ou atuais) sejam vistas apenas como profissionais, com respeito, admiração e competência, portas e janelas sempre estarão abertas para aqueles que sabem reconhecer o valor que o outro carrega.

“É fundamental manter bons relacionamentos. Na vida, o que vai ditar o futuro é o nosso nome, nossas referências e histórias de sucesso. Pessoas que te ensinam e aprendem com você. Também construí ótimas relações com meus ex-gerentes e sou muito grata por isso”, reflete Mônica.

“Tenho vários casos de pessoas que levei comigo em minha trajetória profissional. É uma questão de conhecer, dar espaço para o outro se manifestar e seguir em frente juntos. Assim, se cria uma relação de honestidade e confiança”, finaliza Mader.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito das fotos: arquivo pessoal