Não é de hoje que órgãos públicos vêm firmando parcerias com o Airbnb, considerada uma pedra no sapato dos hotéis. Em fevereiro deste ano, a Emprotur (Empresa Potiguar de Promoção Turística) anunciou um acordo de cooperação técnica, focado em compartilhamento de dados com a plataforma digital. Agora, a prefeitura do Rio de Janeiro pegou o mesmo caminho, iniciativa considerada injusta por entidades hoteleiras.

Segundo divulgado pelo jornal O Globo, a parceria visa estimular a retomada do turismo pós-pandemia. O acordo não envolve investimentos por parte da prefeitura, mas prevê a promoção do destino na plataforma por meio de campanhas segmentadas em nível nacional e internacional.

Seguindo a mesma linha do acordo com a Emprotur, o Airbnb disponibilizará dados e análises coletados em pesquisas com hóspedes realizadas na plataforma. As informações trazem insights sobre preferências de turistas, origem, perfil, datas buscadas e bairros mais procurados.

Em entrevista ao jornal, Chris Lehane, vice-presidente de Política Global do Airbnb ressalta a alta procura pela Cidade Maravilhosa. “O Rio e o Brasil estão no topo da lista de desejo das pessoas quando a vacinação estiver mais avançada”, diz. “As pessoas estão vivendo, trabalhando e viajando ao mesmo tempo, e se hospedar em uma casa, próximo da natureza, virou uma opção segura. Um acordo semelhante será firmado também com o governo do Ceará”, complementa.

Airbnb - manoel linhares

                                 Linhares: setor recebeu a notícia com surpresa

Airbnb: a visão da hotelaria

Logo após o anúncio da parceria, a ABIH-Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) divulgou uma nota de repúdio sobre o acordo. No texto, a entidade alega que a prefeitura do Rio ignora o setor hoteleiro “ao firmar uma parceria pública com uma empresa que não contribui formalmente com o crescimento econômico do Rio de Janeiro”.

Em contato com a reportagem do Hotelier News, Manoel Linhares, presidente da ABIH, salienta que o setor não tem nada contra a plataforma digital, mas afirma que o anúncio pegou a hotelaria de surpresa. “Os hoteleiros estão tentando sobreviver e quando chega uma notícia sobre uma parceria dessas é um balde de água fria”.

Linhares acrescenta que a hotelaria contribuiu com a economia com pagamento de impostos e geração de empregos. “No Rio de Janeiro, oito hotéis fecharam. A hotelaria emprega direta e indiretamente mais de 1 milhão de pessoas, acima até mesmo da indústria automotiva. Estamos passando por um momento difícil, com baixas ocupações e custos elevados e isso precisa ser levado em consideração. Exigimos igualdade tributária”.

O presidente da entidade ainda lembra que a comercialização de apartamentos não contribui com o ISS (Imposto sobre Serviços), não paga cotas residenciais de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e nem gera empregos formais.

“Já que a prefeitura está priorizando as hospedagens por plataforma para sair da crise, nada mais justo que as exigências legais sigam os mesmos parâmetros exigidos aos hotéis. Outra alternativa é a prefeitura agir como facilitadora para a conversão dos hotéis em residenciais com serviços, dando uma alternativa aos empresários que estão vendo seus negócios se dissolverem”, ressalta Linhares.

Alfredo Lopes, presidente da Hotéis Rio, complementa dizendo que, ao contrário dos hotéis, os imóveis comercializados no Airbnb não garantem a segurança sanitária necessária. “Não existe um controle. Durante a pandemia, não existe a segurança da desinfecção das unidades, enquanto empreendimentos hoteleiros trabalham com uma série de protocolos e exigências”.

Lopes ainda pontua que não há fiscalização das atividades realizadas por clientes durante as estadas nos imóveis. “Qualquer plataforma gera esse descontrole. Em um hotel, um menor não pode entrar desacompanhado. Se alguém aluga um apartamento, não tem como saber se ali não está funcionando um local para tráfico de drogas, jogo, sexo contra menores entre outras atividades ilegais. É uma injustiça com a hotelaria que movimentou bilhões e agora amarga 15% de ocupação”.

(*) Crédito da capa:Unsplash

(**) Crédito das fotos: Divulgação